“Foi quando o pastor adulterou, e a igreja teve seu fim...”
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Zé Luís
Sim. Ouvi essa frase - ou equivalentes – mais vezes do que gostaria.
Fazia parte de uma história triste, contando sobre o líder de uma comunidade cristã – dita protestante(?), mais comumente chamada evangélica – e de como aquele que deveria ser exemplo de inerrância falhou vergonhosamente diante de seu rebanho, ao ter relações fora de seu casamento.
Já ouvi pessoas contarem com entonações trágicas, infelizes e algumas, com pitadas de certo prazer, como se o êxito daquele pastor fosse invalidado por causa do flagrante ato hediondo. No fundo, havia pitadas de inveja enrustida e óbvia, da parte dos medíocres quando veem com incontida satisfação um colega com talento para arrebanhar almas, cair diante de um pecado não aceito.
Pode parecer absurdo, mas a mentira, a soberba, a inveja, a gula, a ganância, tudo isso é amplamente aceito entre os ditos cristãos da atualidade, enquanto a luxuria derruba ministérios entre nós, ditos evangélicos tupiniquins. Um narcisista, um perfeccionista, um homem que mente descaradamente e deturpa a Palavra em nome do progresso do Reino, tudo isso é bem aceito, e até tido atualmente como saudável prática administrativa. Nenhum ministério cai por conta disso.
A inveja, que se aproveita como carniceira da queda alheia também é vista como natural entre os que se dizem discípulos do Cristo, sem se dar conta que esse pecado é mais hediondo do que aquele considerado caído.
A ira, hoje em dia tão comum entre tantos pregadores, apologetas da fé e das teorias - não teologias – sobre versículos foras de contexto que justificam seus interesses pessoais e tantas vezes mesquinhos. Nunca, jamais, é tido como razão de baixar as portas de uma igreja.
Viver para o próprio ventre, sempre buscando apenas para si mesmo, essa glutonaria da alma, que combinada a avareza, lota esses salões de gente a procura de seu bilhete premiado do céu. Gente avarenta que só doa com a promessa de receber com juros, gente apaixonada por ter ao invés de ser, dizendo “Senhor, Senhor” mas sem parte nenhuma com Ele, povo preguiçoso que pede forças para poder folgar sobre os outros.
São medíocres por conta de sua preguiça de buscar a mente sadia que há no Espírito. Outro pecado capital, que desperta, no máximo, sorrisinhos complacentes entre os companheiros de caminhada ministerial.
Não me interessa aqui justificar erros alheios, meu Mestre já o faz na cruz em que verteu seu sangue.
Olham-me com estranheza quando vejo na igreja a possibilidade de irmandade, ter o carinho sadio que tenho por meus irmãos de sangue, e não de chamar irmão por ser costume entre crentes que esqueceram o nome do bendito cidadão que senta ao seu lado há anos e ninguém se dá ao trabalho de perguntar. Dessa forma, pode alguma alma compartilhar sua vida e confessar seus pecados uns aos outros?
São tempos confusos, não só para mim, mas para um povo que escolheu códigos morais convenientes às necessidades de sociedades injustas, e encaixa neles retalhos bíblicos para que pareçam inquestionáveis. Enquanto isso, a Igreja momentaneamente desaparece, para ressurgir em algum ponto de outro deserto, para que volte a ser sal da terra, luz do mundo, abrigo de pecadores sedentos de perdão e tão imperfeitos quanto qualquer um. Naquele dia, como vem sendo nos séculos dos séculos, se abraçarão em lágrimas, celebrando a liberdade da culpa que seus erros esmagavam.
Lá, o Cristo será desejável, e os pecados voltarão a não ser um recurso, uma moeda de medo, algo a ser usado por “companheiros de ministério” para impedir que um “templo” arrebanhe mais que outro.
Utopia? Chamaria isso de Igreja.
O Zé, "das vez", colabora com o Genizah