O evangelho do Gentileza
https://genizah-virtual.blogspot.com/2012/02/o-evangelho-do-gentileza.html
“Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca [...]
Por isso eu pergunto
A você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria?”
(Marisa Monte)
Bráulia Ribeiro
À
medida que o Brasil vai se tornando mais evangélico observamos as
marcas culturais do evangelicalismo se misturarem à cultura popular e
vice-versa. Missiólogos discutem a influência da cultura nos diversos
modelos de evangelho que temos pelo mundo usando dois conceitos,
contextualização e sincretismo.
Entende-se por
contextualização a expressão do conceito novo -- a revelação do
evangelho -- por meio de formas antigas e facilmente reconhecíveis pelo
povo. O conhecido se torna a expressão do novo. Já o sincretismo trata
de uma mistura promíscua, indesejada, das novas formas com conceitos
antigos. É a revitalização do erro, que se veste com uma fantasia
brilhante e aparentemente nova.
O evangelho no Brasil -- e, acredito, em muitos outros lugares -- se acultura de modo contextualizado e sincrético ao mesmo tempo. Para se discernir entre pureza e corrupção o trabalho é árduo, mas a discussão destes caminhos é hoje essencial para a saúde da igreja. Apenas o Espírito Santo e a Bíblia podem nos tirar do limbo de um semievangelho, que se torna inócuo por ser equivalente.
Atualmente existe uma guerra entre
os evangélicos no Brasil que nada tem de santa. É uma releitura
cultural da velha disputa de classes. Apesar de não termos uma cultura
de castas, como na Índia, nossa tradição social, baseada em origem e
poder econômico, é marcada pela exclusão de grupos sociais. Nos tempos
coloniais, a família, o grau de proximidade da nobreza portuguesa, a cor
da pele faziam a diferença. Hoje a subcultura à qual pertencemos, a
linguagem que falamos, a música que ouvimos revelam o poder
socioeconômico que temos.
As várias versões evangélicas
atendem a subgrupos culturais diferentes e fazem concessões teológicas
de acordo com a necessidade de cada um deles. O evangelho intelectual
das classes dominantes requer uma lógica que se conforme ao discurso
pós-moderno. O Deus tribal dos hebreus se transforma em uma força de
amor despersonalizada e universalizante. Seguindo o exemplo da Europa
multiculturalista, o evangelho palatável à “intelligentsia” tem que
relativizar verdades. Não existe adaptação sem comprometimentos. A
moralidade bíblica é um peso muito grande a ser carregado. Existe uma
proposta de amor no evangelho, mas se exige para esta uma síntese
hegueliana. Qualquer maneira de amar vale a pena, qualquer moralidade me
diverte, desde que me satisfaça.
O evangelho das massas
populares é simples: a entidade divina se tribaliza. Como qualquer
proposta animista, o Deus tribal é pesado em suas demandas tributárias,
requer riquezas em profusão e obediência cega às autoridades
sacerdotais. Ele tem necessidade de demonstrar seu poder em um jogo
intimidatório. As bênçãos são subornos e o Deus tribal dança conforme a
música do desenvolvimento econômico e distribui casas, carros zero e
cargos políticos, premiando a servidão de seus fiéis.
Nas
duas versões o evangelho de Cristo se torna “o evangelho do profeta
Gentileza”. O “amor” do Cristo folclórico não é amor, é entretenimento.
Ele é simplório e ridículo. Quem é mais inteligente, o homem ou a lei, o
livro ou a sabedoria? -- pergunta Gentileza. O homem, a sabedoria que
não está nos livros nem no Livro -- respondemos. E decidimos então
apontar as torres de nossas igrejas para o centro da sociedade
brasileira -- o homem cordial que a todos agrada. A cultura brasílica,
que não gosta de regras impostas, menospreza o Livro e reinventa em duas
versões um Deus sem leis e sem moral, que se ocupa de nos servir.
Concordo
com Marisa que a parede cinzenta é mais triste do que se permanecesse
pintada com os escritos coloridos do Gentileza. Contudo, não vamos
trazê-lo para as igrejas. É melhor deixá-lo nas ruas.
Bráulia Ribeiro colabora com o Genizah
Originalmente publicado em Ultimato
Sim, estamos vivendo um período de apostasia jamais visto antes. Por mais que se tente negar isso e afirmar que tudo está lindo e maravilhoso, os fatos e as contradições desmentem qualquer tergiversação.
ResponderExcluirÉ por isso que textos bíblicos como este são cada vez mais atuais: "Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema. Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo" (Gálatas 1:6-10).
Amados irmãos e colegas,
ResponderExcluirDe fato, o Evangelho e Livro, em geral, no momento e há um bom tempo, não são conhecidos no Brasil.
Pois são poucos ditos cristãos que, de fato, entendem a mensagem do Evangelho Bíblico (que é o básico do cristianismo!) e muito mais o restante do ensino bíblico.
Além de não compreenderem, muitos optam por pregar algo diferente, pois o Evangelho, assim como todo o restante da mensagem bíblica vão conta aquilo que o ser humano em geral considera mais importante: seu ego, suas vontades, etc...
Querem tratar de multidões de pessoas, mas não de indivíduos (a começar por si mesmos). E assim usufruir de todos "benefícios" terrenos que estas coisas trazem.
São poucos os que entendem e pregam o evangelho bíblico e a mensagem do Livro no Brasil. Por isso, o povo brasileiro precisa tanto de ser evangelizado de verdade.
E assim, Jesus Cristo se torna a pessoa de mais que se ouve falar, mas menos se conhece.
A Bíblia é o livro mais impresso e vendido, mas o menos lido.
Que Deus tenha misericórdia de nosso povo, em nome de Jesus.
Um forte abraço a todos,
Carlos Augusto Welte
O cenário atual do evangelicalismo não resulta, a meu ver, de contextualização ou influência das mudanças culturais ou do desenvolvimento econômico. Tomada a expressão "mundo" como sistema contrário aos princípios que Jesus, como encarnação de Deus, demontrou na prática, e que se resume no amor a Deus e ao próximo, pode-se concluir sem maiores dificuldades que o evangelho atual está muito mais inclinado para a carne do que para o Espírito. Vaidades, egoísmo, amor pelos bens materiais, hedonismo, etc, são frutos da influência do mundo (sistema). Creio que os fatores culturais, econômicos, etc, são meros agentes de inserção do mundo no meio evangélico.
ResponderExcluirComo disse o rei Salomão:"É tudo vaidade!", que nada mais é que a idolatria de si mesmo.
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