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Relevante para quem mesmo?

Digão

Todos nós queremos ser cristãos relevantes no meio em que vivemos. Este tema é muito buscado ultimamente. Mas, afinal de contas, o que é ser relevante, e para quem queremos sê-lo?

Segundo o Aurélio, relevante é aquilo que é necessário ou que importa, de grande valor, interesse, algo importante. 

- Hum, então queremos ter uma fé importante, necessária, de grande valor... será que, em nossa busca de significados nesta barafunda religiosa em que vivemos, não estamos criando mais um significado, digamos, irrelevante?

Para quem queremos ser necessários e de grande valor? Imagino que não deva ser para o mundo. Afinal, segundo nos dizem as Escrituras, ele nos odeia (Jo 15.18, 1 Jo 3.13). Além disso, amar o mundo é um princípio contrário ao princípio cristão de obediência a Deus (1 Jo 2.15-17). Mundo, aqui, obviamente não significa a criação ou a humanidade, e sim o sistema filosófico em que repousa o pensamento do homem moderno, sistema esse abraçado ardorosamente por muitos que se arrogam ministros de Deus.

Será que queremos ser necessários e importantes para Deus? Se esse for o motivo, então concordaremos com vários mantreiros que cantam que o Senhor pode contar com eles, que nunca falharão com Deus, e que estão aí para o que der e vier. Infelizmente este tipo de pensamento se esquece de grandes personagens bíblicos como Abraão, Jonas, Elias, Pedro. Esquecem-se também que a Palavra afirma que nossa natureza é totalmente corrompida e pecadora (Jr 17.9), e que o Senhor, conhecendo-nos de ponta a ponta (Sl 139.3), não Se engana conosco, mesmo porque, em Sua soberania, Ele conhece até mesmo um futuro ainda inexistente em nossa dimensão temporal, mas perfeitamente conhecido em Sua dimensão atemporal, ou eterna (Sl 139.4).

Portanto, ser relevante para o mundo significa embarcar em sua loucura afastada de Deus. Ser relevante para Deus, por outro lado, significa abandonar completamente a doutrina cristã da salvação pela graça e passar a crer na salvação pelas obras.

Resta-nos, portanto, ser relevantes para nós mesmos. Num misto de deslumbramento e pseudo-humildade, vemos vários pavões desfiando seu vasto conhecimento histórico-teológico, esquecendo-se que a ortodoxia sem a ortopraxia é uma forma encoberta e socialmente aceitável de violência e agressão, fazendo brotar aquilo que Rubem Alves apropriadamente denominou de protestantismo de reta doutrina. Além disso, Jesus mesmo mostrou que, acerca das relações humanas, o padrão na igreja é completamente oposto ao do mundo (Mt 20.20-28). Com isso, esses pavões apenas desnudam sua arrogância e presunção, ainda que mascaradas com uma fina camada de pretenso zelo bíblico.

Sendo assim, não quero ser relevante. Não quero ser importante. Prefiro minha irrelevância, tão carente e necessitada da graça e da presença de Deus. Prefiro ser um nada, e assim ter meu vazio preenchido com Sua presença, a ser alguém necessário e cheio de si mesmo.



Digão é irrelevante aqui no Genizah



Vida prática 3863153447644231102

Postar um comentário

  1. Boa reverendo Digão. O último parágrafo é prefeito. Creio que a única medida de nossa relevância é a identidade - quanto mais nos aproximamos da identidade de Cristo e nos afastamos da identidade do mundo é nessa hora que nosso cristianismo professo passa a ser vivido, e então faremos alguma diferença. Não sendo assim, a o ter relevância vira ter aparência diante do auditório... aí lascou de vez. Abraços, mano.

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  2. Desculpa Digão, mas esse seu texto é altamente relevante!!!

    Bela reflexão! Gostei muito!

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