O estupro do BIG BROTHER BRASIL

Danilo Fernandes

Hoje eu fiquei sabendo do presumido assalto sexual ocorrido no programa Big Brother Brasil. Uma informação que me tomou como um verdadeiro estupro cultural. Eu não sei se a moça foi, de fato, violentada, mas eu fui estuprado.

Pois foi exatamente assim que eu me senti: Violentado no meu direito de não querer participar deste lixo, de não ter isto na minha vida!

O acontecido é somente mais um absurdo entre tantos os que o programa já mostrou e, diga-se resultado esperado da mistura explosiva e maliciosamente preparada pelos produtores do programa à cada edição.

Quando algum evento absurdo não acontece (estupro, briga, sexo, nudez, permissividade, proclamação de valores sórdidos, baixaria generalizada, roubo, sordidez, traição, falta de caráter, preconceito, assalto aos valores da família, etc.) foi porque os produtores “erraram na mão” e não conseguiram atingir o intento pretendido na escolha dos participantes e das condições de convivência oferecidas a estes neste “zoológico” humano televisivo.

- Com todo o meu respeito aos animais que estão à exposição de sua intimidade por força de jaula e grade, não por fama e dinheiro. 

Eu não vejo o BBB, não me interesso por notícias sobre o programa e, me perdoem aos que venham a se ofender, desprezo profundamente quem deste programa participa ou assiste. Contudo, não pude escapar de ser torturado intelectual e moralmente por este excremento cultural. 

O monturo invadiu a minha vida e não foram pelas páginas dos jornais que eu ignorei; ou através dos telejornais que eu desliguei; nem por meio das estações de rádio que eu troquei; das conversas de rua que eu desviei; ou das paginas de internet que eu não visitei. Não. O BBB invadiu o meu espaço pelas mãos dos meus próprios irmãos em Cristo, muitos leitores do site que me abordaram, com insistência, querendo a minha opinião sobre o crime pretensamente ocorrido no reality show.

No Genizah, tratamos deste assunto poucas vezes. Ou melhor: companheiros colaboradores escreveram sobre o assunto. Eu escrevi um artigo em 2009 e depois não mais tratei do tema, exceto quando alterei, recentemente, o título da matéria de um famoso jornal,  dando conta que haveria na próxima edição do programa duas pessoas que se dizem evangélicas participando daquela boçalidade. E foi só. Um título jocoso e um pouco de sarcasmo. O assunto, para mim, estava encerrado ali. As tais evangélicas BBB  poderiam fazer o que fosse no confinamento do programa: ir para o edredom ou para o paredão. Eu não escreveria sobre o assunto. Nestas condições, aderidas a este mundanismo, não as considero irmãs em Cristo e não lhes estendo a destra e, portanto, não há mais o que dizer. Contudo, se houver quem se habilite, muito que bem, Genizah é democrático e os colaboradores escrevem (e assumem o que escrevem) neste espaço livre. Eu, Danilo,  estou fora do BBB.

Nunca gostei do programa. Sempre achei tudo aquilo degradante. Uma excrecência cultural que vive de promover a indignidade humana pela exposição forçada do que há de pior. 

Um desserviço de grosso calibre da TV Globo para com a arte, a música e a dramaturgia brasileiras e, em cuja décima segunda edição, já está a acabar com o crédito que esta produtora de conteúdo já teve um dia por suas incursões na promoção e apoio à arte nacional.

E, como vocês podem constatar, em meu julgamento nem foi necessário postular qualquer resquício de religiosidade ou apelo à santidade, muito embora, eu perceba claramente a ação do Espirito Santo em cada músculo, medula, osso do meu corpo a me fazer tremer de profundo nojo por tudo aquilo.

Dito isto...

Admito que assisti a apenas uns poucos episódios da primeira edição do programa, há treze anos passados. Por mera curiosidade, já que em viagem à Holanda em 97 pude ver o programa original e, enfim, fiquei instigado a assistir a versão brasileira. Naquele ano, eu era um novo convertido. Ainda vivia meus últimos dias como sócio de uma casa noturna famosa no Rio de Janeiro. Lembro-me que certa noite fizemos uma festa privada para uma importante personalidade da música brasileira e, na minha mesa, se sentou o saudoso Armando Nogueira, ex-diretor de jornalismo da Globo, já na época, no canal de esportes do conglomerado. Entre muita conversa, o assunto BBB veio à baila. Naquela semana, havia ocorrido o final da edição. Armando me falou como o tal programa era motivo de desconforto até mesmo entre diretores da TV Globo. Era uma decisão 100% financeira. Descompromissada com tudo o mais. Uma página triste na história da emissora. A Globo vivia um momento de transição quando a condução da emissora foi retirada da área de produção artística e jornalista e entregue a executivos, administradores.  Confesso que fiquei chocado ao ouvir aquilo. Nunca mais esqueci.

Ao assistir a um vídeo recente (acima) onde o famoso Boni, antigo dirigente máximo da TV Globo (Lugar-tenente da família Marinho, por décadas), deixa a sua impressão sobre o que ele acha do programa dirigido por seu próprio filho, o Boninho, fica desnudada a todos a triste realidade: O povo sempre ganha o que deseja quando o que está em jogo é o status de quem tem o poder nas mãos. Os imperadores de Roma já sabiam - “pão e circo”. O povo precisa de educação, mas circo e algum pão são a garantia de moto perpetuo para o ciclo da exploração. Então, tome circo! 

Os corpos não mais se dilaceram em jorros de sangue na arena poeirenta. Eles se exibem no chuveiro com câmeras ou se bronzeiam em trajes sumários na piscina global para  depois se lambuzarem sob os edredons entre ruídos abafados no pay-per-view. Os gritos da multidão foram substituídos pelos dedos aflitos no controle remoto e olhos sempre ávidos por mais uma espiadinha na intimidade alheia... E, a TV não os decepciona, a cada nova edição, a excentricidade é maior do outro lado da tela. Sai: Jorge Amado, Verísssimo, Cecília Meireles, Machado de Assis, Tom Jobin, Fernanda Montenegro... Entra: a futura piriguete na capa da Playboy, Jean Willys, etc.

Edir Macedo, em confidência à Caio Fábio também já deu a sua explicação para o seu próprio BBB, ops circo,  religioso: “Eu dou a eles a merd@ que eles querem., ou coisa assim.

O fato é que a maioria gosta mesmo é do pior. A maioria não é só burra. É porca, irresponsável, maliciosa, sórdida, etc... Perdida, em resumo.

Voltando ao passado, lá pelas tantas, naquela mesma noite, o maitre da casa me procura informando que estava à porta do restaurante –querendo entrar na festa, sem um convite– um “VIP”. Sendo uma festa privada, o funcionário sabia que ninguém estava autorizado a liberar a entrada de qualquer pessoa, VIP ou não, exceto com a aprovação dos donos ou do contratante da festa, obviamente. E como na naquela mesa estávamos dois dos sócios, Romário e Eu e mais o anfitrião, o promoter foi ali defender a causa de seu “VIP”, no caso: Kleber Ban-Ban.

Eu ri muito do relato que nos foi transmitido pelo promoter da casa que acompanhou o evento na portaria -um palhaço nato, que anos mais tarde iria mesmo se fazer um famoso comediante. Aparentemente, ao ser informado de que não poderia entrar, Ban-Ban disse: "Mas eu ganhei o BBB! Eu sou famoso!" e muito mais como nos foi contado! Kleber havia acreditado no conto de Cinderela global e agia como uma Odete Roitman na portaria da casa noturna - indignado de ter sido barrado, já havia tripudiado de diversos seguranças.

Confesso que fiquei com pena do camarada quando o dono da festa sussurrou ao maitre pedindo uma vassoura. Quando um garçom trouxe o objeto, o anfitrião a entregou ao promoter  e disse: Diga a ele que pode entrar, desde que dance com esta minha amiga aqui para gente ver.

Bom, quem viu esta edição do programa BBB entendeu a piada-provocação-desaforo. Já eu, em outros tempos, nova criatura, teria impedido a confusão que se formou depois... Mas isto é outra história.

Contudo, uma coisa não mudou. Continuo com total desprezo por tudo o que se refere a este programa.

Portanto, meus queridos leitores que me mandaram todo o tipo de aviso: eletrônico, fumaça, etc. me pedindo para comentar o tal “estupro no BBB”, considerem-se perdoados. Sei que a intenção de vocês não era me ofender com tal pedido. Mas, definitivamente, não vou meter as minhas mãos nesta privada.

Vocês sabem que eu encaro todas as roubadas e entro em qualquer fossa insalubre se a causa é nobre – isto é alertar e esclarecer o povo de Deus acerca de falsos ensinos e falsos profetas enganado os nossos irmãos-  e, para tanto, encaro ratos de esgoto do mais alto calibre. Mas o faço com um propósito e uma Direção.

E Deus me concede bom humor na tarefa, uma de Suas muitas misericórdias para comigo.

E sem nenhuma intenção de fazer qualquer compararação, pois eu sei que não sou digno sequer de beijar as suas sandálias católicas, a declaração da santa Madre Teresa de Calcutá me convém nesta hora: 

Conta-se que, certa vez, um empresário norte-americano visitou madre Teresa de Calcutá, na Índia. Ao vê-la cuidando dos leprosos, inclusive dando banho neles, disse:  - Madre, eu não faria isto que a senhora está fazendo nem por um milhão de dólares. Ao que a santa Teresa respondeu: -Nem eu, meu filho.

É isto. Há certas coisas que só o Amor pelo Senhor justifica. Tratar deste episódio maligno neste site não é uma destas oportunidades de servir. Quem assiste aquilo já escolheu o seu caminho e quem participa já serve a um senhor. Nada tenho o que dizer a estas pessoas. Se o faço, o estuprado fui eu. 

Eu escolhi não ser estuprado moralmente, culturalmente, intelectualmente e eticamente pela TV Globo e seu programa sórdido. Você deveria fazer o mesmo:

Expurgai o fermento velho, para que sejais massa nova, assim como sois sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado. 8 Pelo que celebremos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade. 9 Já por carta vos escrevi que não vos comunicásseis com os que se prostituem; 10 com isso não me referia à comunicação em geral com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. 11 Mas agora vos escrevo que não vos comuniqueis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal nem sequer comais. 12 Pois, que me importa julgar os que estão de fora? Não julgais vós os que estão de dentro? 13 Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai esse iníquo do meio de vós. 1 Coríntios 5:7-13

Genizah