Pastor diz: Deixa a Zona aberta! Prostitutas aplaudem a iniciativa do evangélico.
https://genizah-virtual.blogspot.com/2011/10/pastor-diz-deixa-zona-aberta.html
A notícia é daquelas que seguem o figurino tragicômico. No ringue, dois
evangélicos duelam pelo prêmio, que é o destino da zona de prostituição
em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, popularmente conhecida como "os
bregas". De um lado, o delegado evangélico que quer fechar o meretrício
para combater a insegurança. Do outro, o pastor que acabou de fundar uma
Igreja do Evangelho Quadrangular perto do brega da Cabeluda, que advoga
por manter a zona aberta porque "o evangelho deve ser pregado onde o
pecado está", um argumento - cá entre nós - forte e bíblico. No meio do
tiroteio gospel estão as prostitutas, temerosas do seu destino, como ele
já não fosse por si só difícil de encarar. A notícia é do Correio da Bahia
numa reportagem muito bem escrita (coisa rara hoje em dia) por Jorge
Gauthier, no melhor estilo do já antigo e esquecido "novo jornalismo"
de Gay Talese ("Gay" é o nome dele, gente!), que vale a pena ler de cabo
a rabo:
Polícia quer fechar tradicional rua de prostituição do Recôncavo baiano
A caça à Rua do Brega
Jorge Gauthier | Redação CORREIO
jorge.souza@redebahia.com.br
As paredes, mesmo sujas e com infiltração, guardam suas histórias. A
cerveja, mesmo servida em copos engordurados, está sempre gelada. As
mulheres, mesmo com os corpos castigados pela ação do tempo, exibem
curvas que atiçam a imaginação masculina. Nas vitrolas, serestas e
arrochas embalam os corpos nas camas, mesmo que velhas e sebosas. Mas a
libertinagem da Rua do Brega, em Cachoeira, no Recôncavo baiano, mesmo
tendo surgido há mais de 150 anos, está perto do fim.
Se depender do delegado da cidade, Laurindo Neto, evangélico, as três
casas da rua onde funcionam os prostíbulos serão fechadas nos próximos
meses. Segundo ele, não é por moralismo, mas por insegurança.
O delegado afirma que os prostíbulos servem como ponto de encontro para
traficantes. Inclusive, um dos clientes assíduos é Edmilson Bispo dos
Santos Júnior, o Júnior, 27 anos, fundador do Primeiro Comando do
Interior (PCI), facção inspirada no grupo criminoso paulista Primeiro
Comando da Capital (PCC).
“Vou entrar com representação na Justiça para fechar esses bregas, pois
eles servem de abrigo para traficantes. No entorno dessas casas de
brega circula todo tipo de delinquente”, justifica o delegado.
Prostitutas ouvidas pelo CORREIO, que preferiram não se identificar,
confirmaram que Júnior frequenta as casas. “E paga bem, viu! Tem vezes
que paga R$ 100”, contou uma das mulheres que já trabalha na rua há sete
anos.
A violência, no entanto, elas confirmam que é uma constante. “Aqui tem
muito vagabundo. Traficante? Tem às pencas, mas só vêm aqui para brincar
de ser feliz na cama com a gente”, destaca uma. O delegado contesta.
“Eles usam os bregas como esconderijo não é só pra sexo”, diz.
Temor
Vera Lúcia, 44 anos, conta que chegou na rua ainda menina e não vê futuro caso fechem seu negócio. “Sou puta e com muito orgulho. Tem 29 anos que vendo meu corpo nessa rua. Se fechar o brega eu vou pra onde? Para a casa do delegado?”, brinca.
Vera Lúcia, 44 anos, conta que chegou na rua ainda menina e não vê futuro caso fechem seu negócio. “Sou puta e com muito orgulho. Tem 29 anos que vendo meu corpo nessa rua. Se fechar o brega eu vou pra onde? Para a casa do delegado?”, brinca.
A irreverente Verinha, como é conhecida, chegou na rua quando a
quantidade de bregas era bem maior do que as três atuais - o brega de
Cabeluda, o Point das Morenas e a Casa Rosa.
“Há 20 anos tinha mais casa de brega nessa rua do que gente. Hoje, tem
muito menos gente, mas essa rua sempre vai ser o lugar da putaria nessa
cidade. Se fechar os bregas, o povo vai fazer sexo em todo lugar”, conta
Verinha, que aos 14 anos abandonou a casa da família, em Maragogipe,
para se prostituir nos bregas de Cachoeira.
Poder de Deus
E não são só as prostitutas que não querem o fechamento dos bregas. O
pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular, Jailton Santos, que há três
meses fundou a igreja evangélica ao lado do brega de Cabeluda, um dos
mais antigos da cidade, defende que os prostíbulos permaneçam
funcionando.
“O ensinamento divino é que se pregue a palavra de Deus onde o pecado
está e por esse motivo preferimos que os bregas continuem abertos para
que essas mulheres tenham a chance de encontrar o conforto na palavra de
Deus”, defende o pastor, que trabalha como operário da construção civil
em Cachoeira.
Para o delegado, o fechamento dos bregas é necessário. “Júnior e seus
comparsas usam essas casas de brega com regularidade. Manter esses
bregas abertos é facilitar a ação do crime na nossa cidade. Quem quiser
fazer sacanagem vai ter que ir para outra cidade”. O pastor acredita
que, caso os bregas sejam fechados, o ‘poder do evangelho’ vai se
enfraquecer. “Temos a intenção de estar onde as pessoas que precisam de
ajuda estão. Por isso, resolvemos abrir a igreja na rua onde estão os
bregas da cidade”.
Tempos Áureos
Natural do Ceará, uma das prostitutas que trabalha na Rua do Brega, já
está no local desde a década de 90. “Vim aqui por causa da fama, mas nos
últimos anos caiu muito. Mesmo assim ainda vale a pena trabalhar aqui.
Tirando essa onda de violência, o lugar é muito tranquilo. A gente
respira um ar que é único nesse mundo. O clima de sexo aqui tem outro
sabor”, relata a prostituta, entre um cigarro e um gole na cerveja
gelada.
Frequentador assíduo da casa, o comerciante J.S., 64 anos, teve sua
primeira relação na Rua do Brega - e muitas outras depois. Para ele,
fechar os bregas é acabar com a alegria. “Metade dos homens de
Cachoeira conheceu o prazer nessa rua. Se os paralelepípedos e as
paredes dessas casas falassem o nome de cada pessoa que já transou aqui
...Ah, o mundo ia ficar surdo”, brinca.
Religiosa, a dona de casa Elisabete Lima de Jesus, que é moradora na rua
há mais de 50 anos, atualmente é vizinha da igreja e dos prostíbulos.
Ela conta que muita coisa mudou na rua ao longo dos anos.
Meu filho, isso aqui era um celeiro de mulher da vida. Todas vinham pra
cá aprender como fazer as coisas. Hoje tem muito menos. Aqui na rua
agora tem muita casa de família. Por mim, pode ficar tudo aí. Acho até
que diverte por causa da música que eles tocam”, comenta.
artimanhas Uma relação sexual na Rua do Brega tem preço: R$ 40. O valor,
segundo as profissionais do sexo, inclui todas (e mais variadas)
posições sexuais. “R$ 10 a menina paga pelo aluguel do quarto.
O programa depende muito de duração. Se a menina souber mexer faz o cara
se aliviar em cindo minutos. Daí acaba e está pronta para outra. Cada
menina, no final de semana chega a ter uns 4 a 5 clientes”, conta a
gerente de uma das casas.
Durante a semana, o movimento é escasso. “Vem os meninos das escolas,
marido que não tem alegria do bate coxa em casa. Entregadores de
bebidas, que vêm abastecer a casa e também se abastecem com a gente”,
comenta uma prostituta natural do Piauí que trabalha na Rua da Brega há
três meses.
Em poucos minutos de conversa, enquanto bebericam dos copos de clientes
nos salões dos bregas à meia luz, as mulheres contam as mais variadas
estratégias para satisfazer o cliente. Infelizmente, a maioria tem
palavras impublicáveis. Mas, elas afirmam que o prazer é garantido.
Policial aposentado manteve brega na rua por 30 anos
Quando se aposentou da Polícia Militar, há 35 anos, o sargento Eduardo
Conceição resolveu abrir um brega em Cachoeira, que virou um dos mais
tradicionais redutos do sexo na cidade. “Chegou épocas de ter 12 meninas
trabalhando aqui”. Hoje, Eduardo mantém apenas um bar na rua.
Decidiu fechar o brega e vender o imóvel para “descansar da agonia de
muita mulher falando ao mesmo tempo”. Na casa de paredes verdes, cheia
de equipamentos eletrônicos, Eduardo abrigou muitos sonhos de mulheres
que abandonaram as famílias para viver do sexo. “Já vi muito sofrimento
nessa rua. Mulher sendo espancada por marido que descobriu que ela fazia
vida. No brega tudo é mais difícil”.
Simpático com a parca freguesia, Eduardo se orgulha dos tempos de Rua do
Brega. “Lembro do dia que cheguei aqui pela primeira vez. Me encantei
com as luzes, o som e o cheiro das putas perfumadas. Aquilo me
encantou”, lembra.
Vocação centenária para prostituição na rua
Nem os carteiros de Cachoeira lembram com facilidade o real nome da Rua
do Brega. Registrada como rua Sete de Setembro, o local é conhecido por
todos pela referência das casas de prostituição. A vocação da rua,
segundo os moradores mais antigos surgiu em função de Cachoeira ser uma
cidade portuária.
“Tinha muito viajante no passado que passava por Cachoeira e tinha
necessidade de encontrar uma mulher e acabou tudo se concentrando nessa
rua”, conta a dona de casa Elisabete Lima de Jesus, que é moradora na
rua há mais de 50 anos.
O fato de Cachoeira ser o último ponto navegável atrás da Baía de Todos
os Santos colocou a cidade no século XIX como entreposto comercial do
estado. Criou-se então, nas margens do Rio Paraguaçu várias casas ou
cabarés de prostituição, mais conhecidos como bregas, para atender às
necessidades sexuais dos viajantes.
Por ficar à beira do rio, a rua Sete de Setembro, hoje conhecida como
Rua do Brega, acabou concentrando a maior parte dos prostíbulos. Hoje, a
maioria das mulheres que trabalham na rua é do interior da Bahia, mas
há prostitutas de quase todos os estados do Nordeste.
Mano Hélio, isto ai é o Vou tirar você deste lugar... - versão gospel.
O pastor comete um erro grave dos crentes que é ser um ingênuo que ignora todo o ciclo da exploração organizada e do tráfico de corpos que ocorre no mundo hoje. Tão ignorante quanto aqueles missionários batistas que encheram uma vã de crianças haitianas, atravessaram a fronteira para serem presos. Discipular mulheres em um cabaré da Bahia não impedirá que milhares de meninas e meninos no mundo inteiro sejam escravizados por este sistema satânico que se aproveita do consumismo que quem compra quem vende e quem facilita.
ResponderExcluirAs Put........... também entrega o Dizimo meus irmãos.
ResponderExcluirA reportagem é sim um primor de caipirice jornalística e ignorância sobre o assunto. Organizações Internacionais e ativistas como a indiana Sunitha Krishnan que lutam contra as consequências horríveis do tráfico de crianças para a prostituição, tentam justamente resolver o problema de como reconstruir estas vidas destroçadas nos aspectos psicológicos, financeiro e social .
ResponderExcluirQuando se trata uma criança que tem os seus intestinos saindo para fora de tanto ser estuprada e abusada é que se encara a realidade da venda de corpos.
Não é a toa que desde que o Mahatma visitou a racista e protestante Africa do Sul os indianos não se convertem. O cristianismo ocidental que institucionaliza a desgraça dá nojo.
Tô saindo para vomitar...
Em uma entrevista em um prostíbulo em Nova Friburgo, RJ, O JORNAL LOCAL DESCOBRIU QUE AS MENINAS ERAM MUITO RELIGIOSAS, tinham Bíblia no quarto e frequentavam igrejas evangélicas nas horas vagas. Só espero que o pr da igreja lá na esteja de olho no dízimo da "luz vermelha"
ResponderExcluirBem que o pastor e o delegado evangélico poderiam criar alternativas para essas mulheres que sobrevivem do sexo. Não é simplesmente fechar, como quer o delegado, nem simplesmente deixar aberta, como quer o pastor. É preciso dar alternativas para que essas mulheres larguem a prostituição, tenham como se manter e os bandidos que usam estas casas para se esconder não tenham vez.
ResponderExcluirBem lembrado, mano Danilo!
ResponderExcluirOdair José é o grande precursor do 'brega cóspel'
Abraço!
O argumento é muito ruim. Se devemos pregar onde o pecado está - o que não questiono -, isso serviria também para impedir que a polícia fechasse as bocas de fumo! Claro que devemos pregar onde o pecado está, mais isso não tem nada haver com apoiar, ou dar cobertura a práticas pecaminosas e, potencialmente, criminosas também. Aliás, mesmo que a Lei Brasileira diga que vender o corpo não é crime, para a Bíblia é.
ResponderExcluirO que o pastor deveria fazer é simplesmente isso: evangelizar, oferecer alternativas a esta s mulheres, e deixar a polícia cuidar de suas obrigações.
Marcelo Lemos
www.olharreformado.com