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O chapéu de dois bicos do Malafaia

Marcelo Lemos

Sempre que escrevo uma critica contra o Malafaia é com pesar. Tenho muitos motivos para tal sentimento, e talvez eu precise ser um pouco autobiográfico para me fazer entender. Minhas críticas, no entanto, não estão carregadas apenas de pesar, mas também carregam uma boa dose de esperança. Trata-se de um otimismo inveterado, pós-milenista, teonomista, que recusa-se a enxergar o futuro da Igreja como sendo uma "ladeira abaixo sem fim". Creio que nosso Redentor vive, e prometeu que a verdadeira fé inundaria a terra! Pesar e esperança. Quem lê entenda. 

Como prometi iniciar com um testemunho pessoal, vamos a ele. Nem sempre fui um cristão e teológo reformado, cujo encontro com a Graça Soberana de Deus lhe desarmou todas as expectativas de auto-justificação. Eu fui aliciado ainda criança para um pentecostalismo extremo e legalista. Já contei um pouco sobre isso aqui no Genizah. Meu processo de descoberta da Graça foi um tanto lento, mas profundo e duradouro – irreversível, sussurra meu coração calvinista! Processo que teve início meio sem querer, da minha parte, com a leitura do livro “O Despertar da Graça”, de Charles Swindown, publicado na época, se não me engano, pela Editora Bom Pastor.

Confesso que minha intenção ao iniciar aquela leitura não tinha nada haver com “Graça”; ou melhor, tinha, porém, era um outro conceito de “graça”. Até então tudo o que “graça” significava para mim tinha haver com “poder espiritual”, especificamente, barulho, reteté, aviãozinho, pregadores saltitantes e coisas afins... Por isso, mergulhei no “Despertar da Graça”, desejoso por fazer alastrar aquele mesmo “fogo”, ou “graça”, em minha vida. Era um sonho de adolescente (adolescente pentecostal, claro).

Aos 14 anos, mais ou menos, fui impactado pela graça. Com a leitura de um livro que caiu no meu colo de paraquedas, numa caixa cheia de outros livros pentecostais, neopentecostais, e até dois da Adonep que defendiam uma tal de “quebra de maldição”. Minha vida nunca mais foi a mesma. Como escrevi no artigo acima linkado, “Hoje, olho para trás tentando entender como me tornei um defensor da Simplicidade do Evangelho e, confesso, não encontro qualquer mérito pessoal. De fato, eu tive tudo para me tornar eterno escravo e reprodutor de agrilhões. Minhas asas me foram doadas, pela Graça. De tão fascinado pela Graça, reformei-me, li as Institutas de Calvino, e o Arbitrio servo de Lutero. De tão fascinado pela Graça, recriei-me, ou melhor, fui recriado, pela Graça: um novo cristão, um novo discípulo, que nunca chega ao que deve ser, e por isso, é moldado, dia após dia, ainda que em meio a alguns eventuais retrocessos (risos). De tão fascinado pela Graça, que é Soberana e Invencível, converti-me num otimista inveterado, no retrô estilo pós-milenista (pasmem!), apesar das mazelas que afligem a Igreja de nossos dias - sim, me alio a quadrilha dos subversívos que denunciam os lobos de nossa era, todavia, creio que há médico em Gileade, de modo que até o mais terrível dos nossos desafetos pode vir a ser 'infectado' pelo sabor da Graça”.

Naquele contexto, 'descobrir' o Pastor Malafaia foi uma dádiva. Ele passou a representar para mim a mudança que eu estava experimentando. Claro, inocente que eu era, não? Mas procurem compreender: ele pregava contra o legalismo; e eu havia sido escravo disso por toda a vida! Ele falava sobre ser salvo apenas pela fé; e esta era (e é) uma mensagem maravilhosa aos meus ouvidos. Ele era duro na queda, denunciando e expondo as loucuras do G-12, da teologia das madições hereditárias, dos abusos pseudo-pentecostais, da teologia da prosperiade, dentre outras mazelas que ameaçava a Igreja . Para mim, ele era o cara – apesar de arminiano! E algo me enchia de “orgulho santo”: o cabra era assembleiano, como eu era também! Que benção!

Anos depois ouviria uma pregação de Silas na qual ele usou uma figura de linhagem que nunca vou esquecer: chapéu de dois bicos. Se o amado leitor já o acompanhou regularmente, como eu fiz um dia, provavelmente já escutou a mesma expressão. Eu a ouvi em Belo Horizonte, numa reunião de pastores realizado na Igreja Batista Getsêmani. A figura se refere aquele tipo de pessoa que possui duas caras, duas palavras, o famoso “traíra”. Tipo de gente, segundo Silas, muito perigosa, e contra as quais devemos nos precaver. Não há tipo pior.

Um dia desses, apesar de já não mais acompanhar seu ministério com regularidade, me surpreendi com alguns trechos da critica que Malafaia faz ao “Bispo Macedo”, em resposta a critica que este fez a cantora Ana Paula Valadão. Seus argumentos me fizeram lembrar o motivo de já não acompanhar com tanto gosto o ministério do assembleiano: ele também tem um chapéu de duas pontas. A critica feita ao Macedão é bem merecida, vale dizer (aliás, eu mesmo o critiquei aqui no Genizah); mas, do modo que criticou, e pelos argumentos que lançou mão, Malafaia dá mostras de com o tal chapéu é, de fato, um perigo.

Para Malafaia, Ana Paula é serva de Deus, enquanto Macedão é um mentiroso (não questiono a segunda parte, risos). Ele tem todo o direito a tal opinião, contudo, o argumento dele toma como exemplo a extravagante figura de ninguém menos que Benny Him! Ora, faça-me o favor, hein? Será que Malafaia mandou sua editora recolher das prateleiras todas as pregações nas quais critica severamente os modismos neopentecostais, e os excessos pentecostais? Claro que não! Ele continua vendendo isso, e agradando aqueles pentecostais sérios, que prioriorizam o ensino teológico. Todavia, não perdeu a chance de fazer média com os crentes de lagoas neopentecostais, para os quais “cair” ou “rastejar” pelos cultos é prova de algum mover sobrenatural!

E isso não vem de hoje. Qualquer pessoa bem informada sobre seu ministério sabe o quanto ele criticou o G-12, introduzido no Brasil por certo apostólico que virou Patriarca, e provavelmente ainda se candita a Papa qualquer dia destes. Contudo, também se lembrarão de como os dois andam “carne e unha” por aí... Todos se lembram o quanto ele já criticou a Teologia da Prosperidade, e ainda o faz descaradamente hoje – apesar de sua recente parceiria com dois nomes de peso desta mesma teologia: Murdock e Cerulo! Cara, você já foi um herói para a ortodoxia pentecostal! Quem é você hoje? Um agente duplo? Ahá! Eis que acabo de me lembrar de outro personagem gospel criado pelo telepastor: o crente 007! Mas isso é outro assunto...

Já aprensentamos o bastante, mas há algo ainda mais hilário no chapéu de duas abas do moço: como se sabe, ele parece não gostar de blogueiros apologistas – e não estou falando de gente que gosta de calunia-lo por aí, mas de gente que escreve, canta, desenha ou filma contra os desmandos teologicos de sua “Teologia da Semente” (nome bonitinho para a velha e surrada Teologia da Prosperidade). Ele diz que quem escreve contra suas sementes é sem o que fazer, invejoso, endenomiado, hipócrita ou IDIOTA. O motivo de serem “idiotas” é deveras interessante: por não acreditarem que se deva ofertar a Deus sem motivos egoístas... Chegou até mesmo dizer certa vez que “críticos não constroem nada”.

Aqui está o hilário: mais recentemente, afirmou que lançaria um novo portal evangélico para “ensinar” agente como é que se dá notícias do mundo “gospel”. Não sou a Mãe Dinada, mas, me pareceu um recado com endereço certo: a trupe do Genizah! E parece que Malafaia imagina ser o porta-voz do povo evangélio, além de presidente da Congregação Para a Fé e Doutrina do Reino da Banania! Explico: seu site anda publicando notícias de bastidores, denúncias e outras “coisitas más”, que visam atingir diretamente conhecidos desafetos eclesiáticos do ex-bigodudo, e até um certo partido que ele ajudou a colocar no poder... Ora bolas! Quer dizer que quando Malafaia critíca é coisa santa, quando outros criticam, é coisa do demônio? Não sei não... Esse novo site está me parecendo dor de cotovelo, hein? Não seria melhor se ele começasse a tratar seus críticos com o devido respeito, a fim de que ele mesmo possa criticar os outros sem incorrer no pecado da hipocrisia? Afinal, como mestre na arte de identificar de chapéus de dois bicos, talvez seja a hora de enxergar o que ele mesmo anda exibindo por aí...

Caro Malafaia, se você acha que as críticas a sua teologia estão erradas, chame-ás de idiotas, irracionais, anti-biblicas, ou de qualquer outra coisa, demonstrando o quanto elas afrontam as Escrituras, e não pelo simples fato de existirem, ou de serem contra você! Ou então isto: fique na tua, quietinho, comendo pelas beiradas, sem se intrometer nas opiniões e controvérias de terceiros. Do contrário, é chapéu de dois bicos! Pois, segundo tuas palavras, os criticos são “idiotas, sem o que fazer, endemoniados que nada constrôem”, etc, etc, etc. Se uma critica é idiota apenas por existir, então o querido irmão é o Idiota-Mor da Gospelândia – até porque, acho difícil alguém lhe roubar o título de “Ratinho gospel”.

Ainda respeito muito Malafaia, especialmente por sua coragem na defesa que faz dos valores familiares (discordo de boa parte das criticas que lhe são feitas por isto). Acredito que podemos criticar o que há de errado em alguém sem jogar tudo no lixo – ao menos, quando existe algo que possa ser salvo. E, para mim, sua luta pela família é justa e bíblica. Também é justa a luta de todos aqueles que alertam para o processo de criminalização do cristianismo em nossa sociedade. Mas, se Deus me desse tal oportunidade, gostaria de me sentar com Malafaia afim de discutir face a face o problema do seu chapéu! 

A desculpa de Malafaia para o seu chapéu de dois bicos, pelo menos a que o ouvi dar certa vez, é que ele pode caminhar com alguém, mesmo sem concordar inteiramente com ela. Isso é verdade. É um bom argumento – eu mesmo caminho com gente das quais discordo em muitas coisas. Porém, uma coisa é caminhar junto, outra coisa é abrir mão de sua própria identidade! Uma coisa é caminhar junto, outra, bem diferente, é ter um discurso duplo, que visa agradar gregos e troianos. Afinal, Silas, para quem o senhor está falando a verdade? Para os assembleianos tradicionais, que valorizam um culto menos emotivo e mais centrado nas Escrituras, ou para os da Lagoa, que gostam mesmo é “cair” e “rastejar” de tanto poder?

Responda-nos, de preferencia, usando boné – é menos elegante, porém, de bico, só tem um. Aliás, aproveitando que o senhor resolveu virar blogueiro "critico sem o que fazer", quem sabe agente não possa iniciar o MMA "Malafaia VS Trupe Genizah"...





Desabafo de Marcelo Lemos, o herege do Olhar Reformado, para o Genizah.





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Postar um comentário

  1. Concordo inteiramente com o teor do texto. No entanto, há alguns erros de português, principalmente de acentuação gráfica, que comprometem o conteúdo. Um abraço!

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  2. Muito bem escrito o texto.
    Ninguém está acima de criticas, todos temos de ouvi-las, porque não somos perfeitos, cometemos erros, e a critica pode nos alertar de um erro.
    Malafia deveria ouvir um pouco e parar de brigar.

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  3. Baaita post,sempre gostei de ouvir Malafaaia.Só não consigo entender como hoje ele está tão incoerente.
    @Irmao_Piruca

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  4. @Walquiriavilela

    Meu irmão, isso era tudo o que tava entalado na minha garganta!!!

    Tbm sempre acompanhei-o e hj me pergunto: - Em que momento o Malafaia, deixou de lado as santas escrituras e começou a viver segundo suas paixões!!!???

    É triste demais, se tivesse um jeito de confrontar essas pessoas q manobram as escrituras!!!!

    Precisamos colar em cada porta dessas igrejas as 95 teses de Lutero, quem sabe assim elas não se votam a Deus!

    abç.

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  5. Nossa, Marcelo, não sabia que você foi criado como pentecostal... me surpreendi.

    To com saudade de ler seu blog... qualquer hora eu passo lá.

    Abraços, Paz de Cristo.

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  6. É... realmente o Mala era melhor na era bigode. Vamo fazê a "Campanha: Volta, bigode do Mala" (talvez assim volte também a sobriedade bíblica).

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  7. Parabéns, Macelo, pela coerência e elegância (ma non troppo) do artigo. Falou o que eu queria falar, mas nunca consegui colocar no papel, ops, no Word...

    Encerro meu comentário, eu, um ex-paceiro do Silas, com um comentário postado em meu blog: "Tô louco para voltar a ser parceiro dele! De verdade!! Vou retornar assim que ele se arrepender e voltar à sã doutrina. E se ele voltar a usar bigode, dobro a oferta mensal!"

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  8. Interessante, quando o Malafaia enche a boca para falar que não ganha salário da igreja. Eu fico indagando: "Quem paga as despesas do avião milionário que ele comprou com o dinheiro das "ofertas"? Inclui-se salários de piloto, co-piloto, despesas com combustível, manutenção preventiva e corretiva, aluguel de angar, estadia nos demais locais de viagens, etc...

    SERÁ QUE É ELE QUE METE A MÃO NO BOLSO...

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  9. Boa, Marcelo! Que Deus continue a abençoá-lo. Mandou bem, da primeira ùltima linha. Do seu fã igualmente apaixonado pela graça e reformado!

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  10. O site é um ótimo meio de fofocas, falar mal, julgamentos. Coisas adoradas por muitos cristãos. Parabéns!

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  11. O texto é muito interessante, mas não concordo com a parte do calvinismo. Tirar a culpa do homem para culpar DEUS, pra mim é uma heresia sem tamanho, você me dizer que alguns homens já nascem predestinados a ir ao inferno é de amargar, DEUS nunca faria isso, ainda mais que ele disse que o desejo dele é que todos fossem salvos.

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  12. Engraçado, ontem cheguei à conclusão de que eu tinha encontrado o Portal Gospel que procurava. Já visitava o Genizah, mas não tinha me detido ao número de denúncias que só esse site é capaz de fazer! E tinha feito exatamente essa comparação com o Verdade Gospel. O Malafaia, que, aliás, eu ainda admiro muito e discordo respeitosamente da posição do site com relação a ele, pedindo vênia para continuar admirando os responsáveis pelo Genizah, prometeu um verdadeiro site de notícias gospel. Como vocês podem conferir, isso não aconteceu. Mas eu não sabia que ele tinha algo estritamente contra este site. Só desejo que vocês continuem com o mesmo compromisso com a verdade e cresçam o mais possível, tanto em conhecimento pelo público, quanto em busca do deslindar das podres facetas do atual evangelho.

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