“Não estou no mercado gospel e não pretendo estar”: Gladir Cabral
https://genizah-virtual.blogspot.com/2011/09/nao-estou-no-mercado-gospel-e-nao.html
entrevista
Gladir Cabral
Artedechocar: Em 2009 foi lançado o DVD Casa Grande, um trabalho diferenciado tanto pela formatação de cenário, textura musical e letras recheadas de imaginário, poesia e celebração a vida. O que vem por aí no próximo DVD? Alguma outra novidade podemos aguardar?
Gladir Cabral: O
primeiro DVD foi uma surpresa que ocorreu em minha vida, um presente de
Deus. Não desejei nem planejei realizá-lo. Fui procurado pelos amigos
da Luz para o Caminho, que fizeram a proposta. Não tenho planos para
outro DVD e talvez essa experiência nunca mais venha a se replicar.
Tenho vontade, sim, de gravar outro CD, voz e violão, algo bem simples e
despojado, mas ainda não tenho persepectiva de como isso venha a
ocorrer.
Artedechocar:
Músicas como “Casa Grande” e “Terra em transe” trazem abordagens
interessantes sobre questões sociais, de meio ambiente. Na sua ótica, o
que torna uma música cristã, mesmo que esta trate de assuntos seculares?
E como você relaciona adoração e música?
Gladir Cabral: Seguindo
uma tradição Reformada, não vejo fronteiras definidas que separem
atividades sagradas e mundanas. A vida cristã é um todo indivisível.
Minha fé em Cristo está diretamente ligada à minha vida familiar,
profissional, pessoal e social. Vivo segundo o princípio de Colossenses
3.17: "Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome
do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai". Portanto, não
há compartimento desvinculado do Reino de Deus em meu viver. Dessa
maneira, quando canto sobre o meio ambiente ou sobre os dilemas da
escravidão humana, faço-o tranquilamente, tentando ver todas as coisas
sob a ótica da fé em Cristo. A partir de Romanos 12, entendo a vida, em
todos os seus variados aspectos e tensões, como um serviço de adoração a
Deus. Nesse sentido, todas as minhas canções estão diretamente
relacionados a esse "culto racional", no seu sentido mais amplo,
existencial, histórico, corporal. Entretanto, nem todas as canções são
litúrgicas no sentido convencional, visto que não são diretamente
relacionadas a uma parte da liturgia tradicional ou mesmo contemporânea.
Mesmo as que não são "litúrgicas", costumo cantá-las em minha Igreja,
quando prego, geralmente para ilustrar uma parte da mensagem ou em algum
outro momento do culto.
Não
há música cristã, há cristãos que fazem música. Um cristão pode cantar
vários gêneros musicais, ler vários poemas, contar histórias, parábolas,
romances. Se um cantor secular, sem qualquer experiência pessoal com
Deus, canta "Amazing grace" para um filme de Hollywood, ele está
cantando só uma música popular. Se um cristão sinceramente canta
"Amanhã, vai ser um novo dia, da mais louca alegria...." e a enche de
plena significação, essa canção deixou de ser só uma música pop. Para
mim, o grande critério para avaliar uma canção popular ou qualquer forma
de arte feita por cristãos é saber até que ponto ela reflete, abriga ou
transmite os valores do Reino de Deus. Às vezes, a mensagem cristã pode
estar explícita na letra, outras vezes ela pode estar implícita. Tudo
depende da hora em que se canta, do local e para quem se cantam as
canções.
Artedechocar: O Cristão pode tocar secularmente? Você o faz?
Gladir Cabral: Como disse, não creio na dicotomia religioso vs secular.
Entendo a profissão de músico como digna para ser seguida por qualquer
cristão, seja numa banda militar, numa orquestra sinfônica, num grupo de
jazz, num estúdio, etc. Entretanto, certos ambientes são potencialmente
perigosos para qualquer pessoa e a longo prazo podem trazer danos à
saúde e à vida familiar. Conheço muitos músicos que tocam na noite, mas
estabelecem limites, seguem princípios sobre o que tocar, até quando e
em que ambiente. Muitos deles não fazem o que gostam e admitem as
dificuldades. Acabam tocando um repertório pobre, por obrigação, e não o
que gostariam de tocar.
Eu
não sou músico profissional, sou professor. Ser professor hoje é tão
difícil quanto ser músico. Na verdade, qualquer profissional cristão em
qualquer área enfrentará dilemas éticos, conflitos, lutas, provações e
correrá riscos. E creio firmemente que é preciso que haja cristãos
comprometidos com o evangelho de Cristo tocando na noite, nas feiras,
nos hotéis, a fim de darem testemunho do evangelho. Isso não é nada
fácil.
Artedechocar: Ao
que notamos, a relação “imaginação/criação” e “Deus/igreja” passa por
uma crise séria no Brasil. Gostaria que explanasse um pouco sobre a
relevância da criatividade na vida cristã e na igreja baseado em sua
experiência de vida.
Gladir Cabral: A
imaginação é uma dimensão importante da vida humana. O Criador nos fez
com essa capacidade criativa. Todos os inventos que hoje utilizamos em
nosso dia a dia foram um dia imaginados na cabeça de alguém e depois
viraram projeto. Sem imaginação, não há transformação da realidade, não
há alegria, não há vida. A própria Escritura foi feita utilizando o
recurso da imaginação: histórias, parábolas, poemas, canções...
Precisamos redescobrir o valor da imaginação em nossa prática cristã
cotidiana, na comunicação do evangelho, na arte, na vida diária. Há um
grupo de cristãos nos Estados Unidos que desenvolve um projeto muito
interessante em relação ao uso da imaginação na leitura das Escrituras,
sob a liderança do músico cristão Michael Card:
http://www.biblicalimagination.com.
Artedechocar: Já
são sete Cd’s, um DVD, belas canções, mesmo assim dificilmente
encontraremos Gladir Cabral nas paradas do “Sucesso Gospel”. Queria que
falasse um pouco sobre seu posicionamento no mercado fonográfico, seu
público, sua arte, seus sonhos.
Gladir Cabral: Não
estou no mercado gospel e não pretendo estar. A música em minha vida é
vocação, ministério. Para mim as canções são parte de minha vida e de
minha atuação no mundo como ser humano e como servo de Deus, não são
produtos a serem vendidos, rotulados, comprados, etc. Estou tranquilo em
relação a isso. Vou levando desse jeito, ocupando espaços que me cabem,
aceitando convites para pregar e cantar nas igrejas, universidades,
colégios, interagindo com as pessoas via web e pessoalmente.
Artedechocar: Quais foram as suas influências musicais, e queria que citasse alguns nomes atuais que você tem por referência.
Artedechocar: Quais foram as suas influências musicais, e queria que citasse alguns nomes atuais que você tem por referência.
Gladir Cabral: Minhas
influências musicais foram muitas e não tenho como lembrar de tudo o
que ouvi e que me influenciou ao longe da vida: a música caipira, os
hinos antigos, os Beatles, Bob Dylan, Chico Buarque, Gil, o Clube da
Esquina, Beto Guedes, Milton, Mercedes Sosa, Violeta Parra, Victor Jara,
Vencedores por Cristo, Jorge Camargo, João Alexandre... Quem mais? Não
dá para nomear. Na música popular contemporânea, há muita gente fazendo
coisas belíssimas: Mônica Salmaso, Lenine, Sara Tavares, Dulce Pontes...
Não ouço rádio. Quando que me interesso por um músico, pesquiso e passo
a ouvi-lo.
Artedechocar: Com que perspectiva você avalia a igreja brasileira atual, e a música evangélica em geral.
Gladir Cabral: Não
há igreja brasileira atual, há igrejas brasileiras. A realidade é muito
complexa e não dá para generalizar. Ninguém representa a Igreja
brasileira hoje. Ninguém pode falar em nome dela. Temos um amontoado de
movimentos, instituições religiosas, denominações, seitas mil... Cristo
não pode ser confundido com isso tudo. Hoje em dia até mesmo o título de
evangélico não quer dizer nada. Por exemplo, eu não me sinto
representado pela chamada bancada evangélica em Brasília. Aliás, não quero qualquer vinculação com eles. Sou cristão, e só. Sou pastor reformado, e só.
A
música chamada evangélica também está na mesma confusão. Não gosto de
música gospel. Ela não me diz nada, não me toca. Respeito quem a faz,
mas não consigo ouvi-la e muito menos cultivá-la. Gosto dos hinos
antigos. Gosto de música não comercial, gosto do artesanal, do pessoal,
do autêntico. Gosto de música popular brasileira em seu sentido amplo e
verdadeiramente popular, não no sentido que a mídia rotula.
Ouço
com muita atenção e prazer o som de Jorge Camargo, Gerson Borges, João
Alexandre, Stênio Marcius, Nelson Bomilcar, Aristeu Pires, Vencedores
por Cristo, Diego Venâncio, Silvestre Kuhlmann, Vencedores, Glauber
Plazza, Fabinho, Vencedores, Carlinhos Veiga, Rubão, Roberto Diamanso,
Sal da Terra, Alma e Lua, Aline Pignaton, Banda de Boca, Gerson Samuel,
Crombie, e muito mais gente que não citei. Fora do Brasil, acompanho os
passos de Michael Card, Sara Groves, Phill Keaggy, Andrew Peterson...
Artedechocar: Gladir,
desde já queremos agradecer pelo carinho que fomos recebidos e pela sua
disponibilidade. Que Deus possa te abençoe grandemente. Alguma
consideração final a fazer?
Gladir Cabral: Muito
obrigado pelo convite. Embora a música seja uma dimensão importante da
minha vida, há outra parte que amo também profundamente: o silêncio.
Costumo silenciar meu coração em oração. Esse
exercício tem me ensinado muito a ouvir a voz do Senhor, a esperar, a
aquietar o coração. Estar aos pés do Senhor, como fez Maria, é a melhor
parte (Lc 10.38-42).
Mais em http://www.gladircabral.com.br/site/
Meu Deus, o que isso?
ResponderExcluirMuito bom, musica, melodia, letra tudo perfeito!!!!!
Glória a Deus!!!!!!!!!
Eu tenho um CD do Gladir Cabral. Sinceramente, não me lembro quando ou onde foi comprado, acho que foi a minha esposa que o comprou em suas idas a algum evento, ou em alguma livraria cristã. Isto se deu em meados de 2002 ou 2003. O fato é que eu o encontrei entre os muitos CDs de nossa casa. Nele tem a música CASA GRANDE. Quando a ouvi pela primeira vez, e as demais do CD, achei simplesmente FANTÁSTICO. Como músico que sou, acho uma PENA, é extremamente LAMENTÁVEL, que este tipo de música não faça sucesso entre o nosso povo, que prefere hinos ufanos, sem conteúdo, com melodia óbvia, pueril e vazia, com mensagens tiunfalistas ou que apregoam uma mensagem antievangelho, seja ela de restituição, de destruição de nossos inimigos ou que promovam a famigerada teologia da posperidade.
ResponderExcluirVida longa a Gladir Cabral. Vida longa a Asaph Borba. Vida longa a João Alexandre. Música evangélica de qualidade JÁ!!!
Terra em transe... alguém já ouviu? Gosto muito!!!
ResponderExcluirCristianismo puro e simples.
ResponderExcluirGladir, um cristão puro e simples.
Eis um irmão e servo do Senhor, e creio, para ele isso é o de mais precioso na vida.
Abração meu querido irmão!
São músicas que falam ao coração.
ResponderExcluirTem muita música boa, basta ver a lista de cantores que o Gladir citou.
Carlos.
tenho um cd do professor, por que fui aluno dele. rsrsrsrsrs
ResponderExcluirGraças a Deus que ainda existem servor que usam a música da maneira que dever ser usada. Graças a Deus que posso ter acesso a música de servos com Gladir Cabral, Sal da Terra (esses eu convivo com eles), Nelson, Gersom Borges e tantos outros que fazem música pra a glória de Deus e não para glória própria ou para enrriquecer.
ResponderExcluirDeus os abençoe
PS.: Parabéns pelo site Genizah, acompanho a pouco tempo mas tenho gostado muito.
Nossa cara... chato demais!
ResponderExcluirBonitinho, meio bicho grilo, meio 14 Bis, Sá & Guarabira, mas muito sacal.
Eu sou mais roquenrol (sic), mas respeito quem gosta.
Tenho porém contra ti...
Ouço música por entretenimento, não para Deus falar comigo. Se quiser ouvir Deus falar vou para a Palavra e/ou para a oração (hábitos aliás que pratico diariamente). Isto posto, prefiro o som Gospel (que dê para se ouvir) - nada brasileiro, diga-se de passagem - do que Gil (macumba) e cia. Não creio em neutralidade no mundo do Espírito e ouvir essa gente que manda o seu samba pra mãe de santo rezar é fria.
Porém admito que cabe discutir que tipo de influência esse gospel pode trazer... em alguns casos acho que é comparável ao Gil.
Valeu.
Gladir Cabral é da mesma turma do João Alexandre, Paulo Cézar, Joge Camargo, Alma e Lua... Que bom que existem pessoas que fazem com beleza e conteúdo algo que a gente possa amar, ouvir... Que bom ouvir!
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