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Seu coração não reconhece emoticons

 Danilo Fernandes

Até no riso o coração sente dor e o fim da alegria é tristeza.
Provérbios 14:13

Para o bem ou para o mal, os relacionamentos virtuais fazem parte da nossa vida. Além dos encontros puramentes virtuais, há os que foram de nosso convívio pessoal frequente no passado e, na rede, podemos manter um contato perene. Há os muito próximos com quem trocamos ainda mais, de uma forma que não nos seria possível, tipo: uma twittada do amigo do tênis no meio do dia de trabalho ou a dica do ex-colega de faculdade que nos chega tarde da noite em casa... Enfim, a rede também abre portas para um relacionar mais cotidiano com aqueles que estão distantes e ainda mais enriquecedor, e intimo com os mais proximos.

E, como tudo na vida, a diferença entre o que nos enriquece e o que nos rouba, no caso, o convívio saudável no mundo real é a boa dosagem.

Eu passo muito tempo na rede e me exponho muito nela. Conheço poucos dos muitos que me conhecem e com pouquíssimos mantenho trocas realmente pessoais, ainda que virtuais.

De tudo o que tenho aprendido observando pessoas que se relacionam demais na rede e pouco na vida real o mais importante é justamente aquilo que vai à contramão do senso comum. Digo isto porque mesmo aceitando as evidências sobre tudo o que já se disse sobre relacionamentos virtuais e as forças psicológicas (solidão urbana, sindrome do pânico, stress, entre muitas) e culturais (a falta de tempo, o tsunami de informação, etc.) que estão empurrando o homem para esta janela da existência, há muitas outras razões para o empenho exagerado no viver virtual.

Eu mesmo, quando comecei a dar meus passos neste mundo, há dez anos passados, o que me encantava eram outras facetas da experiencia, mas quando (des)vivi grande depressão, há três anos, fui buscar na internet uma forma de me relacionar que fosse à prova de dor.

E não foi vivendo uma fantasia, ou por trás de um avatar. Assim mesmo de cara limpa, no meu papel de mim mesmo achei que podia me debruçar nesta janela de bytes, me relacionar com os passantes, fazer amigos, flertar com a vida, de uma forma segura, controlada, homeopática – protegido pela profilaxia do logout e pela impessoalidade dos cabos e pixels.

E eu não digo que isto seja ruim, ao contrário, pode acrescentar muito, ajudar na superação de momentos difíceis e abrir portas para relacionamentos reais, observados os devidos cuidados para os riscos oferecidos pelo ambiente.

O que eu não sabia - e encorajo você a refletir sobre – é que no mundo virtual, se você colocar o seu coração na equação, os riscos de dor podem ser tão grandes quanto os dos relacionamentos presenciais. Se por um lado, as relações podem ser alimentadas com menos combustível emocional e menos investimento no que é necessário ao contato, também as armadilhas da relação são tão presentes quanto casca de banana em videogame. E olha que falo aqui somente das relações bem inspiradas. Todo o resto das mazelas dos desencontros amorosos, dos enganadores profissionais e dos em vida dupla por conveniência... Destes já se fala bastante.

Falo dos encontros sinceros. Onde você coloca seu coração e sofre porque um amigo ou amiga virtual se distanciou por motivos que você não consegue compreender. O mesmo encontro onde o outro se ofendeu pelo que foi mal entendido no chat, ou pelo desencontro que você jamais soube, ou por conta do apelo que você não soube perceber. 

Neste mundo de convenções sociais diferenciadas, onde a interface e a linguagem são mais, ou menos conhecidas por cada pessoa, um pode se ofender por algo que você nem sabe ter feito.

A ausência de olhar, a impessoalidade dos pedidos “digitados”, das expectativas incompreendidas... Na web, a facilidade do contado está casada com a banalização das relações e, com esta, vêm toda a sua prole, entre outros: o juízo rápido e frio, o egoismo, a dureza do coração e a rudeza amparada na falsa coragem permitida pelo anonimato e a distância segura. Enfim, eu já me alegrei muito das amizades que fiz na rede e já sofri muito pelos amigos virtuais que se distanciaram sem que eu soubesse a razão.

Perdidos numa interação pessoal que não é a nossa forma natural de relacionamento, magoamos, somos magoados e tudo na melhor das intenções da alma.



Emoticons são estas carinhas que se usa em bate-papos virtuais para expressar emoções



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  1. Nossa Danilo, eu vivi e senti exatamente isto! Conforto o seu ensaio.

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  2. Você é habilidoso e foi sábio em suas palavras,como sempre.Os relacionamentos virtuais estão cada vez mais comuns e vejo como edificante compartilhar experiências e levar as pessoas a refletirem sobre esse assunto...um novo aprendizado.

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  3. Incrível como esse texto falou exatamente tudo o que passei nesses ultimo semestre ....
    Entrei na "rede' prá confortar um pouco meu coração diante de uma dor muito grande que estava passando... fiz um orkut (pois é, orkut...ainda)
    e lá encontrei pessoas maravilhosas e fiquei fascinada com aquilo, foi muito bacana... reencontrar as pessoas, receber recados, fotos...
    Mas depois fui me expondo demais, falando da minha dor, e logo logo percebí que isso poderia me prejudicar, ou minha família... e sem contar que quando eu estava no auge da crise de depressão eu ficava esperando prá ver se alguém entrava prá conversar comigo... e nada...
    Mas Graças ao bom Deus que acordei a tempo e tomei uma decisão radical.Cancelei o orkut, fiquei apenas com o e-mail das pessoas que realmente eu tinha como amigos de verdade e hoje eu sei que o que importa é aproveitar com sabedoria o melhor que a net tem para oferecer, não devo usar isso como bengala, e sim apenas como um canal prá me abençoar e abençoar as pessoas.
    Lógico, vou não sou contra nada disso, é muito legal, mas aprendí que naquele momento eu deveria me deter apenas no meu relacionamento com minha família e com Deus.Agora, leve e livre de dores e depressão, posso voltar para os Facebooks e orkut's da vida sem neuras !

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  4. Só faltou uma musiquinha de fundo... rsrsrs

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  5. http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2011/08/18/sp-mpf-entra-com-acao-contra-rede-tv-igreja-internacional-da-graca-de-deus-por-discriminar-ateus-em-programa-925158332.asp

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