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Onde estão os ' Janires ' de hoje?


Antognoni Misael

Sempre que dou uma pesquisada na nossa música cristã de hoje em busca de algo novo tenho sempre a impressão de encontrar “mais do mesmo”. É sério! Não bastasse as centenas de comunidades ‘estilo louvor’, os famosos globais da Som Livre, a panelinha da MK – na ressalva, claro, da turma alternativa que se mantém na linha do Elo, Logos, VPC, João Alexandre, Jorge Camargo e todos dessa vertente – sinto bastante falta de gente criativa, irreverente e de peito aberto para enfrentar as engrenagens desse mundão. Então parei um pouco e pude me perguntar “onde estão os 'Janires' de hoje”?

Não sei vocês, mas sinto muita falta de artistas evangélicos que formem opinião pra essa imensa juventude do "gospel"; que provoquem a cabeça e mentalidade juvenil promovendo nessa gente uma adoração com entendimento. Noto que é tão comum ver muitos 'fãs' lotando shows e gravações de DVD’s da turma gospel, mas que, quando confrontadas com a dura realidade da Igreja e do Brasil, apenas reproduzem os atos e discursos “proféticos” dos seus ícones sem que se portem de forma inteligente diante do mundo e das pessoas. Então quando ouço os discos do Grupo Rebanhão e/ou Banda Azul (ambas de idealizadas por Janires) tenho a sensação de que retrocedemos.

Volto a me perguntar: “onde estão os 'Janires' de hoje”? Onde estão os que ironizam os políticos corruptos e os edônicos comerciais da TV? Onde estão os que parodiam os filmes e imbecilizam as novelas? Cadê os 'Janires' que falam das realidades, de sonhos, fracassos, frustrações, do pecado e da miséria, mas sem nunca esquecer de revelar o fulgurante contraste da estonteante luz, a indizível graça e a paz de Jesus Cristo? Gente, chega de 'astro Gospel' fazendo arquivo confidencial no Faustão e recebendo homenagem no Raul Gil!

Recordo que o Janires não era bem visto pelo "clero" evangélico da época. Era rejeitado pela roupa, cabelo, jeito de falar e seu estilo de música. Certa vez ao promover um evento em praça pública em São Paulo no intuito de tocar um rock pra evangelizar a turma descrente, foi surpreendido pelas lideranças de algumas igrejas evangélicas as quais (sob inspiração da ditadura) proibiram que seus membros presenciassem aquele louvor em via pública.

Gente, quando julgamos pela aparência perdemos a oportunidade de nos surpreender com a essência das pessoas - os que julgavam o Janires realmente não o conheciam - ele era um exemplo vivo de cristão autêntico.

Num congresso de louvor que estive presente na cidade de Campina Grande-PB, ouvi do grande Paulão (do Grupo Logos) a curiosa história do dia em que o encontrou em um evento evangélico. Ele descreveu que viu um cara que se vestia bem diferente, roupa meio jogada, parecendo um hippie, com uma mochila de lado, sentado na escadaria do prédio e lendo um livro; ao achar aquela aparência fora dos padrões da época relutou em não julgar, e quando foi notado pelo próprio Janires, este rapidamente se levantou, ofereceu a paz do Senhor e um forte abraço. Paulão revelou que nos olhos daquele jovem via-se alegria e amor pelas pessoas; e aquele livro que o Janires atenciosamente lia na escada era uma Bíblia bastante gastada e cheia de anotações.

Janires era intenso. Em plena época de ditadura no Brasil, não se conformava com a repressão militar e as injustiças. Quando integrante do Rebanhão, mostrou sua crítica em "Casa no céu": "Lá não terá vizinho reclamando o aumento da gasolina", "Lá não terá buraco no meio da rua", "Lá não terá trombadinha nem trombadão desrespeitando os 80km/h fugindo da poluição". Às vezes direcionava sua insatisfação aos próprios evangélicos. Na música "Etc e tal" disse: "Embaixo da ponte as pessoas roubando e matando... em cima da ponte...crentes tranquilamente se achando no direito de ficar descontentes com Deus, não comprou carro novo não”... Na sua composição mais conhecida, "Baião", fez uma análise da situação social do planeta: "Sem Jesus Cristo é impossível se viver nesse mundão, até parece que as pessoas estão morando no sertão, é faca com faca, é bala com bala, metralhadoras e canhões, até parece que a faculdade só tá formando lampiões... e o dinheiro anda mais curto do que perna de cobra”...

Pelo que li e ouvi daqueles que viveram próximo Janires, descobri que ele não andava ansioso com a vida, não se apegava a fama e a bens materiais. Quando morreu, ficou de legado apenas algumas roupas e seus equipamentos musicais. Um ex-integrante do Rebanhão, Paulo Marotta, confidenciou o seguinte :

"Janires não era um homem comum. Ele não se preocupava em casar, constituir família, arrumar um bom emprego, comprar isso ou aquilo, essas coisas que têm tanta importância para nós. Vivia do que produzia. Sua música, seu artesanato: camisetas e impressos em silk-screen. Frequentemente recebia ofertas, às vezes muito boas, mas sempre achava alguém que precisasse mais do que ele daquele dinheiro. Assim como recebia, dava generosamente".


Onde estão os Janires de hoje?

 




Publicado em Arte de Chocar.   Dvulgação Genizah


Janires Magalhães Manso iniciou sua carreira no fim da década de 1970 com o Grupo Rebanhão, após gravar quatro discos com o Rebanhão, deixou a banda e foi para Belo Horizonte, lugar onde conheceu um novo time de músicos e juntamente com eles formou a Banda Azul com a qual gravou o disco Espelhos nos Olhos em 1988, porém morreu em um catastrófico acidente automobilístico, quando voltava do Rio de Janeiro para Belo Horizonte, antes do lançamento do disco. DISCOGRAFIA DO REBANHÃO: http://bandarebanhao.blogspot.com/p/discografia.html



Louvor e Música 5869174344363890077

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  1. "Não deixa não / a tristeza fazer / poli position no teu coração menino / acostumado a tantas curvas..." Saudades das letras de Janires...seu legado é muito grande, porém as novas gerações perderam este referencial...

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  2. Na realidade em relação somente as letras, não a postura, nem a vida com Deus. Acho que bandas como Fruto Sagrado (antes de acabar) e Resgate (sem as viagens da Renascer) herdarão esse espírito urbano e altamente contextualizado das letras. Faltam-nos mais artistas assim.

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  3. A Net é cheia de murmuradores, tanta coisa para falar dos milagres de Jesus, do amor de Jesus e leio tanta gente falando mal de outros irmãos que não anima nem em entrar em Blogs evangélicos.
    A murmuração tomou conta, só falta a terra se abrir e engolir os murmuradores.

    Meu Deus, misericórdia Senhor.

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  4. Vocês poderiam colocar mais textos inteligentes como estes aqui.
    Diplomaticamente chamando a atenção sem serem inconvenientes. Parabéns ao autor.

    Kener

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  5. Pr. Ednilson C de Abreu3 de agosto de 2011 às 10:43

    Conheci Janires, sem dúvida era uma pessoa diferente. Nas vigilias de Bento Ribeiro sempre trazia uma palavra abençoada, e muitas vidas foram tocadas pela sua instrumentalidade.
    Faço côro com a pegunta: Onde estão os Janires de hoje?

    Pr. Ednilson C Abreu

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  6. Este cara é o pai do underground Cristão !!!

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  7. Quem não sabe curtir e entender este tipo de som, na minha opinião é bem limitado de cérebro.

    Só tenho som de qualidade, desta turma. Dos "astros e estrelas gospi" de hoje não gasto nem Real nem banda larga com eles.

    Já disse antes por aqui, o mundo cada vez mais medíocre. Não há nada de criativo nas artes, na propaganda, na política, na sociedade.....

    Ainda bem que o mundo tá acabando !!!

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  8. muito bom, quem recorda isso preserva o que é bom, traz a memoria o q dá esperança.

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  9. Creio que ainda existem muitos "Janires" por aí no underground... Só que esse underground é tão underground que quase não se ouve falar deles... Isso é lamentável!

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  10. Creio que ainda existem muitos "Janires" por aí no underground. Só que esse underground é tão underground que quase não se ouve falar deles. Isso é lamentável!

    Tadeu

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  11. Rapaz.....recomendo uma banda gringa q escuto até hj. DC Talk. As letras fogem totalmente ao esquema "louvor e adoração" dos ministérios (brazucas e gringos). Pena q acabou.

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  12. Li esse texto com lágrimas nos olhos porque cresci ouvindo Janires. Graças a Deus, aqui em casa sempre se consumiu boa música cristã: Vencedores Por Cristo, Rebanhão, João Alexandre e Janires, só para citar alguns. Muita saudade!

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  13. Realmente, que lixo de música chata. Bom realmente é o mantra gospel de hoje, que escancara as portas do inconsciente nos cultos preparando as mentes ôcas para a lavagem cerebral da pregação marqueteira, herética e interesseira.
    Quando se atinge o estado alfa dos já descerebrados evangélicos aí eles estão capacitados a esvaziarem as mentes, as carteiras e os bolsos.

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  14. ESPELHO NOS OLHOS - BANDA AZUL

    "Foi há muito tempo atrás
    Tempos que não voltam mais
    Eu com a cabeça de menino
    Corpo e asa de passarinho
    Querendo voar pra descobrir
    Qual estrela eu ia namorar...

    Mas, muita coisa aconteceu na vida
    O menino não voou, mas, cresceu
    E aprendeu ou ensinaram
    Que o futuro é um sonho,
    Guardado no bolso do paletó
    Dos heróis desse mundo...
    Quem não tem tempo
    De olhar as flores e sonhar...

    E quando minha vida era um presente sem futuro,
    Embrulhado num passado sem respostas
    Sem ponte pra passar, estrada pra andar
    Sem lágrimas pra orvalhar...

    Jesus chegou bem de mansinho,
    Me pôs espelho nos olhos
    Me deixou sonhar...

    Na causa do bom mestre já rodei 'brasis'
    Irmãos, amigos, companheiros de esperança fiz
    Mas, agora já é hora
    De ir embora viajar
    Mas, agora já é hora
    De ir embora viajar
    Descobrir outro mundo, outro lugar
    Levo no peito saudades de vocês..."

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  15. e o que dizer do GOTTFRIDSON, grupo maravilhoso da década de 80??? choro de ouvir os louvores, como A CANÇÃO DO ESPÍRITO, JESUS NOS DÁ PAZ...Me parecem que eles fizeram somente um LP....Maravilha de Deus! Tatiane Rabelo

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  16. O Resgate tem contestado políticos e ventos de doutrina no último album, confiram.

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  17. Os poetas como Janires, que falavam que as flores iam crescer, estão abandonados, amarrotados no bolso dos pastores da mídia gospel. Mas não vamos desistir nunca, vamos pegar nossas guitarras e cantar rock pra louvar Jesus com a mesma simplicidade e amor q um dia Janires nos ensinou a ter!

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