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Genizah entrevista o Arcebispo William Mikler

William Mikler reside nos EUA, na Flórida, e é responsável pelo Apostolado para as Nações, um programa que envolve missões de evangelismo e ensino em mais de 40 nações do mundo.
 
O arcebispo é ainda Reitor da Abadia St. Johns. A CHRISTIAN COMMUNION INTERNATIONAL é uma denominação que está presente em vários países do mundo, inclusive no Brasil (www.ciceb.com.br). Tem suas tradições calcadas no cristianismo Celta e no Anglicanismo histórico e faz parte do Movimento de Convergência iniciado na década de 1970, o qual busca harmonizar as correntes litúrgica, sacramental, carismática e evangélica da Igreja.

Nesta entrevista exclusiva com o arcebispo Mikler, o Almanaque Genizah foi representado pelo seu co-editor Carlos Moreira.



[Genizah] Como o Sr. vê a crise na qual ambas as igrejas, a Americana e a Brasileira, estão hoje mergulhadas?

Posso observar este problema através de duas lentes: a da igreja e a da Palavra de Deus. A igreja é sal da terra e luz do mundo, e acredito que, apesar dos problemas sérios que  o homem pecador cria por si mesmo, a solução deles em nossos países fica nas mãos da igreja.

Na minha opinião a falta principal da igreja em ambos os países está enraizada no mal entendimento das questões pertinentes ao reino de Deus. Jesus Cristo é Deus Encarnado e é o Criador de toda criação, Redentor único do ser humano, e Rei sobre todas as coisas. O seu evangelho se aplica às realidades totais da criação, redenção e a governança de todos os tipos de deveres humanos (sejam do indivíduo, da família, da igreja, do governo civil, dos negócios, etc.).

Temos limitado, em ambos os países, a aplicação do Evangelho à vida total do povo e também ao planeta. Temos o “evangelho social” que alimenta o corpo, mas não alimenta a alma. Temos o “evangelho gnóstico” que prega o Verbo, mas não alimenta o corpo. (No seu encontro com o diabo, Jesus ensinou que  o homem precisa de pão e de Verbo para viver.)

Pregamos a Grande Comissão (Mateus 28:18-20), mas esquecemos a Primeira Comissão em que Deus mandou o homem casar-se, ter filhos, desenvolver e proteger a terra (Genesis 1:26-30). Pregamos sobre ofertas de um ponto de vista “mágico”, como é o caso da teologia da prosperidade (dar dizimo, ofertas, etc.), mas negamo-nos a ensinar (ou aprender) que o trabalho é algo essencial — seis dias na semana— ele sim é fundamental a geração de prosperidade.

O “evangelho social” alimenta o corpo, mas não alimenta a alma. O  “evangelho gnóstico” prega o Verbo, mas não alimenta o corpo.

Em suma, esquecemos que a Igreja é uma polis, uma cidade com povo, uma instituição, possui muros, portões, templo, governança, a luz de Cristo, e a presença de Deus. Transformamos a igreja num clube de teologia / filosofia, entretenimento, ou escapismo social.

Nosso destino é reinar sobre a terra, e a falta de entendimento deste destino resulta na entrega da liderança da terra aos ímpios. Quem não sabe para onde está indo, logo chega em lugar nenhum. Precisamos, em ambos os países, entender melhor sobre o Reino de Deus e os seus deveres, sobre a aplicação dos mesmos em cada setor de vida.

[Genizah] O Sr. acha que existe algum ponto em comum entre a situação encontrada no Brasil e nos EUA?

Nossos países e povos têm muitíssimo em comum. Herdamos responsabilidades para desenvolver, como despenseiros apontados por Deus, as riquezas das Américas pelo nosso bem e pelo bem do mundo. Somos também povos com herança cristã (o Brasil, católica romana, e os EUA, protestante). Somos povos com raízes de várias partes do mundo, experimentando o nacionalismo além dos países de origens. Nunca me sinto estrangeiro quando estou no Brasil, e em geral os Brasileiros são bem recebidos nos Estados Unidos. (Se a nossa seleção não se sai muito bem na Copa do Mundo — que é o que geralmente acontece — a maioria dos americanos torce pela seleção brasileira. Ela é o nosso time — time das Américas na sua totalidade. Temos igrejas fortes (e fracas!) e temos também “carga” missionária. Possuímos pensadores importantes.

A respeito das diferenças, elas são, ideologicamente, complementares. Mas o ponto que temos em comum é entender e aplicar aquilo que falei acima, o Reino de Deus. Essa deve ser nossa prioridade e dever. Meus irmãos na fé tanto da África quanto da Europa e Ásia têm as mesmas necessidades. O Reino de Deus pertence a todo povo de Deus, em cada lugar em que ele se encontra.

[Genizah] Como hoje nos Estados Unidos a verdadeira Igreja de Jesus Cristo tem combatido os desvios encontrados na pregação do Evangelho?


Apesar de nossas divisões profundas  — divisões que tem raízes nas denominações (e não-denominações) do mundo cristão, as quais muitas vezes têm raízes em várias nacionalidades diferentes — acredito que cada dia mais cristãos estão se identificando com o que está dito no Credo Niceno, que somos “uma igreja santa, católica [universal] e apostólica.”

A unidade da igreja, calcada na sua santidade, nos seus aspectos de universalidade, e na missão comum fica evidente nas celebrações dominicais. Mas, nos dias da semana, enquanto o povo de Deus trabalha e interage com outros — parece que este aspecto do ser igreja se perde, se dilui.
Apologética é por demais acadêmica, com batalhas sem fim entre os academicistas que gostam de lutar “guerras do passado”. Protestantes vs Católicos, Luteranos vs Calvinistas, Tradicionais vs Pentecostais, etc.

Quando a união é mais saudável, ela revela a unidade da fé de forma profunda, e não apenas algo superficial ou teórico na igreja. O conteúdo da fé — a sua mensagem e missão, como são revelados na Santa Bíblia e compartilhados na comunhão do santo povo de Deus — é aquilo que nos reúne e mobiliza. A verdade trabalha no contexto da comunhão dos cristãos. É fato que mais e mais cristãos estão comungando e trabalhando em conjunto. Estou de viagem (se Deus permitir) para Uganda, com desafios quanto ao ensino. Fui convidado por um teólogo presbiteriano para um projeto de evangelização desenhado pelo arcebispo da Igreja de Uganda (Anglicana) que, intrigantemente, comporta tanto anglicanos como pentecostais.  A igreja verdadeira está, cada dia mais, encontrando seu papel. Mas a jornada de união é longa. Mas há algo positivo: já estamos de pé e a caminho.

Outra coisa importante: a maioria das igrejas de hoje está localizada abaixo do equador e além da America do Norte e Europa Ocidental. A igreja projetando-se para fora dos antigos centros, o que perdurou durante os ultimas 250 anos, está nos ensinando muito aqui nos EUA. Este tipo de comunhão mais ampla é algo muito saudável para nós.


[Genizah] O Sr. acha que a apologética em nossos dias caiu em desuso? A Igreja desaprendeu a fazer teologia?


São duas questões aqui. Vou tentar responder às duas.

(1) Apologética. Há problemas com: (a) a forma de se fazer apologética; (b) as dimensões onde ela deva ser praticada; e (c) a sua incapacidade de exprimir tudo o que é necessário para o testemunho cristão.

a) A forma de apologética é por demais acadêmica, com batalhas sem fim entre os academicistas que gostam de lutar as “guerras do passado”. Protestantes versus Católicos, Luteranos versus Calvinistas, Evangélicos tradicionais versus Pentecostais, etc. A maioria dos crentes não está enfrentando as batalhas experienciadas pelos acadêmicos. Tão pouco os incrédulos se afligem com os temas que motivam debates entre professores e teólogos. A forma de apologética precisa se adaptar às realidades do cotidiano do povo de Deus e também da sociedade.

b)  A apologética precisa ser trazida para a esfera da vivência cotidiana, da realidade familiar, da economia, política, trabalho, etc. Deve estar conectada com os desafios da comunidade, mas também das questões mais amplas da nação, da ciência, da política, etc. Ou seja, o mundo real. Deus se tornou carne para se envolver na realidade que Ele criou. A apologética tradicional é como um balão sendo empurrado pelo vento, não é algo sólido que ajuda as pessoas nas suas realidades, nos seus desafios e dramas. Temos de trazer a apologética para o mundo real, retirá-la do território acadêmico, onde, de fato, está nos dias atuais.

c) Outra coisa é o seguinte: apologética é algo ligado à defesa da fé. Mas quando focalizamos somente a defesa da fé, esquecemos de avançar para estendermos os domínios da fé. Precisamos de uma nova disciplina, algo que eu chamo a apostólica. A apostólica não focaliza a defesa, mas sim a ofensiva. Jesus não enviou os onze (Mateus 28:18-20) com uma missão defensiva, mas sim ofensiva! A respeito deste assunto, acredito que o cristão brasileiro é bem mais dado à apostólica do que o cristão americano. A igreja dos EUA tem muito a aprender com a  igreja brasileira neste quesito particular.

Apologética é defesa da fé. Precisamos de uma nova disciplina, algo que eu chamo a apostólica. A apostólica não focaliza a defesa, mas sim a ofensiva. Jesus não enviou os onze (Mateus 28:18-20) com uma missão defensiva, mas sim ofensiva!

(2) Teologia. Sem dúvida, temos desaprendido de como se faz teologia. Igreja tornou-se um lugar de “Oba-Oba” e isto acontece em ambos os nossos países. É a Igreja Show, ela não produz discípulos. A Igreja de Geria não proclama o verdadeiro Evangelho. Neste caso, para que então produzir teologia? Ela servirá apenas como teoria para alimentar um clube social, ou acadêmico, ou filosófico. Por isso, trona-se algo dispensável. Temos de acabar com isso! O que é preciso é o Verbo de Deus, pregado e entendido na comunhão dos verdadeiros irmãos e irmãs, aplicado no contexto das realidades vigentes, afirmado pelo testemunho da igreja histórica, conformado aos ensinos e deveres do Reino de Deus. Discipulado não é uma opção! É obrigação! Mas não pode ser feito fora do que a Palavra de Deus ensina e demonstra; ou seja, é algo que precisa ser realizado por irmãos e irmãs qualificados, líderes preparados para atuar neste campo. Algo que tem nos encorajado nesses dias é à volta à Bíblia e a procura cada vez maior de pessoas em busca de entender melhor a fé.
A igreja  já é global. A internet tornou possível a comunicação, interação, e mobilização entre irmãos, algo que antes não era possível.

[Genizah] Como o Sr. vê o uso de ferramentas na internet, como os blogs e sites, por exemplo, para ajudar fiéis na admoestação e no ensino?

As ferramentas têm um potencial enorme. Mas elas dependem muito de quem as opera. Aquilo que é bom, faz bem; mas o ímpio faz o mal. E neste particular, temos muito de ambos, sobretudo aqui nos EUA. Contudo, para a igreja em geral, vejo como algo positivo. A igreja universal já é global. 
A internet tornou possível a comunicação, interação, e mobilização entre irmãos, algo que antes não era possível. Ensino, comunhão, pesquisa, admoestação e comunicações – superficiais e profundas – criação e gerência de projetos, dentre outras coisas são avanços trazidos pela internet. Cada dia mais Jesus está convertendo esta ferramenta aos seus propósitos. Hoje, por exemplo, podemos promover aulas (tanto no ensino médio e fundamental, quanto nas universidades, ou até mesmo nas igrejas) através da internet. Este é um tipo de treinamento que antes não existia nem na imaginação, mas agora tornou-se realidade! Que Deus nos abençoe e ajude a aproveitar esta ferramenta para Sua glória e para nosso bem!

Se pudesse usar uma frase para defini-los, diria que nos dias de hoje, o próprio Lutero teria se servido do Genizah para “pregar” as suas teses no blog se ele tivesse essa oportunidade.

[Genizah]  Seus pensamentos finais.

Sou muito grato por essa oportunidade concedida pelo Genizah para poder tratar de questões que penso são relevantes nos nossos países. Quero congratular-me com o sucesso que vocês têm obtido neste campo específico.  Que Deus continue abençoando toda a equipe envolvida – escritores, editores, pessoal técnico e de apoio administrativo. Se pudesse usar uma frase para defini-los, diria que nos dias de hoje, o próprio Lutero teria se servido do Genizah para “pregar” as suas teses no blog se ele tivesse essa oportunidade. Desta forma, estou muito Grato a Deus por mais esta "porta" que se abre no presente e se projeta para o futuro da pregação e defesa da fé.





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  1. Otima entrevista. Interessante notar como de fato estamos cada vez mais globalizados.

    E quanto ao elogio que o Genizah recebeu... Muito merecido.

    Bastos Lino, Rio

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  2. Obrigado pelo reconhecimento. Estamos aqui encabulados com a sua gentileza.

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  3. Show de bola!

    O Arcebispo Bill Mikler é um pensador profundo e crítico da fé. Alguém com quem temos muito que aprender.

    Parabéns, Danilo, pela ótimo entrevista.

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  4. Danilo,

    O arcebispo é um homem maduro em Deus, que conhece bem a realidade da igreja americana e mundial. Por ser um bispo missionário, tem viajado o mundo inteiro ensinando e pregando o Evangelho do Reino. Parabéns pela excelente oportunidade de ouvirmos um teólogo contemporâneo com uma excelente cosmovisão.

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  5. PARABÉNS DANILO.MUITO EXCELENTE E PROVIDENCIAL ENTREVISTA!!!SHOW!!!DEUS ABENÇOE MUITO!!

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  6. Parece-me que ao menos no Brasil temos visto um movimento de nova reforma e resistência ao ataque do mal a igreja! As potestades escondidas parecem florescer aos olhos e os falsos profetas enganam a muitos.

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  7. A igreja hoje é um ambiente competitivo. As denominações disputam entre si os mesmos consumidores e a prioridade é reter o cliente. Evangelho às favas, as mesmas usam entre outras coisas as proprias "verdades" denominacionais como última medida para segurar por medo em seus apriscos ovelhas com medo. Qualquer cooperação causa pavor nos pastores, medrosos de expor a sua propria incompetencia diante de outros.
    Será preciso um chacoalhar forte para o lixo sair da peneira e a igreja encontrar o rumo.

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  8. Acho que estamos fazendo "apostólica" aqui na blogosfera cristã.
    Deus abençoe.

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  9. Sabe porque o evangélico americano é melhor do que o evangélico brasileiro?
    Resposta: Porque ele está mais longe

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  10. Porque eles se vestem que nem um padre?

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  11. Julio, Isto se chama clerical e é hábito da maioria as denominações protestantes europeias e americanas, incluindo todos os episcopais, anglicanos, presbiterianos, luteranos, etc.

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  12. Hmmm obrigado pela informação, achei interessante, grato...

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  13. A igreja precisa romper as barreiras. O discipulado é uma forma apostólica, pois significa enviados; quando a maioria estiver no discipulado a unidade ficará mais forte. Nos lares as barreiras doutrinárias desaparecem, talvez por isso alguns temam o discipulado como algo perigoso. Perigoso para as doutrinas que foram inventadas pela igreja, mas também é um perigo real quando inovam a ponto de criar por exemplo: regressão de vidas passadas.

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