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"Um Dia Feliz as Vezes é Muito Raro"


Carlos Moreira

O escritor Jorge Luís Borges nasceu em Buenos Aires e tornou-se um nome reconhecido mundialmente pelos seus escritos e poesias. Dentre seus textos maravilhosos, quero retirar fragmentos de um deles, talvez um dos mais conhecidos, que é “Instantes”. O texto ganha contornos mais fortes quando sabemos que foi escrito em 1986, na Suíça, quando o autor tinha 85 anos e já estava cego há 30.

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser perfeito; relaxaria mais. Seria mais tolo do que tenho sido; na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvetes... teria mais problemas reais e menos problemas imaginários. Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto de sua vida... Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos. Porque, se não sabes, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora... Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera, e continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas na minha rua... e brincaria com mais crianças.. Mas vejam, tenho 85 anos e sei que estou morrendo...”.

Agora desejo trazer-lhe uma pequena porção das Escrituras, Eclesiastes capítulo 12: “Sim, lembre-se dele, antes que se rompa o cordão de prata, ou se quebre a taça de ouro; antes que o cântaro se despedace junto à fonte, a roda se quebre junto ao poço”. Você deve conhecê-lo. Ele trata da velhice, de lembrar de Deus enquanto “ainda se pode achar” como bem disse Isaías, pois virão tempos em que diremos “não tenho neles prazer”. Sua beleza, para mim, está nas profundas e delicadas alegorias que o autor usa para falar da velhice e faz isso sem ser rude e sem, contudo, mascarar absolutamente nada.

Não sei se você sabe, mas estamos vivendo num país que envelheceu. Segundo dados do IBGE, “O país caminha velozmente rumo a um perfil demográfico cada vez mais envelhecido. Em 2008, para cada grupo de 100 crianças de 0 a 14 anos existem 24,7 idosos de 65 anos ou mais. Em 2050, o quadro muda e para cada 100 crianças de 0 a 14 anos existirão 172, 7 idosos”. Entre nós, todavia, há uma sensível diferença em relação às outras nações: nossos velhos são vistos como um problema, tratados sem humanidade, sem respeito, sem dignidade. Isso é facilmente observado desde a prestação de serviços públicos, dos mais essenciais, aos cuidados e acolhida dos familiares. Para lidar com o “problema”, asilos foram criados, melhor seria dizer, depósitos humanos, casas de “misericórdia” para abrigar aqueles que chegaram a estação outonal da existência. Triste destino terá os quem forem, um dia, parar num deles...

O versículo que citei acima possui diversas interpretações exegéticas. A minha, todavia, é para o hoje, é mais poesia e filosofia do que teologia. Talvez lhe sirva... Há quatro elementos citados que representam as estações da existência. O cordão de prata retrata a idade da adolescência, é o presente de 15 anos, que serve não só para adornar o pescoço da criança, que está virando mulher, mas também para mostrar-nos que neste tempo da vida tudo é beleza, alegria e felicidade. A taça de ouro é a estação das comemorações e conquistas; é o casamento, a formatura, o primeiro emprego, o primeiro carro, a primeira casa, tempo de celebração, de festa, de champagne! O cântaro fala da vida adulta, da rotina de “ir à fonte”, ou seja, da necessidade de subsistência, do trabalho, das responsabilidades, das contas a pagar, das crises relacionais – com o cônjuge, os filhos. Finalmente, a roda de moinho, aquela que, envelhecida, se desfaz junto ao poço. É a mesmice final da existência, a roda que gira, mas não pode mais sair do lugar, que realiza um ciclo em torno de seu próprio eixo, que cumpre a ingrata rotina, todos os dias, e que parece apenas esperar o fim chegar.

Tenho uma avó com 95 anos de idade. Vejo-a pouco, pois a vida que vivo, ou que não vivo, não me permite visitá-la com freqüência. Contudo, cada vez que a encontro, tenho a sensação de que seus dias estão se acabando, agora, mais rapidamente do que antes. Mas há uma sensação boa quanto estou com ela: é que eu percebo que aquele dia, um dia raro, mesmo que o tempo que permaneça lá seja pouco, transforma-se num dia feliz...

Eu sei que muito em breve estarei velho também. Sinto os sinais no corpo, que não reage mais como antes. Algumas enfermidades, próprias da idade atual, 44 anos, já chegaram. Preciso de óculos para ler e tomar remédio para pressão. Além disso, durmo menos, vivo mais tenso, reflexivo, solitário... Por isso, estou aproveitando os anos que ainda me restam para fazer aquilo que Jorge Luís Borges recomendou... Não quero terminar meus dias nem com os seus “recalques”, nem com a melancolia do filósofo do Eclesiastes. Será que conseguirei?...

Carlos Moreira é culpado por tudo o que escreve. Está ficando mais velho, em compensação, menos tolo. Colaboro aqui no Genizah e também na Nova Cristandade.

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  1. Perguntou Faraó a Jacó: Quantos são os dias dos anos da tua vida?
    Jacó lhe respondeu: Os dias dos anos das minhas peregrinações são cento e trinta anos; poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida...

    Esses tempos atras, enquanto estava no carro nas serras de RS, vi algo que parecia ser um feixe de luz néon a minha frente, chegando mais perto identifiquei ser aquele feixe uma borboleta, uma borboleta muito bonita.

    Pensei naquele momento; que se eu pasasse no mesmo lugar alguns dias depois, certamente não veria aquela mesma borboleta, uma vez que seu ciclo de vida dura apenas alguns dias (Algumas apenas dois dias).

    Como é curta a vida da borboleta, e como é curta a vida de quem olha para ela.

    Jacó disse que seus 130 anos de vida eram poucos.

    Assim como um garoto que junta suas bolinhas-de-gude em um saquinho... tão rápido acumulamos os nossos anos.

    E se para o garoto são poucas as suas bolinhas, para nós também poucos são os nossos anos.
    E se o garoto quer mais bolinhas... quanto mais nós... mais anos...

    O tempo voa e como aquela borboleta temos que voar hoje porque não sabemos se voaremos amanhã.

    Você sabia que a quarta parte da raça humana morre antes de atingir os sete anos de idade; a metade, antes dos dezessete. Dentre cem pessoas somente seis chegam aos sessenta anos. De quinhentos, apenas uma vive até aos oitenta?

    Aproveita mais a vida quem ao invés de aproveitar o dia sabe aproveitar o momento.


    Diz-se que há uma paróquia em Savoy, onde em todas as casas está afixado o seguinte letreiro: "Compreenda bem o valor das palavras: Deus, momento e eternidade – Um Deus que te vê, um momento que foge de ti, uma eternidade que te aguarda."


    Precisamos se desprender da incerteza do futuro para vivermos a importancia do presente, precisamos abrir mão da hora seguinte para apanharmos o unico momento a nossa disposição.


    Quero terminar lembrando da filosofia de Epicuro que diz carpe diem, "colhe as rosas enquanto podes".

    Alan Corrêa
    www.leidosentidocomum.blogspot.com

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  2. Sinto-me triste, pois sempre, o ser humano chega ao fim, e tudo o que sabe dizer é: eu deveria ter feito mais, deveria ter aproveitado mais. Seja no fim de uma escola, de um curso, de um namoro, de uma viagem, ou no fim de uma vida.

    Tenho medo de chegar na velhice e descobrir que eu deveria ter feito tudo diferente. Mas, é uma viagem que não tem volta. Então, vou ter que escolher o proceder da minha vida. Difícil, rs. Afinal, viver não é "preciso". (:

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  3. Lindo...adorei o texto de borges....

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