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E-M@IL PARA O APÓSTOLO PAULO


Pr. Daniel Rocha
Amado apóstolo:

Estou escrevendo para colocá-lo a par da situação do Evangelho que um dia você ajudou a propagar para nós gentios, e que lhe custou a própria vida. As coisas estão muito difíceis por aqui. Quase tudo o que você escreveu foi esquecido ou deturpado.

Você foi bastante claro ao despedir-se dos irmãos em Éfeso, alertando que depois de sua partida lobos vorazes penetrariam em meio à igreja, e não poupariam o rebanho [1]. Palavras de fato inspiradas, pois isso se concretiza a cada dia.

Lembra-se que você escreveu ao jovem Timóteo, que o amor ao dinheiro era a “raiz de todos os males”[2]? Quero que saiba que suas palavras foram invertidas, e agora se prega que o dinheiro é a “solução” de todos os males.

Também é com tristeza que lhe digo que em nossa época ninguém mais quer ser chamado de pastor, missionário ou evangelista, pois isso é por demais humilde: um bom número almeja levar o título de apóstolo. Sei que em seu tempo, os apóstolos eram “fracos... desprezíveis... espetáculo para os homens... loucos... sem morada certa... injuriados... lixo e escória” [3]. Agora é bem diferente. Trata-se de uma honraria muito grande: acercam-se de serviçais que lhes admiram, quando viajam exigem as melhores hospedarias e são recebidos nos palácios dos governantes.

Eles não costumam pregar seus textos, pois você fala muito da “Graça” e da “liberdade que temos em Cristo” [4]. Isso não soa bem hoje, pois a Igreja voltou à “teologia da retribuição” da Antiga Aliança (só recebe quem merece), e liberdade é a última coisa que os pastores querem pregar à suas ovelhas.

Você não é bem visto por aqui, pois sempre foi muito humano, sem jamais esconder suas fraquezas: chegou até reconhecer contradições internas e que não faz o bem que prefere, mas o mal, esse faz [5]. Eles não gostam disso, pois sempre se apresentam inabaláveis e sem espinhos na carne como você. A presença deles é forte, a sua fraca [6], eles são saudáveis, você sofria de alguma coisa nos olhos [7], eles jamais recomendariam a um irmão tomar remédio, como você fez com Timóteo [8], mas aqui eles oram e determinam a cura – coisa que você nunca fez.

Você dizia que por amor a Cristo perdeu “todas as cousas” considerando-as refugo [9]. As coisas mudaram, irmão. Agora cantamos: “Restitui, quero de volta o que é meu!”.

Vivo em uma cidade que recebeu o seu nome, e aqui há um apóstolo que após as pregações distribui lencinhos vermelhos encharcados de suor, e as pessoas levam pra casa, como fizeram em Éfeso, imaginando que afastarão enfermidades [10]. Sim, eu sei que você nunca ordenou isso, nem colocou como doutrina para a igreja nas epístolas, mas sabe como é o povo....

Admiro sua coragem por ter expulsado um “espírito adivinhador” daquela jovem [11], embora isso tenha lhe custado a prisão e açoites. Você não se deixou enganar só porque ela acertava o prognóstico. Hoje há uma profusão de pitonisas e prognosticadores no meio do povo de Deus, todavia esses espíritos não são mais expulsos, ao contrário, nos reunimos ansiosos para ouvir o que eles têm a dizer para nós.

Gostaria de ter conhecido os irmãos bereanos que você elogiou. Infelizmente, quase não existem mais igrejas como as de Beréia, que recebam a palavra com avidez e examinem as Escrituras “todos os dias para ver se as coisas são de fato assim”[12].

Tem hora que a gente desanima e se sente fragilizado como Timóteo, o seu companheiro de lutas. Mas que coisa bonita foi quando você o reanimou insistindo para que reavivasse “o dom de Deus” que havia nele [13]. Estou lhe confessando isso, pois atualmente 90% dos pregadores oferecem uma “nova unção” para quem fraqueja. Amo esta sua exortação, pois você ensina que dentro de nós já existe o poder do Espírito, e não precisamos buscar nada fora ou nada novo!

Nossos cultos não são mais como em sua época, onde a igreja se reunia na casa de um irmão, havia comunhão, orações, e a palavra explanada era o prato principal.... as coisas mudaram: culto agora é chamado de “show”, a fumaça não é mais da nuvem gloriosa da presença de Deus, mas do gelo seco, e a palavra é só para ensinar como conseguir mais coisas do céu.

O Espírito lhe revelou que nos últimos tempos alguns apostatariam da fé “por obedecerem a espíritos enganadores” [14]. Essa profecia já está se cumprindo cabalmente, e creio que de forma irreversível.

Amado apóstolo, sinto ter lhe incomodado em seu merecido descanso eternal, mas eu precisava desabafar. Um dia estaremos todos juntos reunidos com a verdadeira Igreja de Cristo.


Pr. Daniel Rocha é da Igreja Metodista e nos enviou este artigo por e-mail. É o autor da Primeira Epístola de Paulo aos Brasileiros

[1] At 20.23
[2] 1Tm 6.10
[3] 1Co 4.-9-13
[4] Gl 2.4
[5] Rm 7.19
[6] 2Co 10.10
[7] Gl 4.13-15
[8] 1Tm 5.23
[9] Fp 3.8
[10] At 19.12
[11] At 17.18
[12] At 17.11
[13] 2Tm 1.6
[14] 1Tm 4.1
Apologética 5687103817904464093

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  1. FANTÁSTICO PASTOR!!!

    q DEUS o abençoe!

    PaZ.

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  2. Deveria estar escrito: "...e a palavra é só para ensinar como conseguir mais coisas NA TERR

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  3. Paz irmão..
    Gosto do site dos irmãos mas,não posso ser hiótrita,não concordo com tudo....
    Paz

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  4. ÓTIMO!!!

    Nas igrejas protestantes, parece que calvinismo e seu amor ao lucro e ao prazer terreno é mais importante do que o cumprimento da Lei e dos Profetas, descritos no Sermão da Montanha segundo São Mateus.

    Que o amor de Nosso Senhor e a intercessão de Nossa Senhora estejam com todos vocês.

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  5. me dividi ao ler esse texto entre uns poucos risos e um sentimento de tristeza, pela constatação da realidade apresentada.
    apenas não concordei com a afirmação do irmão católico que afirmou estarem as igrejas preocupadas com calvinismo... creio que essa afirmação podia estar contextualizada se fosse alguns séculos atrás, mas não nos nossos dias onde teologia passa longe da cristandade.
    também como dito, a relação do calvinismo com a busca pelo sucesso financeiro ainda não foi muito feliz, pois foi uma interpretação posterior que levou realmente os protestantes as práticas mais capitalistas, como apontou o sociólogo Max Webber, em seu livro a ética protestante e o espírito do capitalismo, onde o mesmo verifica estarem as interpretações protestantes de algumas passagens bíblicas muito ligadas com a busca pelo acúmulo de riqueza, interpretando o sucesso como sinal da benção divina; porém completa sua exposição deixando claro que nem Lutero nem Calvino tinham isso em mente.

    a paz.

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  6. Caro,
    sem dúvida um ótimo desabafo. Gostei da forma como escreveu, e compartilho com alguém que também comentou, o sentimento de tristeza... Espero que todos nós possamos fazer a diferença para que a genuína Palavra de Deus alcance os corações de nossos irmãos e daqueles que ainda não fazem parte desta família que Ele uniu.

    Somente uma sugestão de mudança no texto. Foi escrito: "Palavras de fato inspiradas, pois isso se concretiza a cada dia." As palavras do texto sagrado são inspirados independente de enxergarmos que elas estão se concretizando ou não... Mas acredito que você sabe disso e que não tenha sido sua intenção de falar o que eu sugeri poder ser uma interpretação.

    Abraços!
    T. Zambelli

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