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Medo do diabo

por Zé Luís

Usando a citação de Gabriel Garcia Marques, sobre o querer escrever: quando somos jovens, não temos conteúdo próprio suficiente para contar uma história. Quando estamos velhos, não lembramos mais do conteúdo que acumulamos pela vida.

Pensava que o problema de memória era apenas meu, mas é problema humano, cada vez mais intenso entre os meus. É como deixássemos de existir por um instante,e um enorme apagador viesse do passado, nos deixando apenas "o agora". Falta de memória pode intensificar a falta de sentido da vida e deixar incompreensível o sentimento de ingratidão que nos inunda.

Tenho a sensação de citar sempre as mesmas coisas às mesmas pessoas e estar fazendo isso pela vida que passa e não volta, e alertar a todos sobre a desnecessidade - e a incoerência - do medo frequente na vida dos que professam serem genuinamente Dele, sempre recebendo um sorriso de quem ouve, mas não se interessa.

O medo cristão do diabo e sua vontade de digladiar contra ele é algo insensatamente comum naqueles que se propõem a combater o Bom Combate. O que o inferno pode é soprar, mas só se o Mestre disser: “Sopre...”. O diabo mata? Só se o Criador disser: “pode fazer”.

Tateamos angustiados buscando a trilha segura contra o mal, caçando quem nos revele onde pode estar o maldito capeta, esperando que nos mostrem se ele infiltrou-se ali ou acolá, quando o Caminho se responsabilizou por nos proteger Nele. Lessem o legado que Ele nos deixou, não haveriam tantos profissionais do medo.

Quando o Apocalipse cita que o diabo é liberado após o milênio, juntando rapidamente um exército, quem o liberta é um anjo, e o faz como quem tira um coelho de uma pequenina cartola, como quem tira um periquito de uma gaiola, um tição apagado que fumega o calor dos que já não queimam.

Creio que o pavor que cristãos cultuam pelo diabo está relacionado a falta de Graça: se tivermos que debater no juízo com esse ser maléfico, justificando nossos atos contra a acusação dele, não haveria esperança: das iscas propostas, mordemos quase todas. O problema é que muitas destas acusações não são pecados realmente, mas aceitamos que eles sejam como por usarmos em nossa vida, com o pretexto de manter a ordem em nossas comunidades. A ordem do medo.

Nessa miscelânea de coisas que são e que não são, nesta tempestade de entendimentos contrários, nessa absurda luta para se manter no topo da torre babilônica que detém a informação confiável nos perdemos.

A falta de memória nos remove o episódio onde o ladrão morre salvo, sem teologia, sem ter conhecido um culto, sem saber sobre os benefícios da vida Cristã e os 10 passos que o levariam a isso. O ladrão morre salvo pela vontade do Mestre moribundo.

Teu medo não te aproxima de Deus, valoriza o diabo, desvaloriza a gratuidade da Graça e zomba do poder de Deus em salvar e cuidar dos seus.

Zé Luís, outro que blogueia pela net, também colabora aqui no Genizah.
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Postar um comentário

  1. Tocou no final do post num ponto que eu acho de estrema importância, a teologia, a exegese, a apologética, entre outras coisas, são perfeitamente descartáveis, só a Palavra já basta, estou ouvindo risadas, em 1 2 3 e já!

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