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Mudança de paradigmas


Hermes C. Fernandes


Jesus tem muitos admiradores, porém, poucos discípulos.

Tem muitos adoradores, mas poucos seguidores.

Muitos chamados, poucos escolhidos.

Seguir Jesus é muito mais do que aceitar um dogma, é dispor-se a quebrar paradigmas que vêm formatando nossa civilização por milênios.

Quero destacar aqui três destes paradigmas:

# Comparação # Competição # Concentração

Nossa sociedade está alicerçada sobre este tripé. Ele é, por assim dizer, a trindade comportamental que forma nosso Ego.

Para que o Reino de Deus seja estabelecido entre os homens, há que se fazer uma limpeza no terreno antes de lançar seus fundamentos. Estes paradigmas têm que ser removidos para dar lugar a novos paradigmas, que por sua vez são centrados em Deus e no semelhante, e não no indivíduo em si.

Em lugar da comparação, complementação. Ninguém é melhor ou pior do que o outro. Se Deus desse a todos os mesmos dons e aptidões, tornaríamos como ilhas auto-suficientes. Em vez disso, Deus distribuiu dons da maneira como Lhe aprouve, para que aprendêssemos a depender uns dos outros. Portanto, é perda de tempo ficar fazendo comparações. Se sou melhor em algo, isso não me dá o direito de vangloriar-me. Certamente alguém é muito melhor do que eu em alguma outra coisa. Devemos sim, complementar uns aos outros. Se naquilo em que sou fraco, você é forte, devemos dar os braços e caminhar juntos. Meus dons não me fazem superior àquele que não os recebeu, mas me fazem seu servo. Deus confiou-os a mim para que os usasse em benefício comum. Da mesma maneira, não devo invejar aquele que recebeu o que me falta. Devo enxergá-lo como alguém a quem Deus confiou algo para me complementar.

É da comparação que surge a competição. Queremos provar para todos o quanto somos bons e melhores do que outros. Porém, se nos livrarmos do paradigma da comparação, o paradigma da competição ficará orfão. Se nos complementamos, logo, o lugar da competição será cedido à cooperação. O que somos afetará a maneira como operamos. Somos todos dependentes uns dos outros, e por isso, devemos co-operar, trabalhar em conjunto visando um bem comum.

E quanto ao fruto deste trabalho? Numa sociedade competitiva, o fruto deve ser concentrado nas mãos de quem produz. Mas em uma sociedade cooperativa, o paradigma da distribuição dos frutos deixa de ser a concentração para ser a comunhão. Foi isso que a igreja primitiva experimentou. Todos tinham tudo em comum.

Não cabe ao Estado distribuir igualmente os bens entre seus cidadãos. É a consciência transformada pela graça que deve levar os cidadãos do reino a reconhecerem que tudo quanto Deus lhes proporcionou deve ser partilhado com os demais. Se não derrubarmos antes os paradigmas da comparação e da competição, jamais nos disporemos a abrir mão do ‘sagrado’ direito de concentrar bens. Por isso a sociedade é tão injusta. Seus alicerces estão carcomidos pelo egoísmo humano.

Comunhão não é algo que se impõe, nem por autoridades eclesiásticas, nem por autoridades civis. Os crentes primitivos só se dispunham a compartilhar seus bens entre a comunidade porque“era um o coração e alma da multidão dos que criam” (At.4:32a). Portanto, não havia lugar para competitividade ou mesmo para comparações.

Quando estes sentimentos começaram a brotar, Paulo, o apóstolo, os combateu com veemência, chegando mesmo a implorar para que não permitissem que eles comprometessem a unidade original dos crentes (1 Co.1:10). Dirigindo-se aos coríntios, Paulo os acusa de serem carnais, e justifica: “Pois havendo entre vós inveja e contendas, não sois carnais, e não andais segundo os homens?” (1 Co.3:3). “Inveja” e “contendas” nada mais são do que os velhos paradigmas que têm guiado a humanidade por longas eras. Só há inveja onde haja comparação (A grama do vizinho sempre parece mais ver que a nossa). Só há contendas onde haja competição (Vamos tirar a prova e ver quem é melhor, ou quem tem a razão!).

Em posse de novos paradigmas, Paulo detona aquela fortaleza espiritual que insistia em manter-se de pé entre os cristãos de Corinto:

“Afinal de contas, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e isto conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou, mas Deus deu o crescimento. Pelo que, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um, e cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho. Pois somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus” (1 Co.3:5-9).

Quanta sensibilidade há neste texto paulino! Quanta humildade. Paulo deixa claro que não estava numa disputa com Apolo pela primazia daquela igreja. Eles não eram rivais, mas cooperadores. Em vez de inveja, o que havia era reconhecimento à importância do outro. Em vez de contendas, trabalho conjunto.

Infelizmente, parece que a igreja ainda não conseguiu virar esta página, e vem recapitulando o mesmo erro dos coríntios por séculos. Urge levantar-se uma nova geração de cristãos comprometidos com os paradigmas do reino, que desprezem a feira de vaidades em que se tornou nossos ajuntamentos, e encarnem o modus vivendi de seu Mestre, Salvador e Rei.


Hermes Fernandes é também culpado do que se faz aqui no Genizah

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  1. Oi Hermes,tudo bem?

    Vc já pensou em lançar um livro só com os artigos que vc escreve aqui no genizah?
    Não sei se já tem material suficiente,mas fica aqui a sugestão!

    Um abraço!

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  2. Belíssimo texto, excelente! Parabéns!

    Eu até chorei(em línguas estranhas). Eu queria ter um pai assim, viu? Me adota, Hermes? Vc não vai ter gasto nenhum, já tô velho, já trabalho.

    PS: depois de um elogio deste, cuidado com o ego, heim?

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  3. Cibele, Te digo mais. Seria eu não cristão se resolvesse expor e contestar um pobre coitado que acha que diferenças na interpretação escatológica são sinais de heresias. Algumas são! Mas há várias correntes aceitas! Da mesma forma não vou eu aqui botar dedo na cara de calvistas ou arminianos... Sinceramente, eu sei no que acredito, mas respeito outra visão que tem suporte bíblico e é do entendimento de muitos sinceros.

    Faça-me o favor!

    Então diri que todo arminiano é igual ao Feliciano ou Malafaia. Ou todo calvinista é fundamentalista...

    Não entendes o que lês?

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Não Cibele. Jesus ainda não voltou em Glória; risos. Mas voltara, como prometeu! Tão pouco nos abandonou. Disse que estaria entre nós, lembra... E nos enviou o consolador.

    Sendo assim, como ELE REINA e não nos abandonou, segue conosco e tambem voltará em Glória;

    A visão não é do Hermes, ou minha. Mas de muitos estudiosos que se dividem em intepretaçoes sobre como se dará esta volta em Gloria, de que forma - discutem sobre aquilo que a Biblia deixa margem para tal e nao sobre o que é claro.

    A escatologia tem muitos meandros e á a mais dificil das materias, por isto tantas divergencias.

    Pesquise autores sérios sobre todas as diferentes visões. Há homens de Deus defendendo diferentes possibilidades, todas com base bíblica.

    Veja o que pensa Piper, Sproul, Spurgeon, Doug Wilson , etc

    Apenas para a sua surpresa: Jonathan Edwards, um dos maiores pregadores de todos os tempos, foi pos milenista, como Hermes. Tambem o foram a maioria dos primeiros missionarios, como William Carey.

    Cibele, instrua-se entre os preparados e aprovados. Esqueça os destrambelhados e, ai tome a sua decisão e escolha, ou continue estudando.

    Eu mesmo ainda não tenho opinião consolidada, caso queira saber. A apologética me atrai mais a atenção e foco mais nela.

    Quanto ao arrebatamento e outras visões dispensasionalistas, estas sim são mais novas e até pouco tempo minoritárias...

    Eu não me julgo preparado para discutir este assunto em profundidade, mas te dei as fontes.

    Contudo, duas coisas eu sei:

    Cristo não era de agir em "SEGREDOS" Ele foi em Glória e disse que voltaria assim. Sem deixar duvidas.

    E se houver mesmo arrebatamento secreto, não creio que serão os apostolos de mansoes ou os paranoicos e esquizofrenicos escondidos, os escolhidos. Mas aqueles que estao no campo, nas missoes, dando a cara a tapa e a cabeça à pedra...

    Paz e Bem.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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