Regivaldo quer casar, mas ela é separada e o pastor o que foi que disse?

Digão

OK, OK, você se casou, com a festa bonita, seu noivo todo cheiroso, emperiquitado, com terno comprado na Cia. do Terno em 10 prestações. Lua de mel gostosa, em Guarapari, no apartamento da tia do sobrinho da amiga do colega de trabalho que só passou para perguntar as horas, e que emprestou o lugar.

Mas, depois de um tempo, aconteceu no casamento o que acontece mesmo com quem não escuta música gospel e nem faz campanha do vale do sal: seu marido, em vez de príncipe, virou sapo. E o que é pior, daqueles sapos gosmentos e puladores de cerca. Ele resolveu fugir com a Odelina, a cabeleireira vizinha, 30 anos mais velha e 50 quilos mais gorda e pelancuda. E com um bigode de fazer o Sarney chorar de inveja. Vai ver é um complexo de Édipo não-resolvido.

Mas eis que, depois do aconselhamento com seu pastor, aparece na igreja o Regivaldo, rapaz bom moço, crente de verdade e que gostou de você. Ele não se importa com o rótulo de “separada” que aquelas irmãs invejosas te jogaram. Ele apenas quer casar bonitinho, e ser fiel para sempre a você. Puxa vida, que beleza! Até que enfim, uma boa notícia! Qual vai ser a resposta do pastor, ao ser perguntado se ele abençoa ou não seu novo casamento?

Não sei o pastor da pobre moça, mas vou dar meu ponto de vista. Papai do Céu foi muito legal comigo, pois tenho sido feliz em meu casamento. São 13 anos de vida comum, isso sem contar o tempo de namoro e noivado (mais cinco anos). Mas também conheço o outro lado da moeda. Não, não estou casado pela segunda vez, mas sou oriundo de um casamento desfeito, com todos os barracos e clichês propícios.

O casamento é um projeto de Deus para a vida toda. Deus tencionava (e ainda tenciona) que os relacionamentos sejam duradouros, fieis e de complementação mútua. Mas a realidade nua e crua não é assim, tanto é que Ele também sabe disso.

A primeira vez que o divórcio é citado na Bíblia é Dt 24.1. Moisés não estava apoiando a idéia do divórcio, mas simplesmente constatando algo que já existia, que é a dureza do coração do homem. Relacionamento matrimonial não é fácil, desde aquele tempo! Jesus explica bem isso em Mt 19.8, quando afirma que a causa do divórcio é a natureza pecadora do homem.

Quanto a isso, é mais ou menos consenso no meio evangélico, sem muita dor, a não ser em círculos de extremo fundamentalismo. Mas, o que dizer da pessoa “culpada”, ou seja, daquela que traiu no casamento, resultando no divórcio? Há jeito para ela, se quiser casar de novo?

Primeiramente, acredito piamente no ditado “onde um não quer, dois não fazem”. A não ser que um dos cônjuges seja um completo sociopata e o outro uma espécie de cruzamento moderno entre Madre Tereza de Calcutá e Gandhi, o divórcio em decorrência da traição é culpa dos dois, em maior ou menor grau, obviamente. Isso porque se o casal for bem ajustado, com franqueza e liberdade entre os dois, nunca o outro procurará a grama verde do vizinho.

Segundo, devemos entender que o adultério é um pecado. Assim como a mentira, o assassinato, o “gato” na energia que algumas igrejas fazem... Só que a Bíblia nos fala sobre como Deus trata o pecado: deve ser confessado e abandonado; uma vez confessado, seremos completamente purificados (1 Jo 1.9). A partir daí, é nova vida. O perdão de Deus nos faz “zerados”.

“Peraê, pastô”, você pode dizer, “isso é safadeza! O que garante que o sujeito não vai trair de novo?” A mesma coisa que garante que não queremos pecar o mesmo pecado que pedimos perdão e fomos perdoados. Isso se chama “graça”. Essa graça de Deus é escandalosa mesmo. Para os nossos padrões, é até injusta. Bom, mas se Deus fosse usar apenas Sua justiça, não estaríamos agora discutindo isso aqui, e sim compartilhando a mesma caverna insalubre no inferno, não é mesmo? Mas, como Ele também usa Sua misericórdia, podemos ter a chance de recomeçar.

Digão defafia paradigmas no Genizah