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Perdoa-me por me enganares


Hermes C. Fernandes


“Perdoa-me por me traíres” é um filme brasileiro de 1983, dirigido por Braz Chediak e com roteiro adaptado de um texto de Nelson Rodrigues. No drama, o marido começa a sentir ciúme doentio da esposa, que, para fazer jus à sua desconfiança, passa a agir de acordo com suas acusações. Chega a um ponto em que o marido tem que reconhecer que é o principal culpado pelas traições da esposa. Este título cairia muito bem dentro da relação vivida em muitas igrejas entre os que enganam e os que se deixam enganar.

Até que ponto temos responsabilidade pelo sucesso adquirido por certos ministérios que se apostataram da verdade?

Recentemente assistimos à confissão de um conferencista que admitiu ter mentido em suas palestras e testemunhos. Que bom que ele pediu perdão. Porém, persistiu na mentira por dez anos. Por quê? Por que não se arrependeu antes? Como pode deitar a cabeça no travesseiro à noite todo esse tempo sabendo que iludia pessoas? Entre outras mentiras, ele contava ter sido curado de síndrome de down. Quantos pais de filhos portadores desta mesma síndrome se encheram de esperança, que logo fora substituída por uma imensa frustração por não terem alcançado o mesmo resultado? Isso me enoja. Tenho uma filha especial e sei o quanto dói. Embora Deus a tenha feito andar, quando os médicos lhe haviam desenganado, ela continua sendo uma criança especial. Não tenho o direito de acrescentar nada ao seu testemunho.

Os aplausos que recebia, os convites para pregar dentro e fora do Brasil, as ofertas, a vendagem dos CDs e DVDs, enfim, era muita coisa em jogo. Romper com tudo isso requereria muita coragem e disposição para sofrer o prejuízo.

Assim como ele veio a público demonstrando arrependimento, sugiro que seus fãs, seguidores e apoiadores também venham a público se arrependendo de sua ingenuidade e do incentivo que deram para que continuasse a mentir. Seu líder, em vez de simplesmente se desculpar, deveria igualmente se arrepender de tê-lo apoiado sem averiguar a veracidade de seus testemunhos.

Enquanto houver quem apóie este circo gospel que se armou em nossa nação, dificilmente alguém terá a coragem que teve Davi Silva.

Tão culpados quanto os falsos mestres são aqueles que sentem comichão nos ouvidos, atraídos por novidades, novas revelações e ventos de doutrina. Paulo os denuncia dizendo que os tais“cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças; se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando às fábulas” (2 Tm. 4:3-4).

Tenho a nítida impressão de que essa gente gosta mesmo de ser enganada. Minha conclusão, baseada nas Escrituras, é que tais ministérios de iniqüidade são juízo de Deus sobre os que não buscam nem amam a verdade, e sim a conveniência. “Por isso Deus lhes envia a operação do erro, para que creiam na mentira, e para que sejam julgados todos os que não creram na verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade” (2 Ts. 2:9-12).

Poucos são os que de fato podem ser considerados inocentes. A maioria não é ingênua, mas tão-somente busca ouvir o que lhe apraz. Por isso os mentirosos se dão bem.

Não basta que os enganadores se arrependam. Os enganados também precisam se arrrepender e voltar-se para a Verdade.

Há uma indústria de testemunhos que precisa falir. Mas enquanto houver pastores dispostos a pagar os cachês exigidos por esses “testemunheiros profissionais”, esta indústria prosseguirá a todo vapor.

Cantores que cobram cachês de igrejas para louvar têm que vir a público e pedir perdão. Mas pastores que se prontificam a pagar também têm que confessar seu pecado.

Espero sinceramente que a confissão de Davi Silva seja aquela nuvenzinha do tamanho de uma mão, que anuncie a chegada de uma abundante chuva. Que muitos outros o tomem como exemplo e se arrependem de suas mentiras, não só as ditas no púlpito, mas também as espalhadas pelos corredores, proferidas nos gabinetes, estampadas nos outdoors, postadas nos blogs, etc.

Não adianta dizer que mentiu com a melhor das intenções, no afã de estimular a fé das pessoas, ou mesmo para a glória de Deus. Ora, Deus não precisa de embustes para ser glorificado. Sejamos, pois, verdadeiros em tudo para que mais tarde não tenhamos do que nos envergonhar, nem do que nos arrepender, e assim, poupemos o Evangelho de mais um escândalo.


Hermes Fernandes é um dos mentores da Santa Subversão Reinista no Genizah

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  1. Ainda bem que igreja evangélica não tem confessionário... Ia dar volta na Terra esta fila...

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  2. Há um exemplo bíblico notável sobre arrependimento: Zaqueu.
    Proponho que ele, para evidenciar o arrpendimento segundo Deus, cumpra a Palavra:"E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado." (Lucas 19 : 8)

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  3. Graças a Deus pelo protestantismo, a Igreja Católica não precisa destes que não amam nem buscam a verdade, evangélicos! multipliquem-se em sua própria iniquidade! levem pra vós aqueles que tais coisas buscam! antes um ímpio lá do que cá.

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  4. Concordo com o autor. Poucas pessoas podem dizer que realmente foram enganadas por esses falsos profetas, acho que só os analfabetos podem dizer isso pois não sabem ler e acreditam naquilo q ouvem, mas todo aquele que sabe ler é indesculpável, uma vez que pode recorrer a Palavra de Deus e ao E.S. para discernir aquilo que é herético ou não.

    Fabiane.

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  5. Assino embaixo, tudo o que o escritor colocou nesse artigo.

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  6. Hermes,quando leio palavras sábias como estas,lembro-me de Jeremias 3:15: "Dar-vos-eis pastores segundo o meu coração,que vos apascentem com conhecimento e com inteligência."
    Não conheço você,não sei se é pastor,mas na essência tenho certeza de que é,porque o verbo revela o homem.E é um verdadeiro alento,não só para mim,mas para muitos,saber que ainda há outros tantos assim(Renato Vargens,Antônio Carlos Costa,Ariovaldo Ramos,David Wilkerson,Paul Washer...).Isso não é para a glória de vocês,mas de Deus.E sei que vocês não querem se gloriar a não ser na cruz.
    Tenho muita estrada de evangelho,e já tive pastores de todo o tipo.O que me batizou,eu descobri depois que era maçom.Teve um que rogou praga porque não aceitei a doutrina da cobertura espiritual;eu,hein,se o pastor não pagava o aluguel e deixou o fiador, que era membro da comunidade,na pior,imagine quem ia cobrir minha vida?!
    Ainda assim,nunca deixei de me congregar,pois penso que a nuvem de Deus sempre estará em algum lugar.
    Hoje ouvi um debate numa rádio evangélica,mas peguei quase no final.Confesso que não tenho muita paciência para fazê-lo,e as vezes é um divertimento,porque falam algumas abobrinhas.Acho que foi você que também participou,e eu fiquei muito feliz pela precisão de seus comentários.É o famoso nem tudo está perdido!
    Só peço ao irmão que continue postando,que continue participando de oportunidades que surjam,porque episódios tristes como o do Davi Silva,e tantos outros só acontecem por dois motivos:porque o nosso povo é chegado a um me engana,que eu gosto.(alguns líderes fingem que pregam e vivem o evangelho e suas ovelhas fingem que acreditam);e porque os homens do verdadeiro apostolado não se colocam na brecha.É por isso que sou grata a Deus por blogs como este,que já estou recomendando a amigos que se decepcionaram tanto e estão tão machucados,que ficaram pelo caminho.
    Que o Senhor continue lhe abençoando e guardando!

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  7. Chico Buarque (ou será Xavier), dos intelectuais congelados destepaiz, usou o verso "te perdôo por te trair". Certamente daí. Um abraço, Hermes. ssp.

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  8. Hermes, amado, obrigado pela palavra... Mandou bem. Sem retoques. Beijão, mano!

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  9. Parabéns pelo texto Hermes
    Precisamos de Pastores preparados como o Irmão
    Que Deus continue abençoando o Seu Ministério!

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