Aposentada e criança de cinco anos são assassinadas ao irem orar no Monte

Hermes C. Fernandes

Uma aposentada e sua neta de cinco aninhos foram mortas brutalmente em um monte em Nova Iguaçu, RJ, onde crentes costumam orar. A mulher foi asfixiada com a toalha que levou para cobrir o chão, e a criança foi encontrada morta pendurada numa árvore. A polícia trabalha com a possibilidade de terem sido assassinadas por haverem testemunhado algum crime. (Veja a notícia no Globo On Line).

A aposentada saiu para o monte na última quinta-feira por volta das 8h da manhã, e passou na casa da filha para pedir que a neta a acompanhasse. A família sentiu falta da criança que não voltou para ir pra escola. Quando foram ao monte, encontraram-nas mortas.

Subir ao monte é uma tradição mantida por crentes de muitas denominações pentecostais. Lembro-me que quando criança minha mãe tinha o mesmo costume, e eu a acompanhava juntamente com outras irmãs da igreja. Saíamos sempre de manhã bem cedo, por acharmos que era mais seguro.

Confesso que gostava de acompanhá-la para o monte. Era uma experiência extraordinária para um menino de 8 anos. Algumas vezes assistimos o sol nascer enquanto subíamos.

Mantive a tradição de subir ao monte até os meus vinte anos. Comecei a questioná-la quando assisti a alguns abusos por parte de pastores que levavam seu rebanho para orar.

Um deles disse que Deus lhe havia revelado que os irmãos deveriam subir ao monte de joelhos se quisessem receber uma grande bênção de Deus. Fui chamado de fariseu por não concordar com aquele sacrifício inútil. Não gosto sequer de me lembrar daquela cena em que irmãs septuagenárias chegavam ao topo com os joelhos sangrando. Éramos mais de cem pessoas, incluindo crianças e idosos. Sem dizer que em lá chegando, não conseguíamos orar, porque as meninas da mocidade pulavam tanto que corriam o risco de cair na fogueira acesa com os pedidos de oração, ou em algum precipício. Passávamos quase todo tempo cercando-as para evitar um acidente enquanto elas tinham aquele "êxtase" espiritual. Comecei a achar tudo aquilo muito bizarro.

Mesmo assim, continuei a subir a montes. Mesmo sabendo do risco, pois já naquela época aconteciam coisas terríveis, como o estupro da esposa de um pastor. Só desisti dessa prática quando meu pai começou a me chamar a atenção, dizendo que Deus não se agradava de sacrifícios de tolos.

Quando abracei a doutrina reformada, abandonei de vez tal prática. Não condeno quem suba ao monte com a intenção de orar, de ficar a sós com Deus; o que me incomoda é saber que muitos desses irmãos se expõem desnecessariamente, não pela privacidade que o lugar oferece, mas pela superstição, por acreditarem que quanto mais alto o lugar, mais próximos de Deus estarão, ou que quanto maior o sacrifício da subida, maior será a recompensa de Deus. Qual a diferença entre tal prática e a subida das escadarias da Igreja de Nossa Senhora da Penha por parte dos católicos?

Só o conhecimento da graça para nos libertar desse jugo.

É verdade que Jesus tinha o hábito de orar nos montes, porém não instituiu qualquer mandamento para isso. Pelo contrário; segundo Ele o melhor lugar para ficarmos a sós com o Pai é o nosso quarto. Ademais, não encontramos no livro de Atos ou nas epístolas qualquer exemplo de que os apóstolos e os cristãos primitivos tenham continuado essa prática.

O monte tem sido um laboratório de heresias e esoterismo travestido de espiritualidade cristã. Sem contar o número de divisões de igrejas que teve ponto de partida nessas vigílias no monte. Conheço o caso de um pastor que pertencia ao nosso ministério, que usufruia de toda nossa confiança. Era um verdadeiro filho, em que colocávamos muita expectativa. De repente, começou a freqüentar montes com outros homens. Dessas reuniões surgiu um espírito de rebelião que culminou com a divisão de uma de nossas mais queridas igrejas.

Se orar no monte fosse tão importante, os discípulos teriam esperado a promessa do Espírito Santo no monte em vez de no cenáculo.

Espero que este caso triste leve muitos cristãos a refletirem sobre a exposição desnecessária à que se submetem ao preferir o monte à segurança e privacidade de seus quartos.

Hermes Fernandes é um dos mentores da Santa Subversão Reinista no Genizah