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Servir: a verdadeira autoridade


Alan Brizotti


“Nós amamos, servimos e cuidamos dos outros porque esta é a conduta normal de pessoas cheias do Espírito de Deus. Somos cristãos. Cristo foi o maior servo. Não podemos deixar de servir porque o Espírito do Servo tem enchido nosso coração. Quando servimos, estamos sendo apenas quem naturalmente somos”. (Steve Sjogren)

Pouca coisa é tão bela quanto a autoridade que serve! Numa sociedade viciada em mídia, obcecada pelos aplausos, a tentação de ser servido asfixia o servir. Muitos, cegos pelas luzes dos holofotes da híper-modernidade, invertem os pólos do ministério: ao invés de servos, tornam-se faraós.

Confundir autoridade com autoritarismo gera uma deturpação de essências. Uma adulteração de sentido que pode causar sérios danos ao andamento da obra de Deus. Em Mateus 4. 8 e 9, o diabo oferece a Jesus esse tipo de aberração: “Levou-o novamente o diabo a um monte muito alto, e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E lhe disse: ‘Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares’”. O diabo oferece ao Senhor um autoritarismo que seduz, que vem para ser servido e não “para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt. 20.28).

Autoridade que não gera serviço é contradição! Autoridade que não serve é ditadura! A genuína autoridade é sempre uma abertura para o outro. Ela existe na proporção em que enxerga o outro, com suas deficiências, e assim, serve. Sem essa consciência toda autoridade perde sua lógica, transforma-se numa espécie de jogo mortal, onde a qualquer momento, alguém perde.

A autoridade que serve aprende a real glória dos dons. Enxerga as necessidades com o olhar que acredita na possibilidade da mudança. Serviço sem autoridade vira neurose. Autoridade é servir com a alma, com o coração. É ter a certeza feliz de que a vocação e a vida estão em pleno acordo. Quando esses dois pólos – a autoridade e o serviço – estão equilibrados, tudo flui melhor. Quando o desequilíbrio se apresenta, tudo corre um sério risco.

Perigos da autoridade sem serviço

Se não há serviço, o ócio arma sua tenda. O ócio é a doença dos que não querem servir. Nizan Guanaes recomenda um texto de um discurso de paraninfo para uma das turmas da Faap, Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo, onde o autor diz: “É preferível o erro à omissão. O fracasso, ao tédio. Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não-fazer, o remanso”. Na ânsia de disfarçar o ócio, muitos usam a “autoridade” para “delegar”, e com isso, fugirem do serviço.

Outro sério perigo de uma autoridade sem serviço está na centralização exacerbada. Há ministros que, em nome da autoridade, assumem uma centralização tão exagerada que passam a ser vistos como imperadores e não como servos. Philip Yancey diz que “a única vez em que Jesus esteve acima das pessoas foi quando esteve cravado na cruz, e nesse momento, estava igual a todos”. Quanto mais a autoridade se afastar do serviço, mais a centralização nos afastará de Cristo.

Paulo e Pedro chamam “servir” de dom espiritual (Rm. 12.7; I Pe. 4.11). O verbo diakoneo é comum e pode referir-se a qualquer tipo de serviço pastoral ou (o que é mais provável) prático. Ho diakoneo é o garçom que serve à mesa (Lc. 22.26) e a mesma palavra é usada para o trabalho doméstico de Marta (Lc. 10.40). Depois, Paulo menciona em I Co. 12.28 dois charismata traduzidos por “socorros e governos” (antilempseis e kyberneseis). A primeira palavra aparece somente aqui no Novo Testamento, mas é corretamente traduzida por “ajuda” ou “atos de ajuda”. Parece ser outro termo geral como “serviço”.

Kyberneseis por sua vez, significa “administração”, e o Léxico de Arndt-Gingrich acrescenta que “o plural indica provas de capacidade para ocupar uma posição de liderança na igreja”. A palavra cognata kybernetes é o “timoneiro” ou o “piloto”, ou mesmo o “capitão” de um navio (At. 27.11), vindo a ser aplicada figuradamente, no grego clássico, para pessoas em posições seculares de liderança e autoridade, como por exemplo, o governador de uma cidade.

O entrelaçamento da autoridade com o serviço é quase indissolúvel. Quando ele acontece, não há sobrecarga, pois o amor (I Co. 13) se encarrega de suavizar os fardos da autoridade e abençoar a produtividade do serviço.

Bênçãos do equilíbrio entre autoridade e serviço

Quando o equilíbrio entre autoridade e serviço é alcançado e cultivado, bênçãos sem medida são derramadas sobre a igreja. Deus opera no equilíbrio. Talvez um dos maiores perigos da vida humana seja os extremos. Todo extremo é perigoso. Por isso é tão necessário buscar e trabalhar por uma autoridade equilibrada num serviço equilibrado.

As maiores bençãos do equilíbrio entre autoridade e serviço são:

A vitória sobre o medo: Quando a autoridade é servil todos trabalham em paz.
A vitória sobre a tensão: Por trabalhar em paz, o serviço flui e a produtividade, além de abençoada pela tranqüilidade, é prazerosa.
A vitória sobre a divisão: Exercer a autoridade em comunhão com quem serve gera unidade. Quebra a síndrome do Imperador. Iguala-nos ao pé da cruz.
A alegria dos frutos: Nesse clima de paz e missão, frutificar se transforma num motivo de louvor. Passamos a amar o serviço, pois dele nascem os frutos.


Essas e outras inúmeras bençãos acompanham o equilíbrio. Quando isso acontece, as pessoas são estimuladas a “cumprir bem o seu ministério” (II Tm. 4.5). Como dizia E. H. Chapin: “Toda ação de nossa vida toca alguma corda que vibrará na eternidade”.

Atingir esse equilíbrio não é tarefa fácil, contudo, como escreveu J. H. Jowett: "O ministério que nada custa, nada realiza”. Trabalhar por esse equilíbrio é testar todos os dias nossa própria capacidade de autonegação, nossos próprios objetivos. Deus procura homens que estejam abertos. Alguém disse que “Deus não pergunta sobre nossa capacidade ou incapacidade, mas se estamos à disposição”.

Jesus, a autoridade e o serviço

Jesus é o mestre por excelência. Ele viveu essa relação entre autoridade e serviço num nível tão elevado que em pleno século XXI, ainda estudamos suas qualidades como líder-servo. Cada uma das qualidade que Jesus tinha como líder-servo são, ainda hoje, alvos a serem diligentemente buscados por nós. Como homens e mulheres de Deus, não podemos esquecer os exemplos de Jesus.

Vejamos algumas das qualidades de Jesus como autoridade que serve, a partir de João 13:

Tranqüilidade para deixar a mesa principal: O escritor C Gene Wilkes disse: “Nós, líderes, esquecemo-nos muitas vezes de que o verdadeiro lugar da liderança cristã é no meio da multidão, não na mesa principal”.
Capacidade para descobrir grandeza no serviço: Jesus começa a servir seus discípulos pela parte mais simples: sair da mesa e fazer o trabalho de um escravo. Jesus não é diminuído pelo serviço, ao contrário, ele engrandece o serviço!
Liberdade para assumir o papel do escravo: Ele pega uma toalha, não um cetro! Uma cruz, não uma coroa! Discípulos, não imperadores!
Segurança para assumir os riscos: Jesus sabia que estava escolhendo doze homens absolutamente comuns. Mas, ainda assim, ele insiste em escolhê-los. Ele assume, voluntariamente, sua escolha!

O escritor J Oswald Sanders disse: “A verdadeira grandeza, a verdadeira liderança, não é obtida obrigando os homens a nos servir, mas em nos entregarmos em serviço abnegado a eles”. Essa capacidade de entrega foi um dos grandes segredos do sucesso ministerial de Jesus. Ele se entregou em toda sua plenitude. Não foi uma entrega parcial, interesseira ou política, foi radical, preciosa e íntegra. Quando assumirmos essa característica em nossa missão, promoveremos o abençoado abraço da autoridade com o serviço.

O que faz a liga entre a autoridade e o serviço é o amor! Jesus foi perfeito em seu ministério porque acima de tudo ele amou! João 13 é enfático: “...amou-os até o fim”. Nele não havia autoritarismo, porque não havia espaço para essa forma neurótica de autoridade. Onde o amor está o autoritarismo morre.

Conta-se que um jornalista perguntou a Billy Sunday, grande evangelista e ganhador de almas: “Por que o seu trabalho de evangelista é tão cheio de sucesso, quando muitas pessoas evangelizam e não conseguem êxito ao falar de Jesus?” Billy Sunday voltou-se e olhou para fora da janela do hotel onde se encontrava, no terceiro andar. Apontando para as pessoas que passavam na rua, lá embaixo disse: “Aquelas pessoas vão para o inferno; eu não quero que isso aconteça; eu as amo e é por isso que lhes falo de Jesus, o Salvador. Eu primeiro as amo”.

Esse chamado do amor é que legitima qualquer vocação. Seja a autoridade ou o serviço, ou qualquer outra dimensão que ser cristão implica, é o amor que dá base e direção às nossas vocações. Chamados para amar, trabalhamos sem esperar retorno. Chamados para amar, servimos sem esperar que nos sirvam. Aprendemos a viver na mesma dimensão do Servo por excelência. Da autoridade por excelência.


Alan Brizotti, servindo à subversão do Reino aqui no Genizah

Postar um comentário

  1. Só abrindo um parágrafo sobre o serviço, acho que algumas pessoas estão sobrecarregadas na igreja, por servirem muito e muitas vezes deixam a família de lado e seus líderes não enxergam que aqueles que servem precisam de tempo com a família e de capacitação para lidar com a família no seu dia- a - dia. É um assunto longo o que estou a refletir, mas é só um comentário que precisa ser mais comentado, principalmente as separações que tem ocorrido nas igrejas e a falta de preocupação com as famílias já conheci pastores que só falam nesse tema "serviço" e esquecem as famílias.

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  2. Muito bom este texto, espero que os nossos apóstolos, bispos, pastores, evangelistas... e nós mesmos possamos servir, em amor, agradando a Deus. Estou cansada de ser mandada. Quero servir espontaneamente e sem privilégios. Que muitos leiam este texto.

    Deus o abençoe!

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  3. Do jeito que a coisa anda, eles podem ler esse texto um milhão de vezes que não mudarão um milimetro de suas posições privilegiadas e nababescas. Estão embriagados pelo poder, viciados pelas benéficies, tarados pelos prazeres que o sistema cetralizador e imperial lhes proporcionam.
    E aí de quem ameaçar esse status quor, se for de dentro, será excomungado.
    Se for de fora, ha outros meios mais sutis, mas que são confidenciais.

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