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A realidade dos vasilhames e das cascas...


Rubinho Pirola


"...Não é o corpo mais do que as vestes?" Mt 6.25


Meu Deus do céu!... Como vivemos enganados!

Pensava eu, dia desses, como essa "casca" ou "embalagem" que vestimos e que vai-se transformando ao longo da nossa vida ocupa a nossa cabeça,... Até que, relutantes, somos obrigados a devolvê-la, despencando-se toda, ao fabricante.

E é assim a crise: Nos primeiros anos por não parecermos com o que desejávamos parecer, a tentar espichar um cabelo alí, esconder um nariz pontudo ali... Passamos preciosos anos da nossa adolescência tentando nos aceitar pelo que o nosso espelho, bem ou mal intencionado nos revelava.

Depois de algum tempo, já mais crescidos e com os hormônios à todo vapor, a nossa preocupação era fantasiar o "vasilhame"com tecidos, padrões, cores e texturas... e não só para o nosso conforto, mas movidos pela necessidade social de darmos ares do que éramos, ou do que não, ou ainda por aquilo que desejavámos parecer que éramos com aquilo que as roupas, calças, camisas e até sapatos carregavam para se valorizar - as etiquetas! Era o apelo das marcas e logomarcas, alvos do desejo de consumo, a avalisar uma carteira que, na maioria das vezes não possuíamos. E tudo isso, para agradarmos - via de regra - os outros!

Que vida engraçada essa a nossa, escravizada mais por aquilo que queríamos mostrar, do que administrar aquilo que éramos embaixo dessa casca toda: carne, pele, roupa e adereços.

Anos mais tarde, vem-nos a fase dos disfarces e dos mil produtos que prometiam postergar o óbvio efeito perverso do tempo, da idade,... quando as rugas (que deveriam ser assim como um extrato, tipo bancário, a avalisar a maturidade trazida pelos anos) teimavam em rebelar-se contra os nossos esforços vão de reparar ou pateticamente disfarçar. E dá-lhe cremes, pomadas e maquiagens...

Pois é,... dia desses, admirando eu aquela capela famosa da cidade de Évora, Portugal, construída de ossos humanos, com a oferta derradeira de mais de 5 mil cadáveres (e tem gente que ainda crê que, uma vêz mortos, não se tem mais o que oferecer à vida!), refletia sobre esse imperativo social de medirmo-nos por fora, pelo avesso, pelo que se pode ver, medir ou comparar ao invés de focarmos mais "casca-adentro", vendo o que não se vê facilmente - o coração, a essência, ou o produto, afinal, escondido, contido dentro das embalagens.


Capela de Ossos em Évora, Portugal

E a nossa experiência existencial se resume aquilo que os olhos enxergam de pronto, sem esforço: aquilo do "esse é pobre, porque veste-se de maneira simples", "aquele outro é rico, porque veste-se como tal", "aquela é desejável pela "embalagem" que veste (ou que conseguiu às custas de litros de silicone e muita massa na mão de algum gênio da cirurgia plástica)", "aquele outro é desprezível, pelos defeitos que traz no vasilhame e nada tem a nos acrescentar"...

Nascemos, crescemos e morremos, tentando nos esquecer do óbvio: não passamos todos de uns esqueletos. Alguns mal, outros bem vestidos.


***
Rubinho Pirola é réu no Genizah

Postar um comentário

  1. Danilo!
    Parabéns pelo blog! É muito legal!
    Obrigado pela visita e por seguir o Maná!
    Com certeza irei aprender muito com o GENIZAH!
    É disso que precisamos, falar de Deus na linguagem de hoje.
    Mais uma vez parabéns.
    Que o Senhor Deus continue te capacitando e lhe inspirando.
    Fique na Pax!
    Grande Abraço.

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  2. Como disse Salomão,

    "Vaidade de vaidades; tudo é vaidade".

    Belo texto.
    Abrçs.
    Marcelo

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  3. SHALOM ADONAI MEU QUERIDO, ESTOU AQUI RETRIBUINDO SUA VISITA NO BLOGGER DA CONGREGAÇÃO TIRADENTES, OBRIGADO PELO COMENTÁRIO, É UMA HONRA PARA NÓS TÉ-LO COMO SEGUIDOR. TAMBÉM SOU SEU SEGUIDOR AGORA, ESPERO APRENDER UM POUCO COM SUA VASTA SABEDORIA E CONHECIMENTO. ABRAÇOS

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  4. Duas passagens me vêem à mente enquanto leio sua maravilhosa postagem.

    "Ainda que nosso homem exterior venha se corromper, nosso homem interior se renova dia a dia". Aleluia! Há dois meses de completar 40, sinto-me renovado. Voltei até a praticar minhas caminhadas...rs O que me entristece é que o que o espelho me diz, denunciando as tão temidas entradas que acusam a chegada de uma calvice tardia...

    "Temos este tesouro em vasos de barro, para que a excelência seja de Cristo".

    Parabéns pelo post, Rubinho.

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  5. Obrigado a todos! Especialmente ao companheiro Hermes. E quanto às suas entradas, quero que saiba que não está só nessa experiência. Só que no meu caso, são as traiçoeiras, as que vêm de traz para frente. Quando se nota, a danada já acabou com a peruca, hahahahaha...
    Ainda bem que o nosso interior está se renovando! Força!

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  6. Concordo com o Marcelo que lembrou que tudo é mesmo vaidade. O que a gente ainda esquece frequentemente é a rapidez com que esses cuidados passam e a única coisa que vai permanecer é o que houver dentro da embalagem (se houver).
    Abraço.

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