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As dores do ministério e o rio de Deus



Rubinho Pirola




Eu não gosto de sentir dor. Normalmente, ninguém gosta.

Para quem teve já um problema de saúde que deixou algumas sequelas que fazem do simples caminhar uma experiência algo dolorida, o tema ganha outra dimensão.

Nesses poucos anos de ministério (considero-o desde o momento da minha conversão por Deus aos 14 anos de idade!), o que mais tenho descoberto no seu exercício, são dores.

Lógico que (sem cair naquele triunfalismo imbecil e mentiroso que são temas de promessas de mentirosos ou superficiais pregadores que as negam) as dores, num cristão, são minimizadas ou suportadas pela perspectiva dessas não serem de maneira nenhuma desprovidas de propósito.

São com elas e, até por elas, que geralmente os frutos que tenho colhido me vêm às mãos. Afinal, não sofremos por nada, como não vivemos como filhos de Deus e cooperadores de Cristo de maneira vã, sem objetivo.

Ainda me lembro do dia em que despedindo-se de mim, a minha comunidade lembrou-me da promessa "Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos." (Sl 126:6), prevenindo a mim e a minha família que esse "chorando" não seria nunca um acidente na missão, mas parte integrante dela. Nada mais exato. Nada mais fiel e verdadeiro. Sem essa parte integrante de dois momentos - o semear e o colher - o choro nunca foi uma ausencia na nossa vida aqui na Europa. Choramos para sair, deixando a nossa zona de conforto (onde os pés alcançavam o fundo): casa, mais que emprego, carreira; aposentadoria certa; amigos; irmãos; pais; parentes... E choramos até para... voltar!

Agora que há uma perspectiva de um sabático, proposto pela Trans World Radio de seis meses no Brasil, fui supreendido pelo nosso amigo e companheiro de missão - o choro - vindo até mim e a esposa. O que seria algo fantástico a qualquer um que está (no caso dela há dois anos e meio sem ver os que ama e no meu, quase um), veio trazer um certo desconforto.

Como ele é presente... até numa hora dessas, pensei eu. Nas provações, nas lutas, mas até no que aparentemente deveria ser motivo de alegria.

É aquela coisa de vermo-nos numa terra diferente, amigos com a sua agenda onde dela já não somos parte, e muitas outras coisas que talvez muitos não se darão conta. Missionários sabem o que digo.

Como disse Caetano: "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".

Nessa Segunda feira última, recebendo um amigo, fui chamado à atenção por um texto curioso que cito abaixo. Nele, vemos inevitavelmente um paralelismo entre o rio de Ezequiel, que ele mediu e que tornava cada vez mais profundo à medida que progredia na caminhada e entre o rio que sai do trono, aquele lá de Apocalipse. E a constatação: "quanto mais profundamente vamos nesse rio de cura e que traz frutos abundantes - tanto mais distantes nos tornamos do trono, da fonte,... de Deus".

É isso que, afinal, podemos imaginar, aconteceu com Cristo na Cruz, quando bradou: "Pai, porque me abandonaste?".

Indo fundo na experiência missionária, o Filho do Homem, deixou-se ir pra cada vez mais longe do trono, de onde veio, de onde tinha tudo, de onde desfrutava do conforto e prazer.

O resultado? Está escrito que Cristo viu o fruto do seu penoso trabalho e foi satisfeito (Isaías 53:10-11). Não há resultado sem trabalho penoso. Não há colheita sem choro, uma coisa está ligada à outra. Pode anotar. E ficar esperto (e animado, se tem sofrido pela causa do Evangelho!).

Hoje, do alto dos meus 50 anos, tenho descoberto uma máxima que não é divulgado pelos picaretas da fé: se tudo corre bem, se tudo está tranquilo, se onde anda dá pé - onde não é preciso fé, vendo o que não se vê - tome cuidado!

Pode ser que esse não é o caminho, nem o lugar no rio de Deus.

"E saiu aquele homem para o oriente, tendo na mão um cordel de medir; e mediu mil côvados, e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos artelhos. E mediu mais mil côvados, e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos joelhos; e outra vez mediu mil, e me fez passar pelas águas que me davam pelos lombos. E mediu mais mil, e era um rio, que eu não podia atravessar, porque as águas eram profundas, águas que se deviam passar a nado, rio pelo qual não se podia passar. E disse-me: Viste isto, filho do homem? Então levou-me, e me fez voltar para a margem do rio. E, tendo eu voltado, eis que à margem do rio havia uma grande abundância de árvores, de um e de outro lado. Então disse-me: Estas águas saem para a região oriental, e descem ao deserto, e entram no mar; e, sendo levadas ao mar, as águas tornar-se-ão saudáveis. E será que toda a criatura vivente que passar por onde quer que entrarem estes rios viverá; e haverá muitíssimo peixe, porque lá chegarão estas águas, e serão saudáveis, e viverá tudo por onde quer que entrar este rio." Ez 47:3-9



***
Rubinho Pirola é reu confesso aqui no Genizah

Postar um comentário

  1. Benditas dores que nos aproximam mais de Deus.
    Benditas dores de parto que sentimos por nossos filhos espirituais, até que Cristo seja formado neles (Gl 5.18).
    Bendito choro com que, apesar dele, obedecemos ao ide de Jesus...
    Alessandro Cristian

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  2. Cara, de quem foi a ideia do video?

    Deixem o Silas em paz. Desse jeito o homi não guenta.

    Nem eu tenho tanta imaginação.

    Deus Abençoe!

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  3. Rubinho, meu amigo, de onde tiraste tanta inspiração?

    O problema é que hoje em dia a turma tá mais interessada em voar cada vez mais alto, alcançar o trono. Ninguém está interessado nesta empatia com a dor humana.

    Mas sabe o que acho? Quanto mais nos distanciamos do trono, mas próximos ficamos do Cristo Sofredor, que se identifica com os fracos, desvalidos, nus e miseráveis deste mundo.

    Deus não é encontrado nos palácios de Herodes, mas nas manjedouras. Não é encontrado nas catedrais, mas sob as marquises.

    Mergulhemos, pois, nas águas deste caudaloso rio, e deixemos que elas nos levem na direção do outro.

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