Hora de desfazer as malas!
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Hermes Fernandes
"Jerusalém gravemente pecou (...) ela não pensou no seu futuro." Lamentações 1:8-9.
Ninguém quis dar ouvidos à advertência dos profetas.
- Jerusalém cairá! diziam eles em uníssono. Desde que o povo hebreu entrou na Terra Prometida, os anos sabáticos foram negligenciados. De acordo com a ordem divina, podia-se cultivar a terra por seis anos, mas no sétimo, a terra deveria descansar (Lv.25:3-5).
490 anos se passaram, e a terra continuava sendo cultivada ininterruptamente. Interessante que hoje, milhares de anos depois, a ciência comprova que se a terra não descansar a cada seis colheitas, ela perde a produtividade. Chegara a hora da cobrança. A terra já não suportava mais. E se ela deixasse de produzir, a fome destruiria aquela nação.
Jeremias, em suas Lamentações, afirma que o pecado de Jerusalém foi não pensar no seu futuro. Aquela era uma geração inconseqüente e irresponsável. Nossa sociedade tem incorrido no mesmo erro. Somos uma civilização imediatista. Só pensamos nas necessidades imediatas. Enquanto isso, o futuro está sendo sacrificado no altar das conveniências. Nossos rios estão poluídos. Nosso abastecimento de água potável está ameaçado. Milhares de espécies de animais correm o risco de serem extintas ainda este século. Nosso ar está irremediavelmente comprometido pelos gases tóxicos emitidos pelas chaminés das fábricas. Não temos pensado em nosso futuro.
Se o que se tem pregado em muitos púlpitos for verdade, não temos com que nos preocupar. Afinal, somos a última geração! Infelizmente, é nisso que a maioria dos cristão crê em nossos dias. Se continuar nesse ritmo, nossa civilização cairá. O papel do profeta não é prever, mas prevenir. Não podemos continuar nessa marcha rumo à aniquilação. Algo precisa ser feito. E o primeiro passo é a conscientização acerca do problema e da responsabilidade que temos como sociedade. Um dia, a terra vai cobrar! E já está cobrando. A conta é caríssima. Quem vai pagar? As próximas gerações. Em outras palavras, estamos deixando a conta para nossos filhos e netos.
Nossa dívida com a terra já está rolando há muito tempo. São juros sobre juros. O povo de Jerusalém já devia 70 anos sabáticos à sua terra. Em 490 anos, eles jamais atentaram para esse mandamento. Chegara a hora de cumprir a sua parte no trato feito com Deus. Nabudonozor foi o monarca babilônio usado por Deus para remover os judeus de sua terra. Foram exatos 70 anos de exílio, para que a terra recebesse o descanso devido. Setenta anos sem arado, sem semeadura, sem colheita.
Foi Zacarias quem profetizou já no fim do exílio babilônico: “...Toda a terra está tranqüila e descansada. Então disse o anjo do Senhor: Ó Senhor dos Exércitos, até quando não terás compaixão de Jerusalém, e das cidades de Judá, contra as quais estiveste irado estes setenta anos?” (Zc.1:11b-12). O juízo de Deus não se restringe ao aspecto punitivo, mas sempre traz em seu bojo a manifestação da misericórdia de Deus à Sua criação.
Quando os judeus chegaram à Babilônia, muitos profetas se levantaram para consolar seus patrícios, afirmando que seu cativeiro duraria pouquíssimo tempo. Porém Deus levantou Jeremias pra garantir àquela gente, que seu cativeiro duraria pelo menos por duas gerações. Não adiantaria murmurar, reclamar, ou promover algum tipo de levante contra aquela situação. Sua terra precisaria de um descanso de 70 anos.
Destoando completamente de seus colegas, Jeremias diz:
“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os que foram transportados, que eu fiz transportar de Jerusalém para Babilônia: Edificai casas, e habitai nelas; plantai pomares, e comei o seu fruto. Tomai mulheres, e gerai filhos e filhas; tomai mulheres para os vossos filhos, e dai as vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas. Multiplicai-vos, e não vos diminuais”. Jeremias 29:4-6
Em outras palavras, era hora de desfazer as malas, e programar-se para o futuro. Nada de alienação, nem falsas esperanças. Ali era seu novo lar. Em vez de lamentar-se a vida inteira, eles deveriam edificar, plantar, comer, construir relacionamentos, criar filhos e etc.
Jeremias prossegue: “Procurai a paz e a prosperidade da cidade, para onde vos fiz transportar. Orai por ela ao Senhor, porque se ela prosperar vós também prosperais”. Jeremias 29:7
Quem disse que nossa prosperidade independe da realidade social na qual estamos inseridos? É claro que Deus é poderoso o suficiente pra nos fazer prosperar a despeito da crise econômica em que nosso país esteja mergulhado. Entretanto, em Sua sabedoria, Deus nos permite passar pelas mesmas situações e adversidades que os demais. Salomão reconhece isso ao declarar: “Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao mau, ao puro e ao impuro” (Ecl.9:2). Ninguém está imune às adversidades desta vida. Portanto, em vez de buscar nosso bem-estar particular, devemos buscar incessantemente o bem-estar de todos à nossa volta. Se nosso país prospera, nós também prosperamos. Se ele sofre, nós também sofremos.
Não consigo entender a indiferença de muitos cristãos para com as questões sociais e ambientais. Parecem pessoas de outro mundo. Todos somos igualmente vítimas dos maus tratos sofridos pelo meio-ambiente. Todos somos vítimas das injustiças sociais.
A alienação constatada no meio cristão é fruto de uma mensagem desequilibrada, que leva as pessoas a acreditarem que esse mundo não tem jeito, e que a única coisa a fazer é esperar pelo dia em que seremos arrebatados ao céu.
Pregadores e teólogos regem o coro que diz: quanto pior, melhor. Para eles, isso aceleraria a volta de Jesus. Para eles, simplesmente não há futuro. Pelo menos, não nesta terra. Por isso, os crentes parecem estar sempre de “malas prontas” pra partir daqui. Eles são constantemente alertados: Vivam hoje, como se fosse o último dia. Até que ponto, esse tipo de postura não faz de nós um povo alienado?
Ora, se somos a última geração, por que deveríamos nos preocupar com questões como a camada de ozônio, a emissão de gases tóxicos, a má distribuição de renda, e outras questões pertinentes.
Geralmente, os crentes estão mais preocupados com questões de cunho moral, tais como o aborto, o homossexualismo, a liberação das drogas e etc. Não que estas questões não tenham seu grau de importância. Mas o fato é que estamos coando mosquitos, e engolindo camelos o tempo inteiro. Quando Cristo vier, Ele certamente deseja encontrar uma igreja militante, de mangas arregaçadas, trabalhando pela transformação do mundo. Infelizmente, o que vemos hoje, é uma igreja apática, alienada, gnóstica, e descomprometida com a agenda do Reino de Deus.
Se não precisássemos nos preocupar com aquilo que ocorre em nosso mundo, como se isso não nos afetasse, Paulo jamais nos teria admoestado:
“Exorto, pois, antes de tudo, que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens, pelos reis, e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranqüila e sossegada, em toda piedade e honestidade.” 1 Timóteo 2:1-2.
Leis que são votadas na surdina no Congresso Nacional, afetam em cheio o nosso cotidiano. Não podemos mais fingir que está tudo bem, nem dar ouvidos aos profetas da comodidade. O mundo não está acabando! Há futuro para a humanidade.
Veja o que a boca do Senhor diz:
“Pois eu sei os planos que tenho para vós, diz o Senhor, planos de paz, e não de mal, para vos dar uma esperança e um futuro.” Jeremias 29:11.
Ora, se há futuro para nós, temos que agir hoje, como se fosse o primeiro dia do resto de nossas vidas.
Temos que pensar naqueles que nos sucederão. Quando ouço alguns pastores afirmando que o mundo está caminhando para um fim iminente e trágico, tenho vontade de perguntar qual a razão de a maioria deles parecer tão preocupada em construir templos suntuosos. Se não há futuro, não há razão pra construir nada. Cruzemos os braços, e aguardemos o pior. Mas se há futuro, arregacemos as mangas, e mãos à obra! E lembremo-nos de que, não é a Terra que será destruída, e sim, aqueles que a destroem (Ap.11:18).
***
Hermes Fernandes é réu confesso no Genizah
Hermes Fernandes é réu confesso no Genizah
Mandou bem, companheiro Hermes!
ResponderExcluirSem tirar, nem por.
Há muito que os crentes estão vivendo um pessimismo-escapista-apocalíptico, irresponsavelmente "existindo" e se lixando para o que Deus criou. É a pregação do "quanto pior, melhor" e, por isso, até aqui em Portugal, pregou-se por décadas que os crentes não deviam ir às universidades e não envolverem-se com a sua "Jerusalém". Hoje o resultado ai está: anos vivendo na periferia da sociedade, à margem do país.
E para piorar, até contribuição negativa do Brasil temos recebido a reforçar essa ideia, felizmente abandonada há anos. Um deles, veio ensinar por livros e pregações que poupar é coisa do demônio. Que não usar saquinhos de supermercado como lixo é uma aberração. Reciclar, reutilizar é coisa de ímpio. Vamos-nos salvar e o resto que se exploda.
Depois não reclamem que se riam de nós e das "perseguições" por parte da imprensa.
Vamos ser sal e luz. Essa terra importa a Deus como tudo o que diz respeito ao homem e a vida. A paz da cidade é a nossa paz, diz a Palavra.
Que o Senhor o abençoe, mano!
Amém!
ResponderExcluirÉ uma das maiores verdades que eu já li.
Eu mesmo reconheço que já vivi essa 'verdade' de que era pra vivermos como se fosse o último dia. Uma mensagem que nos desestimula a lutar pelo futuro.
A preocupação realmente tem sido 'EU', 'PRA MIM', 'COMIGO' ETC. Os outros que busquem as suas bençãos e soluções para os problemas. Não eu. A vida nos Céus é tão esperada, que tem crente que acha que já morreu (fisicamente). A esperança de um lar celestial deve existir, mas a alienação para as coisas que estamos vivenciando é um erro. E fatal! Quando eu for, meus descendentes ficam. E aí? Vão ter que corrigir toda a caquinha que eu deixei?
Como diz o texto, "Mas se há futuro, arregacemos as mangas, e mãos à obra! E lembremo-nos de que, não é a Terra que será destruída, e sim, aqueles que a destroem (Ap.11:18)".
Deus nos ajude.
"O papel do profeta nao é prever, é prevenir."
ResponderExcluirGostei muito do texto cheio de verdades, e muito desta frase. Seria bom se as pessoas optassem pela prevencao. Muitas doencas do físico e da alma estariam resolvidas.
Um grande abraco e um bom dia!
Tenho os dois blogs atualizados!
“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os que foram transportados, que eu fiz transportar de Jerusalém para Babilônia: Edificai casas, e habitai nelas; plantai pomares, e comei o seu fruto. Tomai mulheres, e gerai filhos e filhas; tomai mulheres para os vossos filhos, e dai as vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas. Multiplicai-vos, e não vos diminuais”. Jeremias 29:4-6
ResponderExcluirQuestões sociais e politização não são interesses dos crentes. Pela leitura que faço do processo histórico, nunca foi, pelo menos aqui no Brasil.
Sempre vi a comunidade protestante muito alienada em todas as questões políticas.
O versículo citado do livro de Jeremias é raramente citado no meio evangélico.
O povo sempre viu este versículo como uma punição ao povo de Israel, mas se eles não tivessem obedecido a esta Palavra, o povo teria diminuído consideravelmente em número e quantidade de pessoas.
Há uma versão que dá a entender que eles deveriam dar suas filhas em casamento e tomar mulheres da terra onde eles estavam habitando.
O importante é que o povo continuasse a perpetuar e não fosse dizimado.
Hoje nós somos o sal da terra e se o sal não salgar para nada serve, e onde vamos salgar se não for fora, a luz é necessária onde há trevas.