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Sexualidade Cristã: Revista Cristianismo Hoje entrevista Danilo Fernandes e Carlos Moreira.


No mês de junho de 2011 divulgamos pesquisa de opinião sobre a sexualidade dos evangélicos realizada pela pelo BEPEC - Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã em parceria com o Genizah. 

O projeto chamado “O crente e o Sexo” foi assunto de matéria na edição de junho de Cristianismo Hoje e ainda repercuti fortemente em diversos outros veículos, inclusive seculares. No final deste mês de julho, a Revista CH apresenta a segunda parte da pesquisa, contemplando os solteiros e jovens evangélicos 16-24 anos.

Para esta matéria, o jornalista Carlos Fernandes da Revista Cristianismo Hoje entrevistou Danilo Fernandes e Carlos Moreira, diretores do BEPEC.

CRISTIANISMO HOJE - Qual foi sua motivação para realizar a pesquisa "O crente e o Sexo"?

DANILO FERNANDES - Karl Barth disse que o cristão deve carregar em uma das mãos a Bíblia e, na outra, o jornal. Tivesse ele conversado com um profissional de marketing, teria acrescentado a pesquisa de opinião. Esta soma o saber “do que vai pelo mundo” com o conhecer “o que vai pela cabeça do rebanho”. Tudo fundamental para quem não prega para anjos, mas para gente de carne e osso.

Existia uma motivação genérica: Obter dados estatísticos sobre a população evangélica, em especial, pesquisas de opinião. Não há quase nada disponível e o interesse geral é muito grande. As informações do CENSO, por exemplo, ainda nem foram liberadas e a repercussão do “virtual e não sabido” já é pauta frequente nos veículos cristãos. Já na esfera acadêmica, a tradição não aponta para pesquisas de natureza quantitativa. Aliais, a produção cientifica na cátedra de teologia é insipiente de maneira geral, por muitas razões.

Qualquer um envolvido com a produção de conteúdo teológico sabe do que eu estou falando. Nosso grupo atua em duas frentes: Na produção de conteúdo para nossos veículos – Genizah e Almanaque Genizah, ambos líderes em tráfego / leitores na mídia cristãs; e na prestação serviços de marketing digital. Da combinação das duas experiências, saímos com um banco de dados superando os 1,8 milhão de e-mails de evangélicos e o senso aguçado dos assuntos que interessam aos leitores cristãos. Sexo é tabu entre os crentes e as matérias sobre sexualidade são as mais lidas, comentadas, etc. Produzir conteúdo inédito – incluindo dados primários, como é o caso da pesquisa O Crente e o Sexo – é garantia de sucesso.

CRISTIANISMO HOJE - Pode informar, ainda que de forma aproximada, o número de pessoas consultadas e um pouco da metodologia utilizada?

DANILO FERNANDES - Objetivando refinar o instrumento de coleta de dados e obter subsídios para a amostragem, promovemos uma pré-pesquisa com links em sites cristãos de alto tráfego e redes sociais. Os dados de 2.428 respondentes, coletados nesta fase, foram descartados. Na segunda fase, produzimos uma amostra de e-mails estratificada, segundo a participação dos grupos de denominações evangélicas e critérios, tais como: estado civil, gênero e idade do respondente. A ferramenta SURVEY da AKNA, nosso parceiro tecnológico no projeto, enviou o instrumento de coleta de dados a 71.552 pessoas. Tivemos retorno de 5.139 respostas válidas para o grupo-alvo EVANGÉLICOS CASADOS e 6.721 respostas para os demais grupos estudados: evangélicos solteiros e jovens 16-24 anos.

CRISTIANISMO HOJE - Qual a sua impressão geral sobre a pesquisa sobre a sexualidade e comportamento sexual dos evangélicos?

CARLOS MOREIRA - Sinceramente, ela não me surpreende. Ser evangélico não significa, em absoluto, ter valores e conteúdos do Evangelho. Ser evangélico, em nossos dias, apenas revela a adesão de um indivíduo a uma determinada denominação cristã. Tratar os evangélicos como uma categoria diferenciada da população é alimentar um mito, é imaginar que esta “fatia” da sociedade possui hábitos e costumes diferentes das outras pessoas. Engano e engodo. Se isto algum dia foi verdade, hoje, já não é mais. Se essa pesquisa fosse sobre outro tema, como ética, por exemplo, os resultados seriam os mesmos, revelariam dados semelhantes, ou seja, demonstrariam que não existe diferença entre aqueles que dizem servir a Deus e aqueles que não o servem. Na verdade, vivemos na sociedade contemporânea um fenômeno chamado de Self Made Religion. Trata-se da construção de uma espiritualidade que visa apenas atender aos interesses imediatos das pessoas, uma espécie de pegue e pague ou faça você mesmo. Sua principal ênfase é trazer as benesses da vida eterna para o aqui e agora, fazer o sujeito desfrutar do céu na vida cotidiana e, para que tal objetivo seja alcançado, é necessário se fazer todo tipo de barganhas com o sagrado, desde a “compra” de supostas “bênçãos espirituais”, até a promessa de resolução de problemas aparentemente indissolúveis. Ora, diante de um quadro tão bizarro como esse, o que poderíamos esperar da prática espiritual destas pessoas? Gente com este tipo de consciência jamais poderá produzir algum tipo de mudança na matriz de valores da sociedade, muito pelo contrário, viverá baseada em seus preceitos e ditames.

CRISTIANISMO HOJE - Houve alguma pergunta ou grupo de perguntas cujas respostas foram mais escassas - em outras palavras, algum assunto foi mais evitado do que outros pelos pesquisados?

DANILO FERNANDES - Na verdade, não. Ao contrário. Abundou a abertura! Os dados aferindo resistência (a questões específicas ou temas) ficaram bem abaixo da média. Pesquisas onde a coleta dos dados não é presencial, embora exijam mais cuidado na amostragem científica, ganham nos fatores envolvendo a privacidade do objeto do estudo. A falta de interação pessoal e o anonimato incentivam a abertura para assuntos difíceis e a honestidade das respostas. Com isto, os cuidados recaem sobre o controle na coleta, aleatoriedade, viés, defraudação, etc.


CRISTIANISMO HOJE - Sabemos que você divulgou a pesquisa entre líderes evangélicos. De modo geral, qual foi a reação aos resultados e como a iniciativa foi recebida?

DANILO FERNANDES - A esmagadora maioria, até por formação, se surpreendeu, já de início, com o próprio conceito da pesquisa de opinião em si. Muitos foram atrás de dados secundários sobre a população em geral a fim de balizar o que liam e lidar com o fato de que na igreja o que temos é gente que cheira igual a gente “do mundo”. Isto pode parecer o óbvio, mas não se esperava que os dados medindo a cientificamente a nossa depravação (no sentido teológico do termo, obviamente) fossem tão miseravelmente semelhantes aos dos de fora. Após este primeiro impacto, os dados são vistos como subsídios para a pregação da Palavra, em especial aos crentes. Muitos ganharam motivação extra para suas atividades de aconselhamento e abriram mais espaço para a agenda sexualidade e matrimônio nas suas futuras pregações.

CRISTIANISMO HOJE - Como organizador da pesquisa, qual aspecto / resposta chamou mais a sua atenção? O que foi mais inusitado?

DANILO FERNANDES - A pesquisa foi abrangente. Sobre muitos aspectos já tínhamos o que os ingleses chamam de educated guess - um chute com pedigree, risos - sobre outros tantos, uma grande interrogação. O curioso é que foram as questões mais consensuais (nas nossas prévias), aquelas que vieram a nos surpreender mais. Por exemplo: Esperávamos encontrar um proceder mais santo entre as gerações mais velhas, não foi o caso. Já entre os jovens evangélicos de 16-24 anos, esperávamos quantificar mais adesão a uma série de práticas contrárias a praxis cristã, erramos novamente. No fim das contas, aferimos que os jovens vivem mais próximos de seu discurso (cristão) do que os mais velhos e os casados, cujo comportamento está muito aquém do esperado para servos de Deus. Também surpreenderam muito os cruzamentos por denominação. A depender de outras investigações, começamos a construir a noção de que as questões de fé que separam os históricos e pentecostais tradicionais dos neopentecostais, também nos separam em outras perspectivas da cosmovisão. Depois da divulgação da pesquisa iremos esmiuçar isto melhor. Por hora, o que se verifica é que as práticas e atitudes dos neopentecostais em relação a sexo, pornografia, fidelidade e outras questões correlatas é diferente da população evangélica em geral. Os neopentecostais são mais liberais quanto ao engajamento em atividades que a maioria dos evangélicos históricos consideram inconvenientes, bem como, na sua maioria, vivem a sua sexualidade em conformidade com a população em geral.

CRISTIANISMO HOJE - A quê o senhor atribui a diferença apontada na pesquisa entre o que acontece de fato e o discurso evangélico tradicional em relação ao assunto? Seria fruto dos tempos modernos, com a liberalização dos costumes e a flexibilidade de práticas religiosas, ou a coisa sempre deve ter sido assim e os crentes não tinham oportunidade - e coragem - para falar? 

CARLOS MOREIRA - Como disse anteriormente, a pesquisa não me surpreende, apenas reforça um pensamento antigo. Sexo para os cristãos sempre foi um problema, e isso desde o início da igreja. Paulo já carregava notadamente certa dose de preconceito em suas epístolas, talvez por questões pessoais, talvez como forma de antagonizar a doutrina cristã frente à devassidão da sociedade romana, na qual ele vivia. Esta, por sua, vez, já carregava em suas “entranhas” as influências do helenismo grego, onde o sexo assumia diversos matizes contrários aos costumes hebreus. Daí para frente a questão só piorou. No século IV, com Santo Agostinho, o sexo tornou-se algo terrível, uma nódoa na consciência dos cristãos. Agostinho, que vinha de uma vida dissoluta, introduz um sentimento de culpa que esmaga toda e qualquer ação que gere prazer sexual. Nele o sexo torna-se feio, sujo, impuro, perverso e vicioso. Em sua famosa obra “Confissões”, chega a afirmar: "... a felicidade não é um corpo e por isso não se vê com os olhos". É sobre este pensamento que a cultura cristã ocidental vai se desenvolver, ou seja, sobre a premissa de que sexo e pecado são coisas que andam juntas. Com o surgimento da psicanálise de Sigmund Freud, no século XIX, estas questões foram analisadas por um outro ângulo e, assim, essa idéia de sexo como coisa maligna foi praticamente abolida. Contudo, e isso é fato, a igreja sempre foi impermeável a ciência e, a bem da verdade, Freud nunca esteve entre os pensadores que a influenciaram. Há algo que me chama a atenção na pesquisa? Não. Talvez apenas o fato de pessoas que praticam uma religião terem a coragem de responder, ainda que anonimamente, a perguntas de caráter bem explícito, como infidelidade, homossexualidade, masturbação, pornografia, dentre outras. 

Na verdade, a pesquisa desvela um universo que, talvez, ainda seja desconhecido do público em geral. Contudo, para mim que sou pastor, ela apenas comprova o que já escuto todos os dias no meu gabinete, durante as seções de aconselhamento. O que existe na verdade, e aí mais uma vez entramos no terreno do mito, é que a sociedade imagina que a religião é um “cabresto” para determinados impulsos da natureza humana, como a sexualidade, por exemplo. Essa ilusão continua sendo “vendida” nos púlpitos de muitas igrejas, como se a doutrina, por si só, fosse capaz de tornar-se instrumento de sacralização dos impulsos da “carne”, um meio de transformar o indivíduo comum num asceta medieval, de remetê-lo a ataraxia grega, a sublimação do sentir do ser. É fato que há um afrouxamento do ensino e da pregação da santificação na igreja cristã contemporânea e, sem dúvida, isto ajuda a construir um cenário de liberalismo e permissividade. Mas não há como negar que essas questões existem desde sempre, pois podemos encontrá-las presentes no livro de Gênesis, na cidade de Sodoma, nas orgias da Grécia, nos bacanais de Roma, na boemia francesa da idade média e nos bailes funks do Rio de Janeiro. Esta não é uma questão ligada a uma época ou a uma cultura, é algo atemporal, intrínseco ao ser humano, faz parte de nossa natureza, devia ser visto como coisa comum, natural, pois, tratar o tema de outra forma só faz proliferar o que temos aí, o sexo como algo insalubre, como perversão escondida, como neurose religiosa, e tudo o que é proibido explode da alma para a vida nas formas mais hediondas possíveis. Sente numa sala de aconselhamento e você comprovará o que estou dizendo.

CRISTIANISMO HOJE - Fale sobre o instituto de pesquisa que vocês estão lançando.

DANILO FERNANDES - O e-mail marketing é um dos serviços mais solicitados pelos clientes da nossa empresa de consultoria em marketing digital. Seja por conta do nosso banco de dados, seja em função da proficiência no uso da ferramenta para esta atividade. Temos parceria com a AKNA SOFTWARE que oferece, no nosso entendimento, a melhor ferramenta do mercado. Por conta desta parceria, estamos participando do lançamento da nova ferramenta da empresa, a AKNA SURVEY, que permite a amostragem e tratamento científicos de pesquisas realizadas on line, com desempenho de classe mundial.  Este acordo tem permitido viabilizar projetos de interesse geral dos evangélicos, onde o uso da expertise de cada parte é pro bono. Em outras palavras, as duas empresas estão doando tempo e recursos valiosos para este trabalho. O Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã é a entidade que criamos para concentrar estes projetos sem fins lucrativos e divulgar as informações. O BEPEC também passa a deter as informações especifícas sobre a população evangélica e que serão usadas em favor de nossos clientes atuando no segmento evangélico - interessados em conhecer mais sobre seus clientes, mercado potencial, satisfação, comportamento e hábitos de consumo, etc.

CRISTIANISMO HOJE - Há outras pesquisas programadas para este ano?

DANILO FERNANDES - Estamos estruturando um novo projeto centrado na confissão de fé. Queremos coletar dados estatísticos sobre os fundamentos da fé evangélica. No que o evangélico acredita ou afirma acreditar vis a vis a doutrina bíblica. Acho que vamos nos surpreender. Como fizemos na presente pesquisa, estamos convidado líderes a participar do projeto que dará filhotes, incluindo programas de TV, matérias, seminário e um livro.

Outro projeto para este ano é uma pesquisa de opinião de interesse mercadológico, primariamente, mas que tem potencial para agregar positivamente ao incentivo à formação teológica do povo de Deus. Queremos entender melhor o comportamento de compra dos evangélicos, consumo de conteúdo, aspirações, hábitos e interesses na rede e outras questões a subsidiar aqueles que se ocupam da produção de conteúdo cristão no país.


Genizah




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  1. É muito bom quando temas tão pertinentes são abordados e transmitidos sem preconceitos nem tabus como o da respectiva matéria que em forma de pesquisa faz uma radiografia da sexualidade do “universo evangélico brasileiro”.
    No livro de Eclesiates encontramos um contexto de dimensões eróticas onde a sexualidade é vivida intensamente e expressa em linguagem poética!
    Entretanto. Como em tudo, e não é diferente em sexualidade: “Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa!”
    A nossa sexualidade expressa-se de várias formas, sendo a relação sexual uma delas.
    Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a sexualidade: “é uma energia que motiva para encontrar amor, contacto, ternura e intimidade; integra-se no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual, e ser-se sexual. A sexualidade influencia pensamentos, e por isso, influencia também a saúde física e mental”.
    A sexualidade influencia a forma como sentimos todas as coisas, sendo esta uma dimensão da nossa personalidade. “Ela poderá traduzir-se numa maravilha, ou numa errância”. “Maravilha” no sentido da descoberta da vida, empurrando-nos para os outros; “errância” quando vivida num anonimato sem atenção ao rosto do outro, na procura desenfreada do prazer ou na instrumentalização dos corpos.
    Parabéns. Ótima postagem!

    BONANI SIM, BANANA NÃO

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