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Ricardo Gondim e a escatologia da esperança



Marcelo Lemos

A Lei de Deus foi dada como um padrão para todos os povos, “guardai-os, pois, e, fazei-os, porque esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que ouvirão todos estes estatutos e dirão: Só este grande povo é gente sábia e inteligente. Porque, que gente há tão grande, que tenha deuses tão chegados  como SENHOR, nosso Deus, todas as vezes que o chamamos? E que gente há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje sou perante vós?” (Deuteronômio 4.6-8). Pretensão que é comprovada em muitas outras referencias (I Reis 10.1. 8-9; Isaías 24.5; 51.4; Salmos 2.9ss; 47.1,2; 94.10-12; 97.1,2; 119.46, 118,119; Provérbios 16.12; Eclesiástes 12.13).

Com o Advento do Cristo, o desígnio de Deus não foi alterado, antes, tornado realidade pela instrumentalidade do Evangelho. “E acontecerá, nos últimos dias, que se firmará o monte da casa do SENHOR no cume dos montes e se exalçará por cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as nações. E virão muitos povos e dirão: Vinde, subamos ao monte do SENHOR, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine o que concerne aos seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a Lei, e de Jerusalém, a palavra do SENHOR” (Isaías 2.2).

Este não é um pensamento muito popular nos dias de hoje, e talvez soe estranho a alguns já acostumados a ideia de que o Cristianismo está predestinados a ser sempre uma cultura marginal na História. Depois de duas guerras mundiais a Igreja abriu espaço a um pessimismo escatológico até então inédito. Se outrora havia a esperança de converter o mundo, passamos a conviver com o sentimento de que tudo vai mal, e irá de mal a pior à medida que o calendário avança mais alguns passos. Além disso, os cristãos parecem convencidos de que o próprio homem achará respostas para suas questões éticas e morais, como se a Lei de Deus fosse retrógada e superada.

Mas a escatologia da esperança não morreu. Assim como na parábola da menor das sementes, tipologia do Reino (S. Mateus 13. 31,32), lenta e progressivamente a esperança ressurge, atraindo a si cada vez mais e mais simpatizantes e soldados. Mas há alguns riscos pelo caminho, pois nem mesmo seu nome, “esperança”, está livre de deturpações.

Tomei um susto esta semana. Culpa de Ricardo Gondim, que aparece em vídeo (vide abaixo), numa palestra para líderes da sua Denominação, fazendo apologia de uma tal “Teologia da Esperança”, que nasceu das meditações marxistas de Jurgem Moltmann. Mas, que esperança pode haver onde não há a tradicional esperança da Igreja, a qual Gondim chama de “utopia”? É a esperança do homem no homem, que sonha tornar o Reino presente e visível por seu ativismo social no mundo. No evangelho “social” o homem é seu próprio Cristo, e a esperança da Igreja é tida como “discurso alienante” nas mãos dos poderosos.






Nem tudo em Moltmann é ruim em intenção, mas tudo nele é ruim em essência. E de boas intenções o inferno, segundo a lenda, anda bem cheio. A intenção da Teologia da Esperança de Moltmann é convocar os cristãos a exercerem seus carismas no dia-a-dia, trazendo para hoje o Reino de Deus, inaugurado por Cristo. E ele fala sobre isso com palavras belíssimas e corretas: “[a Igreja é] uma comunidade de fé, esperança e fraternidade que se torna fermento de vida para todo o mundo”. Criticar a alienação de setores da Igreja e propor uma ação concreta no mundo não é o problema com Moltmann. Não é a intenção, mas a essência de sua teologia que peca. Em sua essência a teologia dele nega a historicidade da Segunda Vinda, além de abraçar a heresia universalista, segundo a qual todos os homens serão salvos. Não sei se Gondim já chegou a este ponto, mas pela lógica, é apenas uma questão de tempo. Sim, pois a ideia de um Deus aberto para o futuro, e para quem o futuro é um mistério tanto como é para o homem, também se faz presente na teologia marxista de Moltmann. Só falta a Gondim declarar-se universalista, negando o inferno, se é que já não o fez. Bem, acho que me assustei atoa, o buraco é ainda mais fundo...

“Que Cristo fez com essas chaves (do inferno)? Ele abriu as portas, é evidente! Quando você pensa no Inferno nunca deve fazê-lo com intenção de saber se você ou qualquer outro está caminhando para lá, mas sempre olhando para Cristo. Em suas feridas a morte e o inferno foram superados” (Jurgem Moltmann, em entrevista ao jornalista Berndt Florian).

Por uma questão de honestidade intelectual devo admitir que nas duas obras de Moltamann que já li (“Que é o homem?”“Igreja, poder do Espírito”), não me lembro – frise-se bem o ‘não me lembro’ – de uma negação aberta da Segunda Vinda literal. Nestas duas obras Moltamann é sempre muito vago ao se referir a ela, de modo que seria preciso uma análise mais profunda para determinar seu pensamento aqui. Porém, como não li a obra “Teologia da Esperança”, que é a recomendada por Gondim no vídeo, e assumindo que Gondim conhece mais de Moltamann que eu, espero não estar sendo injusto com a teologia do luterano. Fora isso creio estar falando com conhecimento de causa sobre os demais problemas com sua teologia.

Moltmann está certo em convocar a Igreja para atuar como agente do Reino de Deus aqui e agora? Está! Mas ele não consegue fazer tal convite sem transformar as Escrituras numa cartilha marxista e, por tabela, transformar o Evangelho e a Eternidade em utopias. Seria um ateísmo disfarçado? Moltmann nega, todavia, eu o acusaria de Deísmo sem muito remorso. Ou seja, ele parece pensar em Deus como um grande relojoeiro que deu corda e só... Qualquer semelhança entre isso e teísmo aberto seria apenas coincidência? Talvez.

O fato é que a esperança de Moltamann e Gondim é tão falsa quanto o marxismo que os dois abraçam, e que fomenta o evangelho social dos teólogos da libertação. Algum tempo atrás, Bento XVI, que estudou junto com o luterano, sentenciou, na encíclica Spes Salvi: “A época moderna desenvolveu a esperança da instauração de um mundo perfeito que, graças aos conhecimentos da ciência e a uma política cientificamente fundada, parecia tornar-se realizável. Assim, a esperança bíblica do reino de Deus foi substituída pela esperança do reino do homem, pela esperança de um mundo melhor que seria o verdadeiro «reino de Deus»”. Moltmann não se impressionou muito, segundo ele a Santa Sé, que hoje seu ex-colega de turma lidera, não é uma instituição evangélica; pode não ser, mas o deus relojoeiro também não é!

Caro Gondim, ter esperança no homem não é ter esperança, é antes desesperança. E não tentem me iludir sobre isso. A verdadeira Teologia da Esperança, e sua Escatologia, também acreditam no Reino de Deus aqui e agora, e militam numa Igreja messiânica, agente de Deus no mundo; porém, não edifica seu castelo sobre uma Utopia, mas na Rocha, que é Cristo, de quem o Credo ensina: Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os morto”. O marxismo, este eterno fracassado que permeia vosso pensamento, este sim, que grande utopia, não? O que esperar de uma teologia que nasce justamente do coração do ateísmo? Senhores; se é isto que vocês chamam de “cristianismo intelectual”, quero morrer burro e ignorante, cantarolando ingenuamente “a loucura de Deus é mais sábia do que os homens” (I Coríntios 1.25).

O Cristianismo não irá transformar o mundo pela força política (marxista ou não), ou por força de leis. O único caminho para um novo mundo é a regeneração, e esta, possível exclusivamente pela Pregação do Evangelho; um Evangelho que não caminha olhando para um “horizonte utópico”, mas para Aquele “que é, que era, e que há de vir” (Apocalipse 1.4).

Trago comigo incontáveis reservas contra o Dispensacionalismo, suas distorções bíblicas e seu indigesto “arrebatamento secreto” – apesar de já os ter defendido um dia. Que alegria se cada dispensacionalista visse unir foças nas trincheiras da Escatologia da Esperança (Pós-Milenismo), porém, apesar de tudo, e acima de qualquer diferença, estamos unidos por uma mesma esperança: “Maranata! Ora vem, Senhor Jesus!”. Se alguém nega essa esperança não faz parte da família de Cristo, e não posso chamar de “meu irmão”.




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  1. Marcelo, acho que seu post, embora bem feito, chegou atrasado.

    Gondim já se manifestou sobre o assunto, publicando artigo em seu site.

    Veja o trecho final:

    "(...) Eu creio que Cristo voltará. Mas esta afirmação não gera comodismo em minha alma. Complacência não pode se confundir com esperança. Nietzsche se revoltou contra a esperança que rouba a gesta transformadora. Esperança postergada, e que se acovarda no enfrentamento da vida, não passa de apanágio ideológico para favorecer o opressor.

    Afirmar que Cristo virá de fora (transcendência) significa dizer que a ação humana (imanência) não consertará a história. O Deus que encarnou retornará, de fora da história, trazendo juízo, cura e esperança. Naquele dia, o horizonte utópico se desfará e entenderemos o porquê de toda a mobilização que nos incentivou a trabalhar pelo Reino.

    Profecia é incentivo, nunca entorpecimento. A esperança cristã desdenha do capitalismo, que não tem a última palavra sobre o paraíso; critica o marxismo, incapaz do progresso que desemboca em equidade plena; afasta-se da religião, que tenta se confundir com a Cidade Celestial. Por enquanto, Paraíso é maquete. Até aquele dia, a nova Jerusalém nos desaloja da zona de conforto. O ainda não revela que o mundo do jeito que está permanece um acinte ao propósito divino. Mas chegará o dia, grande e glorioso, quando céu e terra se tornarão uma só realidade. Na revelação plena do Cordeiro, saberemos que não lutamos em vão, e celebraremos.

    Maranata, venha logo, Jesus!"

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  2. Link pro artigo recente do Gondim:
    http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=61&sg=0&id=1853

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  3. Sou presbiteriano, porém............

    Incrível a dificuldade de se compreender algo tão claro que o Gondim diz.

    Deus por favor, levante mais Gondins no Brasil. Quem sabe assim a história deste país comece a mudar, através de ações de crentes verdadeiros apaixonados por vidas e não somente pelo porvir.

    Deus se utiliza dos humanos para colocar sua vontade na terra. O crente vive o sonho de um mundo melhor após vinda de Cristo, enquanto a intenção de Deus é venha o Teu reino hoje.

    Se os supostos defensores do evangelho que seguem este blog não entendem e não aceitam isso, significa que a coisa ficou feia mesmo......

    Robson
    São Bernardo

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  4. Anderson,

    Obrigado pelo link da manifestação do Ricardo.
    Ficou muito claro a opinião dele.
    Ficou feio para os que aqui criticaram, se é que entenderão o texto dele.

    É esse cristianismo que pode mudar a história que quero crer pois se parece mais com Jesus

    Espero que divulguem aqui também o texto do Ricardo.

    Angela

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  5. O Genizah publicou texto meu sobre este tema.

    Escrevi o texto assim que se divulgou o vídeo do Gondim - no qual ele assume a escatologia de Moltmman, que sim, negava a literalidade da volta de Cristo (de acordo com certa entrevista que deu). Como nos livros que li do autor citado não encontrei tal coisa DEIXEI O FATO CLARO NO TEXTO ACIMA, para quem se deu ao trabalho de ler, claro.

    Que bom que Gondim resolveu CONSERTAR A BOBAGEM que disse no vídeo. Infelizmente, só conserta parte da bobagem, pois o marxismo continua impregnado na escatologia do moço, infelizmente. A não ser que, agora, ele queria desmentir toda a escatologia de Moltmann,a mesma que sobre a qual jogou confetes no vídeo em questão.

    Paz e bem

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  6. Vocês que defendem o Gondim são um bando de idiotas. Há um acordo tácito entre vocês: ele quer enganar e vocês querem ser enganados. Agarra-se a esse texto (O que penso sobre a volta de Cristo) com se fosse a tabua da salvação da reputação do Gondim e fecham os olhos para o vídeo em que ele nega a volta de cristo. Ora, como diz o ditado: uma imagem vale mai do que mil palavras. Por que o defendem em vez de defender o evangelho? Por serem idolatras e se deixam seduzir pela retórica e o pseudo-intelectualismo desse senhor.

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  7. O Gondim tentou consertar o vídeo, mas que ficou claro que ele tratou a volta de Cristo como "horizonte utópico" isso ficou!!
    Cara Angela, o cristianismo não mudará o mundo nem a história. Mudará o coração, dará esperança e sentido a vida daqueles que receberem o evangelho da graça. Jesus nunca posicionou sua pregação como sendo transformadora do mundo, mas das vidas que o receberam. Jesus sequer orou pelo mundo, João 17:9 "Não oro pelo mundo, mas por aquele que me destes, porque são teus".
    É bom não acomodarmos nossa alma, como disse Gondim, pregarmos o evangelho redentor do reino de Deus, mas precisamos ter o cuidado de não transformamos o evangelho numa esperança do reino do homem, na esperança simples de um mundo melhor (como disse Bento XVI), se não nossa esperança se torna uma mera utopia marxista.

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