A sala de estar lilás - A teologia de Friends e a horizontalização da JOCUM
http://genizah-virtual.blogspot.com/2011/05/sala-de-estar-lilas-teologia-de-friends.html
Bráulia Ribeiro
Comecei a escrever há algum tempo atrás, textos de teologia baseados na série televisiva Friends. Meu propósito era duplo: ter uma desculpa racional para continuar a assistir insaciavelmente a série, e comunicar na língua entendida pelo grupo de consumidores da cultura pop.
Não fui muito longe, me cansei da desculpa, assumi o meu desavergonhado vício pelo pop e parei de escrever. Mas lamentei a preguiça quando visitando uma livraria americana encontrei toda uma série de livros de filosofia baseada nas series de TV e nos filmes holywoodianos mais populares. Aqui tenho comigo o 30 ROCK and Philosophy: We want to go to there, que trata as piadas de Tina Fey com a seriedade de um livro de Michael Foucault. Tem a filosofia do House, do Mad Man, do Harry Potter, porque não a teologia de Friends?
Me permitam retomar a teologia de Friends para explicar em algumas linhas um milagre organizacional realizado recentemente na Jocum. Seis amigos vivem em Nova York. Moram próximos uns dos outros algumas vezes compartilham apartamentos. Se encontram quase todos os dias e dividem os detalhes de suas vidas uns com os outros. Não há hierarquia entre eles. Eles formam uma comunidade, fruto da desfuncionalidade da família pós-moderna. Entre eles nada além da graça. As confissões são esperadas e os erros também. Assim como os acertos. Excluídas todas as escapadas sexuais entre eles, o grupo de amigos acaba sendo uma espécie de epítome da igreja.
Como na igreja de Paulo, cada um tem um dom, uma contribuição. Eles não são iguais e nem acham que devem ser. Seu valor não é definido pelo que deveriam ser, mas pelo que são. Os amigos encontraram a benção de existir além de si mesmos. Eu existo nos amigos, na comunidade esdrúxula da graça.
O que impede a igreja de ser assim? Sugiro que muitos dos nossos problemas internos na igreja derivam da noção de Cristianismo hierarquizado. Interpretamos de maneira de vertical a diversidade de dons e ministérios da igreja. A "escada" da espiritualidade deve ser galgada pelos escolhidos. Esta escada torna pastores mais importantes que administradores e professores, profetas mais excelentes que pastores, e apóstolos praticamente semi-deuses. Quando esta hierarquia espiritual encontra terreno fértil na cultura então o dano é irreparável. A doença do clericalismo está enraizada na América Latina.
A espontâneidade dos dons espirituais é esmagada nesta estrutura hierárquica, junto com o conceito essencial ao cristianismo de valor inerente. Seu valor acaba se condicionando à posição que você ocupa na estrutura.
De uma forma nem tão Friends mas não tão clerical como na maioria das igrejas na Jocum se vive em comunidade se tenta viver pela graça e não pelas regras, se entende o corpo como um organismo e não uma instituição, e missões como um movimento humano e não como um empreendimento capitalista.
Conhecendo o braço internacional da missão, entendi porque o Loren é simplesmente o Loren e não o Pastor ou o Reverendo Loren. O Jimmy é Jimmy (até Dime pra uma grande parte não muito letrada da Jocum...)
Em 2002 Deus levou a equipe de liderança a se arrepender pela estrutura que tinham estabelecido. Os títulos e organogramas induziam pessoas ao erro, e mantinham a noção de hierarquia vertical. Tentaram mudar por alguns anos, redefinindo títulos e atribuindo menos responsabilidade aos cargos, mas depois de muito se discutir, orar e tentar encontrar uma forma estrutural que representasse o que a missão é ao redor do mundo, a liderança internacional concluiu o óbvio: Impossível organizar o inorganizável ou hierarquizar a grama. Grama é grama, corpo é corpo, membros pertencem um ao outro. Não existe um organograma que nos convença da importância de se amputar a perna saudável, e mesmo a doente se um dia for cortada vai deixar falta, vai doer como se tivesse lá.
Aos 50 anos Jocum se horizontalizou. Acabaram-se os cargos na maior organização missionária do mundo. Não existe mais presidente, chairman diretor internacional ou nacional, coordenador acima da liderança dos centros locais. Cada país vai encontrar uma forma de diálogo entre os centros missionários e internacionalmente vamos nos reunir num fórum. Amigos, acadêmicos, administradores, visionários, vamos nos servir com nossos dons sem aspirações hierárquicas e posturas clericais. Se alguém for ouvido é porque tem alguma coisa a dizer não porque carrega uma listra no ombro.
Se vamos continuar existindo com sucesso só o tempo dirá. No momento acho que nos basta saber que estamos perto do modelo que Deus planejou para sua igreja. Friends, unidos pela graça. Como na sala lilás da Mônica, estaremos no lugar onde ninguém está sozinho.
Bráulia Ribeiro é colaboradora do Genizah
Ótimo post!
ResponderExcluirPena que existem três tipos de pessoas no mundo gospel: Os que querem manter a hierarquia porque adoram o poder e crêem mais na estrutura que no Deus das Escrituras; Os que não entenderam nada do que a Braulia escreveu e acham que é papo de doido, bicho grilo e comunista; E os utópicos que acreditam que esse modelo funciona se a maioria tiver a mente de Cristo.
Em tempos de Apóstolos, Paipóstolos, Patriarcas e Honra, é ótimo ouvir (ler) que somos membros uns dos outros.
ResponderExcluirDeus te abençoe, Bráulia.
Gostei muito, principalment do trecho que fala que interpretamos os dons de maneira vertical, como se ouvesse hierarquia e não de maneira horizontal, demonstrando a necessidade igual de todos os dons.
ResponderExcluirParabéns Bráulia!!!!
Ps: Tbm gosto muito da série.. Já assisti 3x todas as 10 temporadas heheh Isso é não ter o que fazer!
Show, eficaz.
ResponderExcluirÉ irmãzinha...
ResponderExcluirEu defendia e defendo isso desde os anos 80. Os dons e ministérios são horizontais, pois o cabeça é Cristo.
A igreja é um corpo. Em um corpo o fígado é tão importante qto o rim e o coração, mas o cérebro é Cristo.
Contudo, a "igreja" ainda está presa ao velho testamento em que os sacerdotes eram governantes também...logo, trazendo para os nossos dias, o pastor manda e ponto final.
Porém, na nova dispensação, somos todos reis e sacerdotes. Esquecem o que foi dito: naqueles dias "não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: conhece ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior..."
O que acontece é q o modelo sacerdotal dá margem ao dízimo, dinheiro e poder, por isso ninguém quer abrir mão dessa regalia da velha lei.
Esqueceram e fizeram esquecer q no reino dos céus o maior é o que serve.
PARABENS PELO POST BRAULIA!
ResponderExcluirOtimo exemplo de comparação com a série FRIENDS e bela iniciativa da Jocum em empregar o modelo proposto por ti.
É utopia. Comunidade assim só lá no céu.
ResponderExcluirPaz seja com todos
ResponderExcluirHorizontalizar relações é algo inédito institucionalmente falando nas igrejas comteporâneas.
Vejamos como se sairão, e certamente, torcerei muito para que alcancem êxito
Só fazendo algumas observações. A filosofia (ou teologia, como queira) desses seriados, muito especialmente desse em comento, inclui, entre muitas outras teses, a proposta de que não precisamos de Um Ser Superior (Deus), já temos uns aos outros (os amigos!). Aliás essas séries tem a profundidade filosófica de um prato de papa. Sugiro outras fontes para suas inspirações. Outra coisa, amiga, a hierarquização de organizações é mais que necessária, é vital. É dentro dessa submissão às lideranças que aprendemos muitas lições de humildade. Você está confundindo hierarquização (liderança e submissão) com institucionalização e secularização das organizações a serviço da propagação do Evangelho. Essas, sim, são fatais ao serviço do Reino de Deus.
ResponderExcluirÉ melhor você superar seu vício pelo lixo pop, que não acrescenta em nada. Aliás vício pelo pop é sinal de tédio.
Não tenho palavras!!!
ResponderExcluirFoi o Espírito Santo que me levou e a minha esposa a ler esse texto, simples como o Evangelho, claro como a água.
Acabamos de sair de um "ministério" porque "estamos fora da 'visão'"!
Deus abençoe vocês abundantemente!
Marcelo de Andrade.
nao sei como é em outros estados... mas o que tenho visto da Jocum aqui no DF me deixa bastante preocupado! pessoas próximas a mim que eram participativas na igreja, participavam de coral, teatro, louvor e evangelismo ouviram o chamado para missoes e procuraram a Jocum.
ResponderExcluirhoje essas pessoas mais parecem mundanos do que missionários. vivem em shows de Paul maccartney, só ouvem michael jackson, foo fighters, aerosmith, nao vao mais à igreja (apenas se reunem na base), tratam mal seus pais, seus irmãos, chegam às altas horas da madrugada, etc. nao as vejo louvando ao Senhor, ajudando no evangelismo da igreja, ou de qualquer outro ministério.
pior, me sinto muito mal pois incentivei essas pessoas a procurar a jocum.
uma lástima. nao condeno quem ouve musica mundana, etc... mas "pelos seus frutos os conhecereis". o comportamento demonstrado por elas entre a familia e amigos nao diferem em nada dos outros que não sao cristãos. e os amigos jocumeiros que frequentam suas casas são tao mundanos quanto... nao demonstram amor pela familia, amor à sua igreja... tem se demonstrado amantes das coisas que o mundo oferece. a mais recente foi um convite via facebook para irem a um barzinho...
tenho esperança de que nao sejam todos os jocumeiros que se comportem assim, mas me faz tremer quando ouço "voce quer ser missionária? pois devia começar a pregar o evangelho que voce diz que segue respeitando seus pais."
nada mais (além de decepção)
RI MUITOOO!!!! KKKKKKK
ResponderExcluirSe a Bíblia aponta para uma total horizontalização eclesiástica, então preciso estudar muito mais do que faço. Este processo Downsizing implantado pela Jocum nada tem de novo. As organizações já faziam isto nos anos 80 e 90 no século passado. A Jocum não descobriu a roda no sec. XXI. Entendo perfeitamente a mensagem do texto, mas impor uma experiência sobre todos é precário. Vejo na história da igreja vários tentando dinamitar hierarquias como no princípio da era cristã, quando alguns líderes questionavam totalmente as lideranças dizendo que nada traziam de novo. Daí nascer o montanismo. O que precisamos não é de um Downsizing eclesiástico mas de um avivamento poderoso em nosso meio, quando seremos tocados pelo Espírito Santo e levados a realizar aquilo para o qual fomos chamados como igreja. A igreja sem o Espírito é um vale de ossos mortos com ou sem Downsizing eclesiástico.
ResponderExcluirPr.Luiz Fernando
Ministério Força Para Viver
Maria (2 de maio de 2011 18:26)
ResponderExcluirSábias palavras as suas.
Anônimo Católico.
Por favor voces podem falar do caso do pastor gilberto ''orkut'' fernades - pregador do gideoes missonarios
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=6a3hXzR33Ak
chega de pregacoes para esterimos coletivo e analfabetimos biblico !!!
Acho que a horizontalização não é a desinstitucionalização, que muita gente defende, pois o mal não está na instituição igreja, más muitas vezes está na verticalização do poder.
ResponderExcluirO que me parece é que muitas pessoas querem extinguir a instituição para acabar com a verticalização.
A JOCUM está tentando o contrário, preservar a instituição extinguindo a verticalilzação de poder.
Esse é mesmo o maior desafio de liderança, segundo propôs o Cristo "... pois aquele que entre vocês for o menor, este será o maior". LC 9:48 Infelizmente o modelo hierárquico da igreja romana, mantido na igreja protestante e importado para a igreja evangélica, estimula as pessoas ao contrário.
nEle
Ielton Isorro
clamandonodeserto.blogspot.com
1 - Em que pedaço você manda?
ResponderExcluirUma vez me perguntaram isto. Respondi que eu trabalhava para todos os professores da Escola Dominical daquela igreja, que eu lutava para dar condições para que eles pudessem fazer o melhor.
Não gostaram da resposta.
2 - Um grupo de casais dirigindo reuniões da casais numa igreja.
Batalhei para que fosse um colegiado trabalhando em conjunto.
Na primeira vez que estive ausente do grupo, a primeira coisa que fizeram foi eleger, por aclamação, um chefe.
A partir da "chefinização" do grupo acabou-se o trabalho em equipe. Quem cuidasse da preparação de uma reunião não tinha mais o apoio de todos. Estava sozinho.Com o tempo, foi-se o que era doce. Acabaram as reuniões.
Considero a dependência de alguns pela hierarquização clerical, pela busca de poder, um problema.
Amplexos,
Osmundo Pimentel