Política x politicagem: "diga-me com quem andas..."
http://genizah-virtual.blogspot.com/2010/10/politica-x-politicagem-diga-me-com-quem.html
Alan Brizotti
O problema do Brasil não é a política, mas a politicagem. Entendo por politicagem a malandragem que deturpa essências. É o mentiroso que, vestido com a roupa linda da verdade, oculta sua lepra moral. É o sorriso falso que envenena o olhar que o recebe. O estelionato das emoções. O politiqueiro é um ladrão de sonhos, um gigolô de desejos.
Quando o câncer da politicagem entra em metástase o primeiro a definhar é o voto. Aquele eleitor sincero, que sonha com um país honesto e digno é simplesmente assaltado em sua alma, tem sua retina prejudicada pelas luzes ofuscantes dos espetáculos que os magos da politicagem promovem, cujo ápice do show é a mágica de sumir com o dinheiro público.
Política é (um pouco) diferente. Nela cabem alguns honestos (note: alguns!) A política é uma arte, e como toda arte exige talento – e talento é para poucos. A verdadeira política é ambiente de vocacionados, nunca de aproveitadores. É lugar de se trabalhar com projeções, com esperanças e futuro. É um híbrido de profetismo com poesia. É para alguns.
A Bíblia tem os dois: política e politicagem. Tem um Davi e um Moisés, mas também tem um Saul e um Herodes. Em sua profunda liberdade, a Bíblia não esconde os erros de Davi e Moisés (política verdadeira assume seus erros), nem oculta as maracutaias de Saul e Herodes (e outros). A Bíblia é o livro dos humanos – assim mesmo, humanos! Com toda sua bagagem.
O que temos hoje no Brasil é muita politicagem, pouca política. Muita ilusão, pouca verdade. É o voto como barganha, negociação pífia. Moeda de troca. É o politiqueiro em sua irritante mania de achar que pode dispor da população e de seu voto como bem entender, que faz de seu mandato um passeio pela terra da falta de vergonha.
É a república de Odorico Paraguaçu, personagem da obra de Dias Gomes, O bem amado, que tem como meta prioritária em sua administração na cidade de Sucupira, a inauguração de um cemitério. De um lado é apoiado pelas irmãs Cajazeiras, do outro, tem que lutar contra a forte oposição liderada por Vladimir, dono do jornaleco da cidade. Por falta de defunto, o prefeito nunca consegue realizar sua meta. Nem mesmo a chegada de Ernesto - um moribundo que não morre - e a contratação de Zeca Diabo, um cangaceiro matador, lhe proporcionam a realização do sonho. Odorico arma situações para que alguém morra, mas o primeiro corpo a ser sepultado em Sucupira será o do próprio prefeito.
Se o ditado popular utilizado no título desse post fosse observado na hora de votar, acredito que muitos politiqueiros seriam descartados. Enterrados em suas próprias covas. Quem sabe um dia a política vença a polticagem, até lá que que Deus nos ajude...
Alan Brizotti, insistindo na subversão reinista aqui no Genizah
Eu gosto da política. É impossível não viver-la. Infelizmente temos que ingerir a politicagem junto, porque ela vem disfarçada, nem sempre é possível reconhecer-la.
ResponderExcluirQue Deus continue nos ajudando.
Se o ditado popular utilizado no título desse post fosse observado, Judas seria um político eleito, pois andava com Jesus.
ResponderExcluirCuidado com as sínteses simplistas.
Marco,
ResponderExcluirGraças a Deus que Jesus não era político. Judas sempre foi. O ditado é incrivelmente legítimo. O simplismo acusado por você ainda é o que faz os Judas de ontem e de hoje infiltrarem-se em nosso meio.