Ostra feliz não faz pérola
http://genizah-virtual.blogspot.com/2010/08/ostra-feliz-nao-faz-perola.html
Rubem Alves
Ostras são moluscos, animais sem esqueleto, macias, que são as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, com pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas – são animais mansos – seriam uma presa fácil dos predadores.
Para que isso não acontecesse a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem. Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostra felizes porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário. Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. As ostra felizes se riam dela e diziam: “Ela não sai da sua depressão...” Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor. O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de suas aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava seu canto triste, o seu corpo fazia o seu trabalho – por causa da dor que o grão de areia lhe causava.
Um dia passou por ali um pescador com o seu barco. Lançou a sua rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-as para a sua casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras de repente seus dentes bateram numa objeto duro que estava dentro da ostra. Ele tomou-o em suas mãos e deu uma gargalhada de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele tomou a pérola e deu-a de presente para a sua esposa. Ela ficou muito feliz...”
Ostra feliz não faz pérolas. Isso vale para as ostras e vale para nós, seres humanos. As pessoas que se imaginam felizes simplesmente se dedicam a gozar a vida. E fazem bem. Mas as pessoas que sofrem, elas têm de produzir pérolas para poder viver. Assim é a vida dos artistas, dos educadores, dos profetas. Sofrimento que faz pérola não precisa ser sofrimento físico. Raramente é sofrimento físico. Na maioria das vezes são dores na alma.
Ostras são moluscos, animais sem esqueleto, macias, que são as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, com pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas – são animais mansos – seriam uma presa fácil dos predadores.
Para que isso não acontecesse a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem. Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostra felizes porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário. Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. As ostra felizes se riam dela e diziam: “Ela não sai da sua depressão...” Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor. O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de suas aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava seu canto triste, o seu corpo fazia o seu trabalho – por causa da dor que o grão de areia lhe causava.
Um dia passou por ali um pescador com o seu barco. Lançou a sua rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-as para a sua casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras de repente seus dentes bateram numa objeto duro que estava dentro da ostra. Ele tomou-o em suas mãos e deu uma gargalhada de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele tomou a pérola e deu-a de presente para a sua esposa. Ela ficou muito feliz...”
Ostra feliz não faz pérolas. Isso vale para as ostras e vale para nós, seres humanos. As pessoas que se imaginam felizes simplesmente se dedicam a gozar a vida. E fazem bem. Mas as pessoas que sofrem, elas têm de produzir pérolas para poder viver. Assim é a vida dos artistas, dos educadores, dos profetas. Sofrimento que faz pérola não precisa ser sofrimento físico. Raramente é sofrimento físico. Na maioria das vezes são dores na alma.
Divulgação Genizah
É...
ResponderExcluirOstra feliz não faz pérola...
Cristão que não morre não dá frutos...
Muito bom esse texto.
ResponderExcluirAmo Rubem Alves e seus textos reflexivos
Olá Danilo. Seu blog é hilério, divertido, polêmico, sério. Parabéns. A hora é minha em você ser meu seguidor; estou começando.
ResponderExcluirParabéns pela coragem
Muito bom, Rubem Alves é o cara kkkk.
ResponderExcluirImpressionante como algumas palavras podem fazer com que a gente sinta algo profundo na alma...
ResponderExcluirObrigado por este momento sublime.
Por isso a educação está assim no triste Brasil. Se educador tem que sofrer para ensinar, então o nosso amado país deveria estar produzindo pérolas...
ResponderExcluirEssa a pedagogia da 'água de salsicha' proposta pelo ilustre Alves: nada para ensinar, nada para comentar, apenas divagar nulidades pseudofilosóficas em proveito da alienação. Suas parábolas mais parecem serem coros ao existencialismo de Sartre... O que me assusta ainda é o fato de Alves ter feito inúmeros discípulos mundo afora!
Muito bom esse texto!!
ResponderExcluirDe fato, as ostras são resultado de sacrifício. Boa lição pra nós cristãos, especialmente nos dias de um "evangelicalismo barato e egocêntrico".
Um abraço! Estou te seguindo também!!
Muito bom esse texto!!
ResponderExcluirDe fato, as ostras são resultado de sacrifício. Boa lição pra nós cristãos, especialmente nos dias de um "evangelicalismo barato e egocêntrico".
Um abraço! Estou te seguindo também!!
Se bem que tem momentos na vida da gente, que parece que não é um grão de areia, mas um caminhão inteiro... Graças a Deus que nos consola e garante o livramento.
ResponderExcluirGraça e PAZ
Viver a vida com Cristo é o que há, produzir pérolas para viver causa dores.
ResponderExcluirCreio que o sofrimento possa trazer um certo polimento, mais não concordo que ele seja o único a produzir perolas, como no caso das ostras. No caso humano grandes perolas podem ser produzidas sem sofrimento. Agora mesmo acabei de ver uma perola do Hermes Fernandes, e esta perola nos prega exatamente o contrário, o seu título diz o seguinte: "A ordem é extravasar".
ResponderExcluirNele:
Amarildo.
Ótimo texto! Eu me recordo de uma vez ter assistido a uma entrevista do Rubem Alves no pragrama da Ana Maria Braga quando ele falou sobre essa reflexão profunda sobre a natureza de um molusco com a vida humana... e me recordo, assim quando leio o seu post, do que ainda me arranca suspiros por essa sabedoria das palavras de um grande poeta, escritor, teólogo...mineirinho Ruben Alves. Amo muito os seus textos, sua vida em simplicidade etc. Parabéns pela publicação! Estou amando conhecer este Blog!
ResponderExcluirGrande abraço!
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dwmagalhaes.blogspot.com