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O pobrismo e os cristãos


Bráulia Ribeiro


Quem está certo o teólogo da libertação, ou o teólogo da prosperidade?



Como o título foi grande o capítulo pode ser pequenininho, né? Mas vai ser difícil com um tema destes. Segure as pontas que vamos embarcar em mais conceitos antropológicos. Detesto usar “palavrões” (acadêmicos, porque palavrões populares você já deve ter percebido que tenho franca simpatia por eles…) mas aqui tenho que falar de dois: contextualização e sincretismo. Por contextualização nós “missiólogos” (ai que chique!) entendemos o ato de adaptar um conceito para uma forma conhecida pelo povo, assim vestindo uma idéia nova com uma roupa velha se comunica melhor a idéia. Por exemplo quando celebramos a ceia do Senhor na Amazônia, ao invés de usar pão e vinho, usamos açaí e beiju de mandioca, ou água com pó natural de guaraná e macaxeira. Isto se chama contextualização. A ceia é a mesma, o conceito do sangue (alimento líquido) e da carne (alimento sólido) continuam presentes, mas a forma do símbolo mudou de pão e vinho para uma forma conhecida e tão familiar e cotidiana para o povo da região quanto o pão e vinho eram para o povo judeu da época de Jesus.

Experimente celebrar a ceia do Senhor usando outros elementos! Você vai ver o poder dos símbolos de um jeito diferente! Celebre com os jovens uma ceia com Coca-cola e batata frita, ou café com chocolate! Seu papo com Jesus vai ficar muito “irado” meu!! (“Irado” não no português do Português, mas no português da Tati é claro!) Se você se escandalizou ou acha que isto não é bíblico, mais uma pergunta: Quando Jesus falou, eis o meu corpo, e o meu sangue, ele estava falando do pão e do vinho em si? Se é assim, então caímos na doutrina católica da transubstanciação… O que é transubstanciação? Ah meu tá querendo demais… Vai estudar, véio.

E o outro palavrão, sincretismo? Acho que já expliquei uma vez, mas aí vai de novo, é quando um conceito novo toma uma forma velha. Ué? Mas não é a mesma coisa que o outro palavrão? É. Tenho que admitir que é. Veja bem, nós os missiológos (desta vez não me parece tão chique assim, pareceu pedante pra caramba…) dizemos que não é a mesma coisa, porque fazemos um juízo de valor. Só chamamos de contextualização quando nós pensamos que a idéia adaptada era certa. Quando o povo mistura idéias do Cristianismo, novas para a cultura deles, com suas formas estranhas e de difícil interpretação vira tudo um bololô e ficamos inseguros quanto ao resultado final. Será que aquilo é Cristianismo de verdade ou é um paganismo maquiado? Não sabemos. Então dizemos que é sincretismo.

O que é que isto tudo tem a ver com a pobreza e com o jeito que nós cristãos evangélicos lidamos com a pobreza? A Bíblia nos oferece um panorama de riqueza e pobreza que tem sido interpretado de muitas formas diferentes ao longo dos séculos. A própria igreja católica não conseguiu ser homogênea em torno deste conceito, por isto as ordens católicas tem abordagens às vezes radicalmente opostas umas às outras. Uns fazem voto de pobreza e usam roupões surrados amarrados com uma corda na cintura (estes não são muitos populares nos dias de hoje) outros vivem uma vida nababesca sustentada pela igreja. A Igreja Católica mesmo como instituição é riquíssima. Imagina quantas pracinhas só no Brasil tem Igrejas católicas no meio? Quantos colégios, quantas universidades…

Mas os protestantes também se confundem nesta questão. Calvino desenvolveu a teologia do lucro legítimo. Esta foi uma grande contribuição do protestantismo à cultura ocidental. Se fôssemos todos católicos ainda talvez eu não estivesse aqui hoje na frente deste computador num escritório com ar condicionado. Pode ser que eu nem soubesse ler e escrever, já que sou mulher e nasci de família classe média baixa. As idéias de Calvino foram a base do todo o desenvolvimento ocidental. A passividade provocada pela hierarquia de ferro da igreja católica não produziu a liberdade de gerar riquezas e bem estar para toda a população, mas o direito de permanecer rico para um grupo muito pequeno de pessoas que nasciam ricas.

Calvino legitimou o lucro, e por consequência a escalada social, a mudança do status quo, a constante busca por mais e melhor que marca nosso mundo ocidental até hoje. Não quero entrar na discussão sobre a validade destas idéias, e cair no lugar comum ou de excecrar o capitalismo como vindo diretamente do coração do demo, ou de idolatrá-lo como único pilar sobre o qual uma “civilização” verdadeira deve se apoiar. Nada disto, nem Bush nem Fidel, ambos deixam a verdade na gaveta de suas escrivaninhas.

A Bíblia dignifica os pobres, atribuindo-lhes valor intrínseco mas os desafia também. A Bíblia exorta os poderosos a serem justos, e a terem na prática da justiça para seus companheiros um de seus maiores alvos, mas os permite enriquecer e os permite se alegra no prazer que as riquezas proporcionam. Parodoxal esta Bíblia, não? A mesma Bíblia que é mãe do Capitalismo se torna mãe do Comunismo. O mesmo gênio que estava sobre Calvino estava sobre Marx. Parece que não vai dar pra entender. Mas se a gente olhar pra Jesus consegue.

Jesus era “o cara” dos pobres, mas era também “o cara” dos ricos. Tanto faz pobre ou rico, seu negócio era gente. Condena os ricos pela indiferença e pela avareza, manda o jovem rico vender tudo, mas também não fica passando a mão da cabeça do pobre.

E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós. Mateus 5:2-12

Toda a parodoxalidade da pobreza e da riqueza na Bíblia pode ser vista lindamente nesta passagem. O que importa é o que há dentro de nós. Mas não de uma maneira que nos deixe alienados, bocós esperando o porvir, um reino que não chega, nos prostrando vitimizados diante de um destino cruel incontrolável, ou como filhos de um rei na barriga, buscando a prosperidade comercial como um fim em si mesmo e absolutizado pela pseudo-benção de Deus. O reino não é o porvir, e nem um home-theater. O reino é gente amando e sendo amada, gente sendo perdoada e misericordiesada, gente lutando pela justiça dos outros, na vida dos outros, no quintal dos outros como se fosse a sua própria justiça. Gente consolando os outros, construindo vida com seu governo que reflete os valores de Deus, sendo limpos e de coração puro, querendo Deus, mas sendo perseguidos no entanto, perdoando mas sofrendo calúnias, etc. Não importa a posição social, se escravo ou livre, se homem ou mulher, se temos os valores de Deus, ao nosso redor não haverá diferença de tratamento ou justiça entre escravos e livre, homens ou mulheres.

Tudo o mais é bobagem. É bobagem ficar se amargurando pela pobreza, é bobagem ficar se orgulhando na riqueza. Que Deus nos ajude. Me canso sempre quando leio artigos de pastores cheios de auto-justiça e amarguras contra o Bush o capitalismo, cheios de defesas para defender os pobres que, sinto muito, não precisam destes Fidéis de plantão bem confortáveis em seus salários altos e carros importados. Todos nós precisamos é de perdão.

Quando os católicos europeus da geração passada e retrasada vieram à América se absurdizaram com a pobreza e as injustiças causadas pelo catolicismo em nossas terras incas e guaranis. Como aquela tchurma era suuper marxiana em seu pensamento e fora treinada para não agüentar a injustiça (o que claro, é muito bom) inventaram logo uma forma teológica de justificar a luta armada. Olha, vou dizer que simpatizo com eles muito mais do que com os engravatados em Armanis da 25 de Março que pregam a prosperidade. Minha idéia mais romântica de serviço a Deus é uma freira da teologia da libertação, bem bonita, e pura, (mas com uma quedinha platônica pelo líder do movimento guerrilheiro, claro) com dois cinturões de bala cruzados no peito a lutar com os pobres e pelos pobres nas montanhas da Colômbia ou do México, aliás o México é bem melhor porque lá não tem droga.

Então (poxa parece que não chego no assunto nunca!) estes teólogos liberais estavam sincretizando o evangelho com o marxismo-maoísta, ou encontraram uma solução teológica legítima para o sofrimento que encontraram aqui? Seria sincretismo ou contextualização o que aconteceu? Nós evangélicos desprezamos estas soluções e importamos o conceitos teológico enlatado americano que nos diz que os tiranos, mesmo os piores deles (Noriega, Fidel, e Cia LTDA) devem ser respeitados porque estão no poder. Daí a passividade criminosa que os protestantes adotaram diante da ditadura, daí a conivência com o regime militar no Brasil.

É sincretismo ou contextualização a teologia da prosperidade? Os pregadores desta teologia dizem que o crente tem direitos. Não é novo isto, o mundo hoje, a mídia, tudo nos diz que temos direitos. A pregação de um sujeito assim não é diferente em contéudo do que nos diz a Darlene da novela de Gilberto Braga: Celebridades, na sua busca incansável por fama e riqueza. “Pela fama faço tudo!!”

Ambas teologias distorcem o evangelho em sua essência. Jesus não nos permite odiar, e não nos permite amar demais o nossa vida na terra, ou os próprias direitos que ele mesmo nos dá. Porém ambas teologias contém verdades importantes. Jesus nos pede que sejamos amantes da justiça e a luta idealista pela justiça pode nos levar à morte em alguns locais. E ele nos quer dar o seu amor de pai, e nos cuidar como filhos amados, quando nos conscientizamos deste amor usufruímos do que ele nos deu com alegria e até somos capazes de pedir um pouco mais.

O pobre brasileiro é que está certo. Amamos a vida, ainda que seja numa macorranada e numa cervejinha de fim de semana, num colarinho bem lavado, apesar de puído na camisa social do culto de domingo. Na goiabada com queijo que se come depois do almoço na casinha de mobílias sóbrias da vovó.


Braúlia Ribeiro colabora com o Genizah

Vou só sentar e ver o pau comer e as cabeças rodopiarem em torno do eixo da desgastada religiosidade, risos. Arrepeia mana Bráulia!


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  1. Confesso que assim como a autora também demorei a chegar no assunto, quando cheguei, logo depois do almoço, (que foi simples hein tchurma?), tava ficando cansado, já que ela prometeu capítulo curto por causa do título longo.

    Bem, então, noves fora (do bolso de quem?) concordo em que ambas as teologias até produzem seus acertos. Quem não acha o empreendedorismo legal/ (vide o sucesso do Genizah p.ex.). E também quem cristão de verdade não se incomoda com as loucuras deste mundo de injustiças e dores?

    MAs no final parece que a lonjura da viagem do texto deixou-o na estrada da indefinição.

    Já disse o Ariovaldo: a teologia da prosperidade é a teologia da decepção.

    Já a teologia da libertação tornou-se um rtanto quanto datada e como a outra, também transfere ao homem sua própria redenção.

    Como disse a Braulia, na parte que gostei, todos nós precisamos é de perdão.

    Graça e paz, sempre.
    Marcus Vinicius
    http://marcusviniciuscomenta.blogspot.com/

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  2. "Ambas teologias distorcem o evangelho em sua essência." Só essa afirmação já responderia a questão proposta....só que é difícil contestar a telogia da libertação e sua versão protestante a tal "missão integral" então a autora tem q se explicar, fazer uma média, pra não ficar tão "radical".
    Prosperidade e Libertação são pólos extremos, optemos pelo caminho do meio, do equilibrio, do Evangelho.

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  3. Essa Teologia ja esta empregnada em varias denominaçoes..
    aqui no Maranhao tem muito disso..
    no meu blog fiz todo um especial falando somente sobre isso..
    ..ta se alastrando.precisa ser paradaa esssa teologia..
    vai la
    sidneyms.wordpress.com

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  4. Uma Ceia do Senhor com Coca-Cola e Batatas Fritas...
    O que eu escrevo? Blasfemo? Falo palavrões... Canto Madonna? Danço o Reboleition?
    Já acho horrível ter de tomar ceia com suco de uva adoçado e pão de forma cortado em rodelinhas.
    "Esse é o meu corpo que foi cortado em rodelinhas por vós."
    Me tira o tubo.

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  5. Paz seja com todos

    Temos tantas coisas para pensar e refletir e são inumeras teologias que dá para dar uma para cada deus indiano e ainda devem sobrar para dar pros seguidores destes.

    Penso eu que há certo perigo em contextualizar muito e entenda-se muito como sem necessidade para tal. Eu sei o que o pão e o suco de uva simbolizam e agradeço pelo convite, deixo a coca-cola e a batata para o lanche da tarde e fora da igreja.

    Quanto ao mais temos é de focar mesmo em Cristo e combater as heresias mediante aq exposição clara do evangelho.

    atalaiadocastelo.blogspot

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  6. NUNCA LI TANTOS ABSURDOS E PRECONCEITOS NUM SÓ ARTIGO.

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