A oração do velho pastor...
http://genizah-virtual.blogspot.com/2010/05/oracao-do-velho-pastor.html
Levi Bronzeado
Havia apenas vagos rumores lá fora, quando o pastor entrou no seu quarto, após o culto. Olhou-se demoradamente no espelho. Viu que a sua indumentária de ministro não mais lhe causava impressão prazerosa. Olhou mais uma vez para o espelho e chocou-se ao notar as inúmeras rugas que o tempo imprimira em seu rosto, antes jovem, e agora débil, sem brilho e encarquilhado. A velhice chegara com todas as suas marcas indeléveis. Quis então esboçar um sorriso, mas nada conseguiu.
Absorto, mergulhou agora no escuro e pequeno mundo de sua meninice. A frase dita e predita por sua mãe reverberava com força nas cordas de seu coração: “Um dia Deus vai lhe usar para mudar o mundo!”. Na verdade, o que a sua velha mãe, hoje falecida, se referia, era o mundo do seu pequeno vilarejo, do qual nunca saíra em toda a sua vida. Ele parecia, agora, estar vendo a alegria estampada na face de sua genitora, quando dizia para suas amigas: “Esse menino vai longe!”.
Aos vinte e quatro anos foi consagrado pastor, e por dez anos a tônica de suas orações era essa: “Meu Deus, ajuda-me a mudar esse mundo tão mau e corrupto!”
A roda do tempo girou, girou por mais dez anos, e o mundo apesar das reformas e revoluções, permanecia perverso, não dando sinal de mudança. E o que deixava o pastor mais transtornado, era o fato de ver que a sua própria família não queria assimilar o bem que ele tanto apregoava. Foi por esse tempo que a sua fé começou a fraquejar, à medida que a sua impaciência crescia.
Uma noite se surpreendeu orando assim: “Meu Deus ajuda-me a mudar a minha esposa e os meus filhos!” Ele pedia a Deus como se fosse a última cartada, como se dissesse: “Senhor, muda pelo menos a minha família, já que o mundo continua o mesmo!”.
Já beirando os setenta anos de idade, encontrava-se o velho pastor em seu leito, olhando pela janela aberta, o céu límpido e estrelado. Ele via que cada estrela tinha o seu brilho peculiar, e que não conseguia ver uma estrela igual a outra em luminosidade. Nessa noite ele ouvia, vindo de longe, uma música suave, tirada das teclas de um dolente piano. Quando o mais duro fardo do seu íntimo parecia querer romper em prantos, eis que surgiu dentro de si uma centelha de esperança. Foi aí então, que dos recessos de sua alma brotou tremulante como as estrelas do céu, essa oração: “Meu Deus ajuda-me a mudar-me!”.
Após essa oração, o velho pastor, conseguiu enfim sorrir. Mesmo sentindo apertar o círculo conclusivo da vida, ele estava ali, desta feita, absolutamente tranqüilo. Após essa oração dizia de si para si: “chega de querer mudar o mundo, meu Deus. Mesmo que as dores venham me assaltar, mesmo que não haja músicas para me consolar, e ao contrário dessa belíssima noite, vierem negras nuvens, eu não cessarei de rezar essa prece por toda a minha vida”.
Durante muitos anos o pastor tinha lutado como um gigante para mudar o mundo, mas finalmente, mesmo velho e desfigurado, mesmo sem ninguém por perto para elogiá-lo e cobri-lo de louros, tivera o privilégio de alcançar a graça para ver mundo com outros olhos. Fora enfim curado de uma miopia espiritual, que à distância, o fazia enxergar as pessoas tão feias e deformadas.
“A lâmpada do corpo são os olhos. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luz” (Mateus 6: 22)
Absorto, mergulhou agora no escuro e pequeno mundo de sua meninice. A frase dita e predita por sua mãe reverberava com força nas cordas de seu coração: “Um dia Deus vai lhe usar para mudar o mundo!”. Na verdade, o que a sua velha mãe, hoje falecida, se referia, era o mundo do seu pequeno vilarejo, do qual nunca saíra em toda a sua vida. Ele parecia, agora, estar vendo a alegria estampada na face de sua genitora, quando dizia para suas amigas: “Esse menino vai longe!”.
Aos vinte e quatro anos foi consagrado pastor, e por dez anos a tônica de suas orações era essa: “Meu Deus, ajuda-me a mudar esse mundo tão mau e corrupto!”
A roda do tempo girou, girou por mais dez anos, e o mundo apesar das reformas e revoluções, permanecia perverso, não dando sinal de mudança. E o que deixava o pastor mais transtornado, era o fato de ver que a sua própria família não queria assimilar o bem que ele tanto apregoava. Foi por esse tempo que a sua fé começou a fraquejar, à medida que a sua impaciência crescia.
Uma noite se surpreendeu orando assim: “Meu Deus ajuda-me a mudar a minha esposa e os meus filhos!” Ele pedia a Deus como se fosse a última cartada, como se dissesse: “Senhor, muda pelo menos a minha família, já que o mundo continua o mesmo!”.
Já beirando os setenta anos de idade, encontrava-se o velho pastor em seu leito, olhando pela janela aberta, o céu límpido e estrelado. Ele via que cada estrela tinha o seu brilho peculiar, e que não conseguia ver uma estrela igual a outra em luminosidade. Nessa noite ele ouvia, vindo de longe, uma música suave, tirada das teclas de um dolente piano. Quando o mais duro fardo do seu íntimo parecia querer romper em prantos, eis que surgiu dentro de si uma centelha de esperança. Foi aí então, que dos recessos de sua alma brotou tremulante como as estrelas do céu, essa oração: “Meu Deus ajuda-me a mudar-me!”.
Após essa oração, o velho pastor, conseguiu enfim sorrir. Mesmo sentindo apertar o círculo conclusivo da vida, ele estava ali, desta feita, absolutamente tranqüilo. Após essa oração dizia de si para si: “chega de querer mudar o mundo, meu Deus. Mesmo que as dores venham me assaltar, mesmo que não haja músicas para me consolar, e ao contrário dessa belíssima noite, vierem negras nuvens, eu não cessarei de rezar essa prece por toda a minha vida”.
Durante muitos anos o pastor tinha lutado como um gigante para mudar o mundo, mas finalmente, mesmo velho e desfigurado, mesmo sem ninguém por perto para elogiá-lo e cobri-lo de louros, tivera o privilégio de alcançar a graça para ver mundo com outros olhos. Fora enfim curado de uma miopia espiritual, que à distância, o fazia enxergar as pessoas tão feias e deformadas.
“A lâmpada do corpo são os olhos. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luz” (Mateus 6: 22)
Ensaios & Prosas
Ensaio por Levi B. Santos
Guarabira, 06 de outubro de 2009
Ensaio por Levi B. Santos
Guarabira, 06 de outubro de 2009
Excelente texto. Quando o próximo nos serve de espelho para enxergar nossas debilidades e clamamos mudanças dentro da gente, aí estaremos trilhando o caminho certo, pois tudo começa dentro de nós.
ResponderExcluir"Fora enfim curado de uma miopia espiritual, que à distância, o fazia enxergar as pessoas tão feias e deformadas". Muito bom, Levi! Quem dera no mundo real muitos colegas pastores experimentassem essa cura! Uma cura assim leva o obreiro a deixar de lado as lentes do legalismo, deixando de ver o outro com olhos julgadores. A própria vida pessoal, antes azeda e sem graça, passa a ser mais leve...
ResponderExcluirParabéns, excelência de texto. O padrão para mudanças exteriores não é o EU MESMO. O padrão está além de mim. Está em Cristo Jesus, Ele é o Cabeça da Igreja da qual faço parte como corpo. Se Ele é o Ungido por excelência, também sou como parte desse corpo. E se sou parte do corpo, membro com função específica, devo glorificar a Deus exercendo essa função em amor.
ResponderExcluirNo mais, tudo na Santa Paz.
Que lindo! Vi-me no reflexo do espelho do pastor! Parabéns!
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