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Sem sentido



Túlio Benedetti

Ludwig van Beethoven. Um dos maiores gênios e pilares da música ocidental, enfrentou inúmeras dificuldades físicas, financeiras e sociais, criando obras fantásticas, libertadoras, profundas e eternas. Acho que não preciso gastar meu tempo falando da vida dele e nem sua grandeza no campo das artes. Enfim, uma rápida leitura em sua biografia e torna-se muito mais fácil ver a infinidade do Deus criador nela, do que em quaisquer manifestações delegadas à Ele, que tanto vemos por aí.

Há 200 anos atrás, esse garotão produziu uma bagatela chamada Für elise ou "Para Elisa". Ao que tudo indica, a fez para uma senhora, a quem proporia casamento, chamada Therese Malfatti (Elisa seria um pseudônimo para evitar qualquer semelhança). Essa peça é mundialmente conhecida, é bastante complexa e tem uma intensidade que, se ouvida dentro do silêncio, pode nos emocionar profundamente.

Não sei se Beethoven tinha noção completa de sua capacidade ou da qualidade e profundidade de suas obras. Mas fico pensando o que ele pensaria se voltasse a viver conosco nos dias de hoje e, depois de se estressar amargamente com todo o caos tecnológico que, felizmente, não existia em sua época, ligasse para sua nova operadora de telefone e, após horas e horas sendo pentelhado, escutasse sua famosa Für Elise transformada em um barulhinho irritante. Ou então, estivesse em sua nova casa e, de repente, ver o tiozão do gás a 20 km/h na rua e... lá estava sua Für Elise amolando novamente.

Essa obra, como muitos outros casos, foram completamente (ou bastante) banalizadas. Já não soa como deveria soar. Já não nos toca como deveria nos tocar. Apenas quem a conhece no passado a aprecia com seu devido valor.

Isso tudo me levou a olhar o lado que mais tem efeito em minha vida. Durante 16 séculos a maior das obras foi escrita: a bíblia. A obra perfeita. As palavras transformadoras, os ensinos atemporais de um Jesus que era indignado com as barreiras da sociedade em sua época. E então me pergunto.. o que aconteceu com o valor, com o efeito, com o sentido de palavras e expressões como misericórdia, glória, aleluia, vaso, fogo, benção (ou bença), sangue de Jesus, setas, brecha, cabeça e cauda, vitória, campanha, explosão de milagres, abrir a tal porta, cura, restituição, apostólico, revelação, unção, pisar na cabeça do diabo, vontade de Deus, varão, servo, irmão, arca, semeadura e principalmente paz do Senhor (ou graça e paz pra ninguém se sentir excluído).

Muitas dessas palavras até foram inventadas por nós, de uma forma conveniente e tendenciosa. E ninguém mais suporta ouví-las. Irracionalmente, todos os dias essas palavras e expressões (a lista não tem fim) são vomitadas em discursos prontos e ninguém pensa no verdadeiro sentido e valor de cada. E, comparado à estorinha de Beethoven, tantas outras que possuem uma profunda carga semântica, como a Misericórdia, que é o sentimento profundo de dor e compaixão de Jesus por causa de nossa fraqueza resultando num ato intenso de amor e perdão, e são proferidas de forma banal e vulgar, como se já não valessem de nada.

Beethoven que nos desculpe. Deus que nos perdoe.


Túlio publicou em UNÇÃO OUTROS NÃO e Genizah divulgou.
Movimento de Restauração 241677861366837477

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  1. Bem minha gente...eu nem deveria comentar nada, porque disse ontem ao Danilo, que eu só voltaria depois das "peruzadas", "vinhozinhos" e "cidrazinhas"(quase sem álcool) das comemorações natalinas. Mas não resisti a essa postagem sobre a magnífica obra de Beethoven. O Benedetti tem razão, infelizmente! Certos valores antigos têm sido banalizados pelo mau uso deles, por parte de pessoas descomprometidas com as verdades inerentes a esses valores. Por isso, expressões de fé perderam a força que tinham antes. O simples fato de sermos chamados "crentes" ou "evangélicos", hoje, já não nos enche mais do "orgulho santo" de outrora. E bem assim muitas outras coisas, como o Hino Nacional Brasileiro, por exemplo, que tem sido enxovalhado e avacalhado, em tudo quanto é manifestação de arruaceiros, invasores de terras e depredadores dos bens alheios. Qualquer tipo de baderna é justificativa para emporcalharem o Hino Pátrio. O ápice do esculacho protagonizou uma pessoa muito querida da nossa música, a Vanusa. Meio grogue por um medicamento para diminuir os efeitos da labirintite, Vanusa entortou e martirizou o Hino Nacional. Mas, assim como Beethoven não sabia o alcance da profundidade de sua obra, Vanusa também não sabia que o seu fiasco era, na verdade, um "ato profético"! Sim, pois os políticos brasileiros representam tão mal o povo que os elegeu, que não merecem ouvir o Hino Nacional Brasileiro cantado pela boca desse mesmo povo, iludido e decepcionado. Ficaram envergonhados, com cara de pateta, nos poucos minutos que duraram aquela cena tragicômica. Mas nós nos levantamos todos os dias com cara de palhaço, dormimos com cara de palhaço, para acordar no outro dia com a mesma cara de palhaço! Nossa! Parece que extrapolei de novo! É melhor parar por aqui e transformar tudo isso numa matéria ou numa crônica, e depois postar no blog. Finalizando: a boa música também tem sido enxovalhada em nossos tristes tempos. Já tem neguinho por aí querendo fazer "versões" das músicas dos grandes clássicos, para os estilos de forró, baião, samba, pagode e axé. Nada contra essas manifestações musicais, cada qual gosta do que gosta! Mas vamos nos colocar cada qual nos seus limites: clássico é clássico, popular é popular, tribalismo é tribalismo. E deixemos que Beethoven descanse em paz, não permitamos que ele seja obrigado a se revirar em seu túmulo!

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  2. Que texto maravilhoso e que analogia perfeita!

    Parabéns Túlio, pela sua capacidade de transcrever um incômodo que, estou certa, estava engasgado na garganta de muitos.

    Também quero parabenizar o Sérgio Aparecido pelas palavras; mais um desabafo que me lavou a lama.

    Diante de alguns fatos que ocorreram recentemente, me convenci ainda mais de que pregar o evangelho não é só falar as belas palavras da Salvação, mas é também expor e denunciar a sujeira e a deturpação que alguns andam fazendo por aí com a Palavra de Deus.

    Deus os abençoe!

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  3. Corrigindo: me lavou a alma e não a lama...kkkkkk

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  4. Me faz pensar o quanto somos superficiais em nossas palavras, na maioria das vezes... TODOS NÓS o somos. =/

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