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Igreja não satisfaz expectativas




Por Danilo Fernandes

As sagradas escrituras nos apresentam incontáveis mistérios para os quais não nos é dado entendimento. O livro “Em que crêem os que não crêem”oferece um diálogo fascinante de cartas trocadas entre o famoso escritor laico Umberto Eco e o Cardeal da Igreja Católica Romana Carlo Maria Martini. Em uma destas cartas, de Martini, o próprio título já nos lembra de que estamos diante do insondável: Igreja não satisfaz expectativas, celebra mistérios.

Todos os dias o inimigo bombardeia o evangelho com sincretismo, idolatria, mercantilismo e tantas falsas doutrinas. Nós conhecemos os propósitos comerciais desta gente e sabemos as intenções de seu maligno, mas em certos casos, os absurdos cometidos são tão grandes que a dúvida nos alcança. Qual seria o propósito de uma heresia tão pouco sutil? Porque escrevem nas entrelinhas das Sagradas Escrituras quando o objetivo aparente parece ser apenas o de elucidar mistérios, ostentar revelações sobre questões deixadas ao conhecimento exclusivo de Deus? Qual o propósito de colocar a Bíblia, o conhecimento cientifico e a última abstração teórica produzida em Harvard em um molde, sob uma prensa hidráulica de 1000 toneladas? Aperta tudo. Levanta a prensa. Sai Salvação deste tijolo?

As razões, meus caros, são as mesmas de sempre. Mas nestes casos, não são apenas razões comerciais simplórias e objetivas. A idéia é atender a um aspecto importante do marketing do “evangelho produto”: Atrair clientes com necessidades superiores. E como fazem isto? A cartilha do marketing apresenta as necessidades do consumidor em grupos, entre as físicas, temos as fisiológicas e a segurança. Temos necessidades sociais, como relacionamento, amor, status. Temos necessidades relacionadas à auto-realização, que entre tantos aspectos, inclui o desejo de nos sentirmos completos, realizados em um sistema de valores que compreendemos. Esta é uma necessidade superior.

Um exemplo prático da exploração comercial desta necessidade é a chamada armadilha do acessório. Você compra um carro e se vê abrigado a ter as coisas que o complementam: Os opcionais. Compra um Ipod, mostra aos amigos, logo aparece alguém com uma capinha mais bonita que a sua, outro te mostra um carregador diferente, etc. No fim, você quer comprar todas estas coisas, que sequer alteram o benefício principal do produto que é ouvir música. Não se trata apenas da necessidade social de status. De ter aquilo que o outro tem, ou ter melhor. Trata-se de auto-realização, desejo de ser completo.

As pessoas não querem coisas incompletas, parciais. Todas as expectativas devem ser satisfeitas. As pessoas querem resposta para tudo. Os novos convertidos (convencidos, na verdade) não satisfazem o seu intelecto com um evangelho onde haja mistérios. E o que fazem os profetas e apóstolos de plantão? Saem preenchendo os “espaços em branco” dando as explicações e esclarecimentos às questões que Nosso Senhor deixou em mistério. São como gerentes de produto, sempre pesquisando, sempre aprimorando a sua oferta buscando fidelizar seus clientes.

Parece incrível, mas se as razões comerciais são o motor principal, em outros casos o fazem por pura vaidade: - Eu tenho as respostas. Deus me usa. Foi o caso visto no artigo sobre Marcos Feliciano, o homem alçado ao momento da criação pelo próprio Jesus, dia destes, em Balneário Camboriú.

Esta heresia tem nome e endereço. Chama-se teologia da serpente. É artimanha do diabo para desacreditar a Palavra de Deus. Coloca-se uma dúvida, depois outra e vocês conhecem o resultado, pois foi o que nos levou a este mundo perdido. Atentem para esta gente! Eles não são apenas parte da matilha, são os líderes.

Ariovaldo Ramos, em um de seus sermões nos fala dos mistérios e nos ensina a importância de celebrá-los. Neste sermão muitas questões são levantadas, eu resumo aqui:

Quem pode explicar o porquê da negação do povo Judeu da missão redentora de Jesus? Como interpretar o fato de que Jesus é dado aos pagãos para ser morto na cruz pelo Seu próprio povo? E o que dizer do fato de que esta inominável decisão não se deveu, em última instancia, a nenhuma questão política, econômica ou religiosa, ou mesmo ao estado de corrupção em que vivia o povo de Israel, mas tão somente devido à Vontade Soberana do próprio Deus que impede Seu povo de ver o seu Salvador? E o que pensar do fato de que esta tragédia já era prevista em salmos de David, em Isaias 43:3 e outros tantos escritos no primeiro testamento. Tempos remotos em que o messias ainda era uma promessa de Deus para o povo judeu. A sua chegada, a representação máxima da redenção após uma longa e dolorosa espera. A resposta ás suplicas diárias de toda uma civilização. A esperança que sustentou os sacrifícios, os rituais, os jejuns e as orações de todo um povo, desde o tempo de seus patriarcas. E, no entanto, como diz Paulo em Romanos 11:8-12, o próprio Deus os entorpeceu para que escurecessem os seus olhos e não O vissem e seus ouvidos para que não O ouvissem.

O mesmo povo escolhido por Deus para Se fazer conhecer. Por tanto tempo, o guardião único, em todo o universo, da Verdade e das promessas de Deus, foi dado a laço e armadilha para que não reconhecesse o seu libertador. Por que?

Ao Seu povo, o povo de Israel, o Senhor entregou homens, príncipes, reis e nações inteiras à morte. Por Sua gente, o Senhor derrubou muralhas, aniquilou cidades inteiras, abriu mares. Guiou Seu rebanho por quarenta anos no deserto, sustentando-o com alimento celestial e água brotada de pedras. Tudo fez o Senhor para depois os colocar em tropeço para que não vissem o seu redentor quando este finalmente chegou. Ainda fez o Senhor que a transgressão de Seu povo fosse usada para que a salvação chegasse aos gentios.

Ariovaldo e Martini estão certos. Lidamos com o fato de que Deus opera a Sua Misericórdia e Sua Vontade segundo Lhe apraz. Ele é Soberano. Seus Mistérios nos serão, ou não, revelados segundo Sua Vontade. Uma coisa, contudo, já sabemos, em cada mistério há JUSTIÇA, pois conhecemos o Seu caráter.

Abundam mistérios, mas também certezas e promessas. Entre tantas, a maior delas: Uma afirmação de vida feita pelo Senhor Jesus em tantos momentos. O meu verso favorito é aquele em que Ele decreta VIDA, na mesma frase que lembra a sentença de MORTE dada ao homem: Ao ouvirem isso, os discípulos ficaram perplexos e perguntaram: “Neste caso, quem pode ser salvo?” Jesus olhou para eles e respondeu: “Para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis”.

Se mortos nada podem, há Quem possa. Vamos, então, celebrar nossos mistérios e nossas certezas. ELE VIVE. TEMOS VIDA. VIDA ETERNA.


***
Danilo Fernandes do Genizah
Referências: 1) MARTINI, Carlo Maria; ECO, Umberto – Em A Igreja não satisfaz expectativas, celebra mistérios. Em que crêem os que não crêem, Editora Record, 1999. 2) RAMOS, Ariovaldo – Sermões em áudio, Entrando no mistério da ceia, Insights para transformação pessoal, Website SEPAL.
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  1. Olha, o problema é que alguns pastores pentecostais têm que trazer sempre revelação nova. Sempre uma interpretação que só eles têm. Caramba! Eu fico imaginando eles sentados, em casa, após longas orações, lendo a Bíblia, cheios de dicionários, guias turísticos de Israel, mapas bíblicos, comentários (porque grana eles têm) e que tais, procurando algo "novo"... Lêem algo e zás! Descobriram: na pregação de hoje vou levar uam revelação... só eu tenho, só eu sei. Para o delírio geral. É bom saber que há coisas que eu não saberei, que eu não entendo, que não dá, mesmo. Tem que dizer ao irmão mais novo (na fé) que me pergunta: "Não sei. Que tal tentarmos uma resposta ou abandonarmos esta questão com um 'tô rendido'?"

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  2. Caro Danilo

    Já que você falou nesse grande livro - "Em que creem os que não creem?", aí vai mais uma preciosidade do Cardeal Carlo Maria Martini (respondendo a Umberto Eco):

    "Para um cristão, o respeito da vida humana desde a primeira individuação não é um sentimento genérico, mas o encontro com uma responsabilidade precisa: a desse vivente humano concreto, cuja dignidade não está confiada apenas a uma ação benevolente minha ou a um impulso humanitário, mas a um chamado Divino.
    É algo que não é apenas "eu" ou "meu" ou "dentro de mim", mas diante de mim".

    Amém!

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  3. Certamente por isso vemos tanta gente sair das igrejas. Ali estão apenas com o intuito de satisfazer as expectativas pessoais, e não para adorar, celebrar, buscar...
    Ou seja, conquanto frequentem uma igreja, não pertencem à Igreja.

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  4. Danilo,

    Este post me moveu a pesquisar um pouco mais sobre o autor (Martini) e sua obra em referência.
    Na verdade, o que me deixou intrigada foi o fato de ele (Martini), sendo católico, ter escrito tudo isso.
    Concordo inteiramente com o que ele escreveu, mas suas ideias são muito abstratas se comparadas às práticas do catolicismo romano.
    No entanto, não obtive resposta para duas questões:
    1) Por que a literatura de Martini não foi capaz de influenciar os líderes católicos?
    2) Quem é ou foi o público-alvo de Martini, afinal?
    Historicamente, o que temos visto, escancaradamente, são líderes católicos viverem em função de satisfazer as expectativas de seus fiéis, principalmente se eles (fiéis) forem ricos e influentes. (O número exorbitante de santos, beatificações e canonizações explicam isso).
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    Entendi a sua abordagem e a considero extremamente valiosa, haja vista que houve clareza e objetividade no seu texto. Além disso, as argumentações apresentadas são verdadeiras, profundas e edificantes.
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    Perdoe-me por comentar e questionar fora do tema abordado. Sinto-me incomodada por fazer isso, até porque é difícil para mim admitir minha ignorância.

    Se puder esclarecer, serei muito grata pela atenção.

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  5. Raquel,

    Martini influencia e muito. Mas a igreja catolica é muito menos homogenea do que se imagina. Tenho um amigo frei que em nada comunga com esta marianização, por exemplo. E Leonardo Boff, tão admirado ppor muitos protestantes... Outro amigo padre é contrario ao Concilio Vaticano II. Enfim há muitas vertentes e muitas escolas de pensamento abrigadas (toleradas e incentivadas) por setores da igreja.

    Este livro citado é otimo e recomendo a leitura. São cartas trocadas entre ateus famosos e cristãos. A maioria de Humberto Eco e Martini. Vale a pena.

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  6. Danilo,
    Obrigada pela resposta.
    Valeram os esclarecimentos!
    Sobre os autores mencionados, já li alguns textos de Leonardo Boff e apreciei bastante.

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