Deus Negro
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Hermes Fernandes
Este poema, que conheci quando tinha meus dez anos, me marcou profundamente, me ensinando que o Cristo que celebramos é o Deus de todas as cores, etnias, raças e culturas. Neste dia em que comemoramos a Consciência Negra, gostaria de dedicá-lo à todos que têm sido vítimas de qualquer tipo de preconceito, não apenas racial, mas também social, religioso ou de gênero.
Lembrando que em Cristo, todos os muros separatistas ruíram, e que homens e mulheres, brancos, negros e mestiços, empregados e patrões, índios e ameríndios, sacerdotes e leigos, somos todos iguais. Diferentes na cor da pele, ou nos papéis que desempenhamos, mas iguais em dignidade perante Deus e nossos semelhantes.
Deus Negro
Eu, detestando pretos,
Eu, sem coração!
Eu, perdido num coreto,
Gritando: "Separação"!
Eu, você, nós...nós todos,
cheios de preconceitos,
fugindo como se eles carregassem lodo,
lodo na cor...
E, com petulância, arrogância,
afastando a pele irmã.
Mas,
estou pensando agora,
e quando chegar minha hora?
Meu Deus, se eu morresse amanhã, de manhã?
Numa viagem esquisita, entre nuvens feias e bonitas,
se eu chegasse lá e um porteiro manco,
como os aleijados que eu gozei, viesse abrir a porta,
e eu reparasse em sua vista torta, igual àquela que eu critiquei?
Se a sua mão tateasse pelo trinco,
como as mãos do cego que não ajudei?
Se a porta rangesse, chorando os choros que provoquei ?
Se uma criança me tomasse pela mão,
criança como aquela que não embalei,
e me levasse por um corredor florido, colorido,
como as flores que eu jamais dei?
Se eu sentisse o chão frio,
como o dos presídios que não visitei?
Se eu visse as paredes caindo,
como as das creches e asilos que não ajudei?
E se a criança tirasse corpos do caminho,
corpos que eu não levantei
dando desculpas de que eram bêbados, mas eram epiléticos,
que era vagabundagem, mas era fome?
Meu Deus!
Agora me assusta pronunciar seu nome.
E se mais para a frente a criança cobrisse o corpo nu,
da prostituta que eu usei,
ou do moribundo que não olhei,
ou da velha que não respeitei,
ou da mãe que não amei?
Corpo de alguém exposto, jogado por minha causa,
porque não estendi a mão, porque no amor fiz pausa e dei,
sei lá, só dei desgosto?
E, no fim do corredor, o início da decepção.
Que raiva, que desespero,
se visse o mecânico, o operário, aquele vizinho,
o maldito funcionário, e até, até o padeiro,
todos sorrindo não sei de quê?
Ah! Sei sim, riem da minha decepção.
Deus não está vestido de ouro. Mas como?
Está num simples trono.
Simples como não fui, humilde como não sou.
Deus decepção.
Deus na cor que eu não queria,
Deus cara a cara, face a face,
sem aquela imponente classe.
Deus simples! Deus negro!
Deus negro?
E Eu...
Racista, egoísta. E agora?
Na terra só persegui os pretos,
não aluguei casa, não apertei a mão.
Meu Deus você é negro, que desilusão!
Será que vai me dar uma morada?
Será que vai apertar minha mão? Que nada.
Meu Deus você é negro, que decepção!
Não dei emprego, virei o rosto. E agora?
Será que vai me dar um canto, vai me cobrir com seu manto?
Ou vai me virar o rosto no embalo da bofetada que dei?
Deus, eu não podia adivinhar.
Por que você se fez assim?
Por que se fez preto, preto como o engraxate,
aquele que expulsei da frente de casa?
Deus, pregaram você na cruz
e você me pregou uma peça.
Eu me esforcei à beça em tantas coisas,
e cheguei até a pensar em amor,
Mas nunca,
nunca pensei em adivinhar sua cor.
Autor: Neimar de Barros
Muito bom ! Gostei do poema.
ResponderExcluirÉéé... o poema nos faz refletir profundamente sobre como temos PRATICADO o cristianismo, além de outras reflexões a que nos leva! Nos dizemos cristãos, mas quantas vezes deixamos de praticar a filantropia em nome de um pré-conceito (ou pior, de uma visão teológica)qualquer? Quantas vezes deixamos de ajudar o próximo, mesmo que ele seja distante, alegando que nossos problemas já bastam? Quantas vezes julgamos nossos problemas tão superiores aos dos outros, nos esquecendo do princípio da humildade?
ResponderExcluirQue possamos deixar o resto de orgulho que há em nós de lado, parar de sermos cristãos de papel, e assumir finalmente a posição de cristãos que VIVEM a Palavra de Deus! Pois falar, aahhhh... até papagaio fala!
Deus abençoe a todos!
Parabens, meu caro Hermes Fernandes
ResponderExcluirPor lembrar do dia dedicado a Consciência Negra, através desse belo e poético ensaio de Neimar de Barros.
Aqui vai a minha homenagem ao bravo, jovem e advogado Pernambucano Joaquim Nabuco - que dedicou todas as suas forças ao ideal abolicionista. Esta nobre causa se tornou para ele uma ideia fixa, que o acampanhou por toda a sua vida e o fez ingressar pela porta estreita da história.
Quero salientar que o jovem J. Nabuco(filho de aristocrata) aos 21 anos de idade,quando ainda cursava o quinto ano de Direito, defendeu com galhardia e sem temor, o preto Tomás - escravo que fora condenado a morte em Pernambuco.
Parabéns aos nossos irmãos de fé, negros, cujos ancestrais foram injustamente e barbaramente escravizados, numa usurpação hedionda, dos mais elementares direito inerentes a uma criatura humana.
Mais uma vez você foi fantástico!
ResponderExcluirMe emocionei ao relembrar a minha tenra adolescência, onde tive a oprotunidade de conhecer o Neimar de Barros pessoalmente, pregando, dando testemunho e vendendo os seus livros, entre eles "DEUS NEGRO" e "O DIABO É COR-DE-ROSA".
Lindo poema.. mas tb fiquei feliz ao ler as dicas de como não ter problemas ao escrever um comentário kkk
ResponderExcluirabraços a todos
Perfeito! Tomei a liberdade de linkar este lindíssimo poema.
ResponderExcluirPessoas de cor...mas...qual cor? Meu bisavô era negro africano, meu avô era negro brasileiro e meu pai era mulato (pois minha avó paterna era branca dos olhos azuis). Nos meus documentos está escrito que eu sou "pardo". Se eu tivesse consciência disso a mais tempo (digamos uns 40 anos atrás), eu é que teria formado dupla com o Tião Carreiro. Eu é que teria sido o "Pardinho"! Penso ser necessário criarmos o "Dia da Consciência Parda", para nós, que não somos pretos e nem brancos. Não quero ser chamado de "branquelo" (nem daria pra ser chamado assim). Também não sou "mulato" legítimo, pois sou filho de mulato com branca. De certo modo, eu sou uma espécie de "sansei" afro-brasileiro! Portanto, o "Dia da Consciência Negra" para mim não faz muito sentido. Mas celebro com alegria e homenageio essa brava gente, tão sofrida e tão injustiçada. Vou até transformar esse comentário em uma crônica e vou postar no meu blog. Minha mãe era filha de judeus, o que significa que tenho em meu sangue os genes das etnias mais perseguidas e maltratadas do planeta. E agora José?!? Sou negro, afro-descendente ou judeu? Não faço a menor idéia! Eu sei é que sou um brasileiro livre, graças a Deus, mas que, se fosse a alguns anos atrás em outras circunstâncias, poderia estar num campo de concentração ou numa senzala. Eu posso comemorar o dia de qualquer consciência que seja, mas preferiria comemorar o "Dia da Consciência Humana". Ou o "Dia da Consciência Fraterna Universal". Oh, santa utopia!!!
ResponderExcluirSergio Aparecido, li seu comentario e pensei a mesma coisa...qual cor? qual raça? Meu avós maternos ele negro ela loira de olhos azuis, minha mae quase branca ou meio preta, sei lá, meu pai filho de quase pretos, em um documento dele lembro ter lido pardo, eu acho que sou preto meu irmao e minha esposa dizem que nao... pardo entao? Tenho duas sobrinhas (irmãs), uma loira outra morena, meu filho é branquinho de cabelos castanhos como a mãe, que é descendente de italianos. Bom acho que vou ter comemorar O Dia da Conciência Colorida ou melhor como voce disse "Conciência Humana", porque é isso que somos seres humanos...
ResponderExcluirPeraí, o Genizah pirou de vez! Ressuscitar Neimar de Barros, que declarou no passado que sua conversão foi uma tremenda farsa, é demais!!!!! Não bastasse o vídeo patético do Caio Fábio! Vcs se superaram! Tenham dó!
ResponderExcluirDia da consciência negra, consciência branca, consciência verde, azul com bolinhas cor de rosa... que tal o Dia da Consciência Limpa?
ResponderExcluirAmplexos,
Osmundo
Ola Hermes que bonito poema/lição. Parabens por nos proporcionar tamanha reflexão, a algum tempo li um poema sobre um garoto que fazia uma reflexão parecida onde ele vai descrevendo a suspostas cores das pessoas, onde o branco se queima com facilidaes no sol...etc..chegando a conclusão de que o negro era a "comunhão ou profusão" de todas as cores. este poema eu li na porta do cine cauim de ribeirão preto sp.
ResponderExcluirgostaria muito de poder lelo novamente