Amigo é coisa pra se compartilhar - Parte 2
http://genizah-virtual.blogspot.com/2009/11/amigo-e-coisa-pra-se-compartilhar-parte_07.html
Hermes Fernandes
Mostramos na primeira parte desta reflexão o quanto Paulo confiava em seu discípulo e amigo Tito. Sua confiança era tamanha que incluía até mesmo o cuidado pela subsistência de outros.
Confira:
“Quando te enviar Ártemas, ou Tíquico, procura vir ter comigo a Nicópolis, porque resolvi passar o inverno ali. Faze tudo o que puderes para ajudar a Zenas, doutor da lei, e a Apolo, para que nada lhes falte” (Tt.3:12-13).
Alguém já ventilou que houvesse uma animosidade ou rivalidade entre Paulo e Apolo. Ledo engano. Se assim fosse, Paulo não teria se preocupado com sua subsistência. E ainda que houvesse, isso demonstraria o grau de maturidade do apóstolo, a ponto de preocupar-se com a subsistência de um desafeto.
Percebemos também que não havia qualquer tipo de ciúmes de Paulo para com Tito. Em momento algum ele receou enviá-lo a Apolo.
Este tem sido um problema sério em muitos ministérios hoje. Os pastores têm ciúme exacerbado de ‘suas’ ovelhas, de ‘seus’ obreiros. Insistem em mantê-los presos no redil, temendo que encontrem pastos mais verdes.
Se Paulo estivesse centrado em seu umbigo ministerial, jamais teria se preocupado com o bem-estar de Apolo. Há uma passagem que deixa bem patente esta característica nele:
“Além das coisas exteriores, há o que diariamente pesa sobre mim, o cuidado de todas as igrejas (...) Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado” (2 Co.11:28; 12:15).
Como bom mentor, Paulo estava preocupado em trabalhar esta qualidade em seu pupilo. Jamais preocupou-se em puxar a brasa pra sua sardinha, mas preferiu espalhá-la para aquecer a todos à sua volta.
De onde provinha a confiança que Paulo tinha em Tito?
Tito o acompanhara desde o início. Foi seu companheiro quando desceu à Jerusalém para apresentar-se aos outros apóstolos. O fato de Tito não ter sido obrigado a circuncidar-se, por ser grego, comprovava que o cristianismo não era uma mera continuidade do judaísmo, mas algo totalmente revolucionário. Tito, portanto, era a prova e a testemunha da subversão provocada pela Graça.
Confira o texto:
“Depois, passados quatorze anos, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também comigo a Tito. E subi por causa de uma revelação, e lhes expus o evangelho que prego entre os gentios. Mas particularmente aos que pareciam ter maior destaque, para que de maneira alguma não corresse, ou não tivesse corrido em vão. Mas nem mesmo Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se” (Gl.2:1-3).
E não só isso! Paulo o considerava um filho. Veja a forma carinhosa com que o apóstolo se refere a ele na abertura da epístola que lhe fora endereçada:
“A Tito, meu verdadeiro filho segundo a fé que nos é comum” (Tt.1:4a).
Apesar de todo o companheirismo entre eles, justamente na reta final de sua jornada, Paulo se vê sozinho. Onde está Tito, seu companheiro fiel? Não o traiu. Não lhe causou danos. Apenas o deixou na hora em que mais precisava. Paulo, então, apela a Timóteo, em busca de um ombro amigo.
“Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas me abandonou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para a Galácia, Tito para a Dalmácia. Só Lucas está comigo. Toma a Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério. Quanto a Tíquico, enviei-o a Éfeso. Quando vieres traze a capa que deixei em Trôade, na casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos. Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segunda as suas obras” (2 Tm.4:9-15).
O velho apóstolo, já prestes a ser executado, se sente só, abandonado por aqueles a quem ele dedicara sua vida. Demas nunca mais o procurara, trocando a causa de Cristo pelo apego às coisas do mundo. Crescente foi para a Galácia. Tíquico fora enviado por Paulo a Éfeso. Alexandre foi o que lhe causou mais dor de cabeça. Só lhe restou Lucas.
Mas de todos estes, quem mais lhe fazia falta, era, sem dúvida, Tito, seu filho amado. Quando não o encontrou em Trôade, saiu com tanta pressa de revê-lo, que acabou deixando pra trás sua capa e seus livros.
Acompanhado apenas de Lucas, o médico, Paulo pede que Timóteo venha, mas não venha só. Que traga consigo a Marcos, aquele mesmo que em outro episódio também lhe deixara, e contribuíra para o afastamento entre Paulo e Barnabé (At.15:36-39). Talvez o que Paulo realmente quisesse era evitar que Timóteo fizesse aquela longa viagem sozinho. Ele sabia o quanto doía estar só.
Como alguém que provocara o rompimento entre Paulo e Barnabé, poderia agora ser-lhe útil?
A esta altura da vida, Paulo já tinha experiência suficiente para entender mais da natureza humana. Por isso, se dispusera a perdoar a Marcos, possibilitando que retornasse ao seu convívio, e servisse de companhia a Timóteo.
À medida que amadurecemos, damo-nos conta de que não adianta tentar monopolizar nossos relacionamentos. Aprendemos que nossos amigos necessitam outras companhias além da nossa. Porém, devo admitir que é mais fácil compartilhar bens materiais do que amizades.
Não confunda lealdade com exclusividade. Amizade é como o ar que respiramos; a gente jamais deve descartar, mas buscar reciclar constantemente, enquanto partilha com os demais.
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Hermes Fernandes é também culpado do que se faz aqui no Genizah
Reverendo Hermes, foi providencial esse artigo sobre a amizade - tanto a primeira parte, como a segunda parte - tenho visto muitas pessoas tentatarem manipular as amizades e querendo exclusividade. Seja por inveja, carência, imaturidade ou o que quer que seja, mas a verdade é que algumas pessoas chegam às raias do absurdo de fazer o "inferno" entre as outras por causa de ciúmes e possessão. Este tipo coisas não acontecem somente nos relacionamentos entre amigos e amigas, mas também em família. Foi uma excelente reflexão.
ResponderExcluirParabéns.
Edificando minha alma...
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