Debate: A Cabana
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No dia 27/04 aconteceu na IBAB o debate mais esperado do Fórum "Deus no banco dos réus", sobre o livro "A Cabana", com a presença de Ariovaldo Ramos, Ed René Kivitz e Ricardo Quadros Gouvêia.
Segue para os leitores algumas ideias a respeito do livro do ponto de vista desses caras que são feras no assunto.
Ed René Kivitz inicia o debate pedido para que Ricardo e Ariovaldo fizessem suas considerações sobre o livro A Cabana.
Ricardo - Grande Best Seller, mas não significa um grande livro. Do ponto de vista literário é uma obra medíocre. Não será um Long Seller, muito menos um Clássico. William P. Young não é um homem das artes literárias, mas trouxe em seu livro histórias relacionadas a teologia, uma tentativa que deu origem a ideias muito interessantes. O grande valor do livro está em uma pergunta: "Que Deus?", que nos leva a outras perguntas: "Eu devo adorar a Deus?", se sim: "Qual Deus?" Se me mostrarem esse deus que pregam por aí (comércio da fé), digo que esse deus é o diabo, mas se mostrarem o Deus que por amor entregou Jesus e por seu sacrifício temos acesso ao Pai, esse sim eu adoro. Cito Calvino: "O coração do homem é uma fábrica de ídolos."
Ariovaldo - Texto de ficção que não pode ser tratado como teologia. Em seu livro, William P. Young foi corajoso por chegar na questão: "Onde estava Deus quando eu estava sofrendo?", tenta falar de um problema complexo do qual a humanidade se identifica. Aborda o sofrimento, doutrina da trindade, perdão e a respeito daquilo que nos aproxima ou afasta de Deus. O autor não escreveu o livro com grandes pretensões, porém, uma das ideias do livro é: "Viver é sofrer, e todo o juízo de Deus passa pelo sofrimento."As pessoas anseiam pelo Deus descrito no livro. E aos que apresentam Deus; tais como pastores, líderes e etc; talvez não o façam como deveria ser, de acordo com o vício religioso de adorar aquilo que temos medo ou pavor, porém, o autor mostra que pessoas podem adorar aquilo que amam e amar aquilo que adoram. Cito um amigo, Machado: "Teologia é uma arte e não uma ciência."
Ed René Kivitz pergunta: - Qual a resposta de William P. Young para o sofrimento?
Ricardo - O problema do sofrimento humano não tem solução. O evangelho não é como as outras (religiões), não tem por obrigação resolver o problema humano. O evangelho não é uma religião e sim o substituto, o contrário da religião. O autor mostra um Deus que sofre conosco, por nós e abraça a condição humana. Por isso, quem somos nós diante de Deus para não sofrer? Devemos reconhecer que o sofrimento faz parte da humanidade.
Ariovaldo - No livro o autor entende que o sofrimento é consequência da maldade humana a partir da queda. O sofrimento humano levou Deus ao sofrimento. Deus sofre em Cristo. A independência é fruto da possibilidade do ser humano em decidir, e decidiram errado. No livro, quando Deus é questionado em relação ao que faria a respeito do sofrimento humano, a resposta é que Deus já fez através de Cristo na cruz. Os seres humanos atraíram o sofrimento.
Ed René Kivitz pergunta: - William P. Young apresenta um Deus frágil em relação ao homem e ao pecado. Como conciliar essa figura do Deus fraco com o que é pregado hoje nas igrejas?
Ed René Kivitz - Deus é amor e não exige nada, mas quer que retribuamos o seu amor. Deus é relacional.
Ricardo - No nosso tempo e cultura, a igreja repensa o que os evangelhos significam. O que é proposto é nosso relacionamento com Deus. * pag. 132 - 'Teologia Relacional'
Ariovaldo - Não acho que o Deus apresentado seja fraco. Ele não tem medo do que Mach está sentindo. A ideia é: "Fique tranquilo, não se preocupe, eu sei o que está acontecendo. Sei exatamente o que está acontecendo." É um Deus que ama profundamente, sabe o que está acontecendo e sabe também como será o desfecho da história. Deus intervêm na história, não se impõe, mas sabe como fazer para atrair.*pag. 178 - 'Teodiceia do autor é evangelicamente conservadora'. Do livro "... o mal perdura por um tempo, mas não tem a palavra final..."
Ed René Kivitz pergunta: - E com relação a queda no Éden e a resposta de Deus na cruz?
Ariovaldo - No texto de William P. Young a solidariedade da raça está presente. O texto indica que Deus deu alguma possibilidade do ser humano dizer não a maldade, mas não a queda. Porém, se dizem ou não, isso não muda o fato de Deus amar.
Ricardo - O livro é bastante conservador. Fala da soberania divina e do pecado original, retrata a trindade. Estamos no século 21, na pós-modernidade, o pecado não é uma ideia ou um conceito teológico, e sim uma realidade. Ter fé em Deus não implica no abandono da insegurança. Corremos o risco de não nos indignarmos suficientemente com a maldade (na teologia conservadora).*pag. 176 - 'A fé não cresce na casa da certeza'
Ed René Kivitz pergunta: - A questão então é que estamos no lugar errado na hora errada?Ariovaldo - Viva comigo, ande comigo, e não precisará se preocupar com o que acontece. A questão é se vou me entregar a "Grande Tristeza" ou se ou continuar a confiar naquele com quem ando.
Considerações Finais.
Ricardo - No livro, acho errado o criminoso ter sido preso, não corresponde com a realidade. Não precisava açucarar a ideia. Se o livro quer trazer a visão cristã do mundo, deve trazer a visão caída. Devemos continuar andando com Deus, apesar do mal acontecer conosco.
Ariovaldo - O autor é de origem anglo-saxão e influenciado por sua cultura, faz no final tudo dar certo. O grande anseio da humanidade hoje, é o de ser amado, essa é a proposta do autor. Gosto do fato de atacar os paradigmas em relação a trindade. Na trindade existe a paternidade, maternidade e filiação.* Jesus sabe que vai ressuscitar Lázaro, mas chora.
Ed René Kivitz - O mal tratado no livro é o mal que fazemos uns aos outros.
"Que diremos, pois, diante dessas coisas? Se Deus e por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça todas as coisas? Quem fará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu; e mais, que ressuscitou e está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: "Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro" Mas, em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor." Romanos 8:31 a 39.
Fonte: Considerações acerca da vida
Caro Danilo
ResponderExcluirLi o livro “A Cabana”, assim que foi lançado aqui no Brasil (há 7 meses). “Examinai tudo e retendes o bem” ─ disse o apóstolo Paulo. Confesso que captei muitas coisas boas na história (carregada de metáfora) de Willian Young. Na verdade ele se valeu de três figuras metafórica baseadas na Trindade, para se fazer entender. Em todo o desenrolar do conto, o que transparece mais, de forma figurada, é o velho drama existencial humano. O drama da culpa, do remorso, da finitude humana. Tudo narrado de uma maneira tensa e cativante. O “porquê” da morte violenta de uma criança inocente, foi com muita maestria, explorado pelo autor.
O livro me fez lembrar da epopéia de Jó (de sua relação com seus falsos amigos, e seu diálogo com Deus).
Gosto sempre de comparar o conteúdo de um livro a uma grande paisagem, e o leitor como observador dessa paisagem. Nem sempre o que um vê e se agrada, é necessariamente o que outro aprecia, pois cada um observa o panorama do ângulo em que se encontra.
É salutar que os comentários não coincidam. Porém, olhando atentamente, veremos que as opiniões apesar das aparentes divergências, na verdade, elas são concludentes.
Abçs,
Levi B. Santos
Li o livro e concordo com o Ariovaldo: "Texto de ficção que não pode ser tratado como teologia."
ResponderExcluirPra mim foi muito chocante o sequestro e a morte da criança. Realamente ele questionar a Deus onde é que ele estava que permitiu tal montruosidade?
As questões abordadas pela personagem central, são questões que qualquer de nós abordaríamos em tal situação.
Acredito que o livro traz um conteudo carregado de questionamento atuais, onde muitos imaginam que o sucedsso ou fracasso,esta intimamente ligada ao livre arbitrio. Onde o poder , a cobiça, e outras manifestações humanas, inibiram o relacionamento com Deus.O autor foca os seus recursos em uim amor incondicional e que a maldade humana e uma consequencia da sua história sem a intervenção de Deus. Gostei do livro , achei que agrega , quando interpretamos de maneira madura e não pueril a simplicidade de adorar um Deus vivo.
ResponderExcluirOBRIGADO PELA VISITA....
ResponderExcluirJA SE INSCREVEU DANILLO????
Acho que “A Cabana” tem muito mais a dizer do que a grande maioria dos evangélicos que conheço e das igrejas que conheci, muito embora, do ponto de vista literário, seja um livro fraco. Como conheço um pouco da Bíblia e sou reticente com relação a mesma, pois expressa praticamente a vertente judaica do conceito de Deus, acredito que A Cabana é uma tentativa de traduzir de uma maneira mais indulgente o cristianismo, já que o criatianismo “vigente” é sobretudo intolerante com outras manifestações de fé. No geral, o livro parece querer desmistificar o pragmatismo cristão (embora esse não seja o foco do enredo), ou tenta fazer parecer que o evangelho é de fato uma proposição libertária de Deus.
ResponderExcluirEnfim, se lido como uma literatura “neutra” passa uma mensagem positiva focada na auto ajuda, mas confesso que o tempo todo fiquei incomodado com a contrução literária (à la Paulo Coelho) e, principalmente, com o forte teor evangélico! Aquele típico modelo estadunidense de crente e família critã (que aliás experimenta-se por aqui). Confesso que isso me incomodou o tempo todo, ou seja, de neutro o livro não tem nada! Só faltou vir acompanhado de um folheto fazendo o apelo, a oração de entrega e orientando aquele que fez a tal oração a procurar a igreja mais próxima de sua residência para congregar aos domingos, blá, blá.
Apesar das críticas e tendo em vista o empobrecimento da mensagem cristã hoje difundida principalmente na TV o “evangelho segundo Young” me parece um grande avanço!
Quando vamos ver esses caras entrando nas favelas e ruas escuras para pegar o Evangelho a quem naum tem condições de ir a uma boa Igreja. Ao invés de entrarem em debate o tempo todo????
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