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CONSIDERAÇÕES SOBRE O BALANÇO DAS MORTES VIOLENTAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO NOS SOMBRIOS ANOS DE 2007-2009


NÚMEROS OFICIAIS DE JANEIRO DE 2007-FEVEREIRO DE 2009

Fonte: ISP

Homicídio Doloso - 12 957

Auto de Resistência - 2 636

Latrocínio - 459

Policiais Mortos em Serviço - 66

Lesão Corporal Dolosa - 160 609

Desaparecidos - 10 607

Total de Mortes Violentas - 16 118


PROJEÇÕES EXTRA-OFICIAIS

Fonte: Rio de Paz

Projeção até Maio de 2009 - 18 000

Projeção até Maio de 2009 considerando o assassinato de 50% dos desaparecidos - 23 700

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CONSIDERAÇÕES


1. Estamos diante de números de guerra civil. Eles são obscenos. Um soco na boca do estômago da cidadania e da democracia.

2. O governo tem a obrigação moral de responder às questões referentes à segurança pública que são levantadas por essa estatística.

Pergunta 1: Qual a meta do governo para a redução de mortes violentas?

Pergunta 2: Qual o planejamento do governo para a redução das mortes violentas?

Pergunta 3: O governo tem investido o suficiente nas suas polícias a fim de que elas realizem o seu trabalho? E quanto às políticas públicas para áreas degradadas do estado, tem se mostrado resoluto em trazer dignidade para famílias pobres?

Pergunta 4: Como a sociedade pode colaborar?

Pergunta 5: Esse número de mortes violentas estava previsto no cronograma da Secretaria de Segurança?

3. Esse governo herdou o problema referente às mortes violentas, dos governos anteriores, mas tem se mostrado ineficaz na busca de solução. Os números estabelecem definitivamente o fato. Estamos na metade do terceiro ano de mandato.

4. Celebramos os golpes que o crime organizado recebeu nos últimos dias e a retomada de dois territórios que encontravam-se sob domínio armado por parte de marginais. Mas, deploramos os números que apontam para um quadro de desgoverno e descontrole.

5. A multiplicação dessas mortes pelo número de membros das famílias enlutadas faz-nos crer que o Rio de Janeiro está de luto.

6. Quem morre é pobre, perante uma classe média desmobilizada e assustada.

7. É chegada a hora de ser apresentado um projeto de lei na Assembléia Legislativa que obrigue a secretaria de segurança a apresentar publicamente suas metas, planejamento, cronograma e orçamento. Não podemos viver no escuro quando o assunto envolve vida e morte. Em qualquer empresa uma estatística como essa demandaria demissão e/ou revisão de planos.

8. Miremos o México como exemplo negativo do que pode vir a nos acontecer. Caminhamos na direção de confrontos que intensificarão a percepção de que estamos diante de uma guerra civil. Um parlamentar nosso apareceu ontem numa lista de pessoas juradas de morte. Isso pode se alastrar afetando a vida de jornalistas, chefes de redação, militantes da área da defesa dos direitos humanos, políticos legitimamente eleitos, juízes, promotores, entre outros cidadãos mais comprometidos com a manutenção da ordem e da justiça. Vejam o preço que os nossos bons policiais já tem pago.

9. Por que não é dado subsídios para o ISP trabalhar mais rápido na divulgação das estatísticas? Por que as delegacias tradicionais não foram ainda informatizadas?

10. A política do confronto deveria dar lugar a política de segurança da libertação. Isto significaria usar a inteligencia no lugar da força, não matar quando se pode prender e entrar na região dominada pelo crime para permanecer. As populações carentes ficariam livres do domínio territorial armado por parte do crime organizado. A democracia lhes seria devolvida, pois o direito de ir e vir, o direito de livre expressão e o direito à vida lhes seriam restaurados.

11. O exército brasileiro, que tem desempenhado um papel notável no Haiti, não pode permanecer à margem desse processo de libertação. Se nossas leis não permitem às forças armadas de fazer esse trabalho, vamos modificá-las. Se o nosso exército não é capaz de devolver ao povo fluminense as áreas do estado onde impera a ditadura do crime organizado, não temos exército. Mas, quando olhamos para a missão de paz no Haiti sabemos que temos um exército que é capaz de agir com inteligencia, sem derramar sangue e interagindo pacificamente com a comunidade, possibilitando assim, a chegada de políticas públicas que conferem dignidade ao pobre.

12. A Polícia Civil precisa de homens. A Polícia Militar, idem. Há uma justificativa moral para uma ação pacífica do exército no Rio de Janeiro. Milhares de pessoas vão morrer nos próximos meses. Não temos tempo a perder. Enquanto o exército age, vamos dar tempo para que as nossas polícias se reestruturem, recebam investimento, tenham o salário aumentado e passem a fazer o trabalho que podem perfeitamente realizar desde que tenham recursos para isso. Não conseguimos imaginar onde estaríamos sem os nossos policiais - seria o caos sem eles (policiais - os homens que zelam pela paz interpessoal na polis - que beleza de profissão). Contudo, podemos imaginar uma polícia mais eficaz, próxima do povo, mais reconhecida pelo seu trabalho preventivo do que reativo, que mate menos e sem envolvimento tão extenso com o crime.

13. Precisamos tratar do problema da violencia de modo sistemico. Policiais militares afirmam que executam pessoas porque se levarem marginais para a delegacia a soltura será negociada. Policiais civis afirmam que não tem como prender porque as leis do país são frouxas. Policiais militares deploram o índice baixíssimo de elucidação de autoria de homicídio doloso feito pela Polícia Civil. Policiais civis reclamam que os locais do crime não são preservados pela Polícia Militar e que não recebem investimento para o trabalho pericial.

14. E, mais. A classe média aplaude as mortes nas favelas, penalizando a pobreza. Alguns defensores de direitos humanos julgam que a miséria justifica crimes que ninguém os relativizaria se fossem cometidos contra um parente seu.

15. Ambas as polícias precisam receber tudo e serem cobradas em tudo. Tem que haver mais investimento e uma maior supervisão da ação policial. Nossa polícia não pode matar o quanto mata.

16. O dependencia química de drogas tem que ser vista como problema de saúde pública. Devemos ser favoráveis a uma política de redução de danos. A forma como se combate o tráfico tem se mostrado ineficaz e representado sofrimento para gente inocente.

17. Preservar a vítima inocente é mais importante do que prender o criminoso. Não podemos aceitar a morte de crianças, por exemplo, em troca de tiro entre policiais e traficantes.

18. Precisamos combater o tráfico de droga e arma no entorno da região metropolitana do Rio, poupando as famílias pobres que vivem sob o fogo cruzado da guerra contra o narcotráfico.

19. Nós, cidadãos que vemos todos os dias vidas preciosas serem interrompidas pelo crime, perguntamos: onde está o governo federal nessa história? Qual a sua parcela de responsabilidade? Será que o Rio de Janeiro não está incluído nesse contexto de irresponsabilidade para com a segurança pública, que representará para o governo petista 500 mil pessoas assassinadas no Brasil em 8 anos de mandato? Que democracia suporta isso? O que pessoas haverão de escolher se tiverem que optar entre a vida e a liberdade?

20. Que a nossa imprensa continue a trabalhar livremente. A classe média, em geral, só sabe o que se passa numa comunidade pobre através do trabalho dos nossos corajosos fotógrafos, cinegrafistas, repórteres e jornalistas. Continuem a nos fornecer informações que possam nos ajudar a nos mobilizar para salvar vidas. Tem gente que se comove e age com base no que voces revelam.

21. Essa estatística pode apontar para uma realidade mais dramática. Pensemos nas seguintes questões:
Quantos dos feridos (lesão corporal dolosa) ficaram inválidos ou vieram a morrer dias depois? Quantos dos desaparecidos estão mortos? Quantos desaparecidos não foram registrados e estão mortos? Qual o número de cemitérios clandestinos na região metropolitana do Rio?

22. Grana, sim, dinheiro, está por trás de tudo isso. Pessoas matam e deixam matar por dinheiro. Outras, não falam o que pensam pela expectativa de promoção. No final da linha da corrente de causa e efeito motivacional, que conduz toda uma sociedade para um massacre (deliberado ou não) de vidas humanas, encontraremos o amor ao dinheiro, aprofundado pelo desejo de comprarmos o que não precisamos para impressionarmos a quem não gostamos.

23. Quando voce vir da próxima vez um filme sobre o Nazismo e os campos de concentração alemães da Segunda Guerra - com todo o seu horror, arbítrio, maldade gratuita e menosprezo à dignidade humana, não pergunte: "como pode acontecer?" O mesmo está acontecendo no Rio de Janeiro perante os seus olhos governo após governo.

24. Temo que muita gente vai ler o que acabei de escrever e ignorar. Os números não causarão espanto. As propostas serão banalizadas (pela discordancia de uma proposição ou outra que quem sabe, interfere em interesses pessoais de alguns) ou por pura falta de esperança. E a foto da Edna, mãe da menina Alana, morta por uma bala perdida em 2007, não comoverá ninguém, pois sua dor é karma de negro. Ninguém pensará no sofrimento das próximas mães que enterrarão filhos que serão assassinados nos próximos dias. Esse artigo não dará em nada.
Como disse o profeta Miquéias: "Pereceu da terra o piedoso, e não há entre os homens um que seja reto: todos espreitam para derramarem sangue; cada um caça a seu irmão com rede. As suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o príncipe exige condenação, o juiz aceita suborno, o grande fala dos maus desejos de sua alma, e assim todos eles juntamente urdem a trama".


Antonio Carlos Costa


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Antônio Carlos Costa é pastor da Igreja Presbiteriana da Barra, Presidente do Rio de Paz e há dez anos apresenta o programa de televisão Palavra Plena.
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Postar um comentário

  1. Só pode ser uma trama de morte e destruição, que começou e não foi controlada, por causa do interesse de alguns que estavam ganhando dinheiro dom o tráfico.

    Agora virou uma guerra de verdade, quais serão verdadeiramente os mandantes desta guerra?
    Será que eles estão mesmo nos morros, nas favelas?

    Ou será que estão nos palácios, com certeza representando o povo, que pra eles não significa nada.

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