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A igreja brasileira está preparada para ser uma potência mundial?



Johnny T. Bernardo


Apesar de o último censo apontar que os evangélicos tiveram um retrocesso em seu crescimento e que o ateísmo cresceu em certas regiões do Brasil, a igreja evangélica deverá ter um crescimento vertiginoso nos próximos anos. Indicativos mostram que até 2025 os evangélicos representarão 50% do total da população brasileira. Entretanto, existem inúmeras dificuldades que tornam a igreja evangélica brasileira frágil e que podem comprometer seu crescimento. Mesmo que os números estejam corretos (e eles devem estar), corremos o risco de produzirmos uma igreja de crentes nominais, fenômeno que ocorre na Europa e EUA. Abaixo destacamos algumas dificuldades enfrentadas pela igreja brasileira.

Dificuldade de articulação

O pouco tempo do Protestantismo no Brasil produziu uma igreja multifacetada, com diversas lideranças regionais e nacionais. Conquanto o número de evangélicos brasileiros seja algo em torno de 40 milhões, as inúmeras correntes existentes no país possuem pouquíssima articulação. Primeiro, existe uma dificuldade de comunicação entre tradicionais e pentecostais. Segundo, não há comunicação mesmo entre as igrejas pentecostais. Um exemplo é a Assembleia de Deus. A comemoração do centenário foi realizada em dois locais diferentes da Grande São Paulo, pelas duas principais correntes: a do Belém (no Pacaembu) e a da Madureira (na Arena Barueri).

Recentemente, mudanças na liturgia e de usos e costumes ocasionaram o desligamento de setores regionais que se opõem a mudanças bruscas. Disputas políticas e interesses econômicos também são uma das causas da existência de inúmeros ministérios e grupos pentecostais. Tentativas no sentido de aproximar tais segmentos, como os conselhos municipais de pastores, são propostas interessantes, mas que ainda não surtiram o efeito desejado. Uma das razões é a falta de concordância na apresentação de projetos, de compromisso e o uso político – partidário de algumas comissões.

Dificuldade de estrutura

A igreja evangélica brasileira investe pouco em projetos importantes, como cursos teológicos, missões e apologética. Com raríssimas exceções, encontramos igrejas que demonstram se preocupar com o desenvolvimento de uma estrutura sólida para seus membros. Quando falamos por estrutura, não estamos nos referindo apenas ao aspecto físico de uma igreja, mas também ao seu conteúdo interno. Logicamente que uma questão está ligada à outra. Onde há dificuldade de estrutura física (prédios, salas, departamentos), consequentemente há dificuldade na implementação de projetos. Na maior parte das igrejas, a escola dominical é realizada na própria nave da igreja, dificultando o aprendizado. Há outros problemas, como o investimento em setores que não dizem respeito diretamente ao trabalho de missões, a inexistência de um departamento de evangelismo e discipulado satisfatórios e a demasiada ênfase em templos luxuosos, com televisões de plasma e outros aparatos que dificultam o investimento nos setores estratégicos.

Dificuldade de planejamento

Diretamente ligada à questão da estrutura, está à dificuldade de planejamento. O fenômeno não ocorre apenas nas igrejas pentecostais – nas tradicionais, como a igreja batista, também é frequente. A adesão de algumas igrejas batistas ao Modelo de Bogotá (G12) é um indicativo de falta de planejamento, de estratégia evangelística. Não que o G12 seja um prejuízo ao Evangelho; pelo contrário, tem contribuído sobremaneira com o crescimento da igreja evangélica no Brasil e no mundo. A questão está na forma como algumas igrejas realizam os encontros, que beira o modismo teológico.

Falta planejamento de trabalho nas igrejas. Enquanto seitas como as Testemunhas de Jeová possuem uma estratégia de crescimento, que inclui mapeamento de territórios, divisão de tarefas, cursos de preparação (Escola do Ministério Teocrático) e literaturas que focam o trabalho de campo, as igrejas evangélicas investem pouco nessa área. Razão pela qual perdemos espaço para o ateísmo e contribuímos para a proliferação dos sem-religião. Quando deixamos de estabelecer metas e investir em setores estratégicos damos vazão ao crescimento de outras religiões ou movimentos.

Dificuldade de identidade

Somadas às dificuldades de articulação, estrutura e planejamento, chegamos a uma igreja com uma profunda crise de identidade. Uma igreja sem identidade é uma igreja que não possui uma marca própria, um modelo que a diferencie de outros segmentos religiosos. Ao deixar de se preocupar com o planejamento, por exemplo, uma igreja perde em número e qualidade.

A igreja evangélica brasileira se transformou em uma igreja de templos, de cultos rotineiros e com pouquíssimo trabalho externo. Os crentes passam mais tempo dentro de igrejas, do que em atividades externas. Precisamos de menos cultos e mais atividades externas. A igreja precisa dialogar com a sociedade, participar dos seus problemas e frustrações. Precisamos nos embrenhar na sociedade.

Dificuldade de gerenciamento

A atual dificuldade que a igreja brasileira atravessa está diretamente ligada à dificuldade de gerenciamento. A falta de preparo teológico, secular e interesse para com o crescimento são uma das causas do crescimento desordenado de algumas igrejas. A igreja tem experimento um crescimento significativo, mas a falta de estrutura, planejamento e construção de uma identidade própria são fatores que desqualificam tal crescimento. Enquanto igrejas de São Paulo possuem templos luxuosos, o investimento em missões decresce a cada dia. A causa está no mau gerenciamento, na falta de obreiros comprometidos com o crescimento sustentável da Igreja. Tais condições mostram que a igreja brasileira, apesar do crescimento real, ainda não está preparada para ser uma potência mundial. A mudança deve começar de cima para baixo.



Johnny Bernardo é jornalista, pesquisador da
religiosidade brasileira e colaborador do Genizah



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  1. Se o texto fosse sobre gestão espresarial, assinaria embaixo! O problema é que se trata da ecclesia, não de um conglomerado administrativo. As cartas do Apocalipse às igrejas, as cartas pastorais e paulinas, mesmo a excelente carta à comunidade desmotivada de Hebreus apontam para problemas estruturais mais específicos do que simplesmente gerenciais: PECADO! SECULARIZAÇÃO QUE TIRA CRISTO DO FOCO E FAZ COM QUE A IGREJA NÃO SEJA CONTEXTUALIZADA, MAS CORROMPIDA.

    Alguns exemplos: se a igreja apresenta problemas de investimento, a questão é o que é considerado como relevante. Igrejas com preocupação em discipulado e evangelismo, investem pesado em educação cristã para todas as idades em mega-templos ou em igrejas de subúrbio (como a minha) pequena e com número limitado de espaço, mas com produção literária própria e apoio de livros de teólogos importantes neste tempo e do passado. Sim, alguns de nós (assalariados) possuímos e lemos (!) até Teologia Sistemática. Sim, nossa igreja investe em compra de livros mensalmente e investe também para que pastores pobres de outras igrejas comprem também. Temos classes de professores para preparação para EBD. Por quê? Porque entendemos a Bíblia como "regra de fé e prática", nós a amamos e queremos nos aprofundar para entendê-la melhor, queremos que Deus se revele a nós pela sua Palavra. Por causa de nossa visão, desenvolvemos estrutura.

    Outro exemplo: igrejas desarticuladas para missões e solidariedade são reflexo da falta de amor cristão e despreocupação com a obra missionária. Observem a qustão da Igreja de Jerusalém - uma necessidade, uma rede de socorro. Paulo elogia algumas e critica outra por sua lentidão em socorrer na necessidade. O que ele aponta? Melhoria de técnicas gerenciais? Não! Amor cristão! O amor motiva a organização de viagens e envio de irmãos específicos para a coleta e distribuição, o amor e a necessidade motivaram a instituição dos diáconos. O amor motivou uma rede de socorro à 1ª IB de São Paulo para organização da Cristolândia através da JMN, motiva o PEPE e a distribuição de cestas e prestação de serviços à comunidade pela minha igreja. Na tragédia em nossa cidade, nossa igreja foi referência de organização no socorro aos enlutados, desabrigados e necessitados.

    O G12 benéfico? Só se for para divulgar heresias! Ou para reunir crentes amantes de si mesmo a ficarem olhando no espelho procurando as mazelas em sua história que não permitem que eles atinjam o nível sonhado da classe média. Cura interior? Alcancei quando me rendi a Cristo confessando meus pecados (ainda é assim).

    Só concordo em um ponto: a igreja passa por uma crise de identidade! Ama este mundo, mas tem a necessidade de não se sentir culpada por isso. Detesta a pobreza e o sofrimento, não quer pagar o preço da perseguição por se submeter a Cristo.

    A igreja crescerá. Só não sei se como corpo de Cristo do qual a obediência e temor constituem suas principais características ou se como anomalia numérica, adoradora de si mesma, como diz Tiago, contemplando a si mesma em um espelho eterno.

    Em cristo.

    Dayane Guimarães

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  2. ARTIGO IMPECÁVEL!! DIAGNOSTICOS FUNDAMENTADOS EM PESQUISA E ESTUDO JORNALÍSTICO, UMA CRITICA CONTRUTIVA E IMPARCIAL. UMA VERDADEIRA AULA.
    COPIEI E VOU USA-LÓ EM PALESTRAS DANDO O DEVIDO CREDITO.
    PARABENS!!
    REV RICARDO RODRIGUES

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  3. Só faltou ao articulista sugerir a substituição da Biblia pelos manuais de administração de Peter Drucker.
    A Igreja não pode e nem deve ser tratada como um empreendimento empresarial que deve conquistar o mundo.
    Onde esta escrito que devemos tornar-nos potencia mundial?
    Isto é apologética de botequim!!!

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  4. a mudança deveria começar de cima para baixo, mas vai começar de baixo para cima quando tais subirem por amor e dedicação a obra e os de cima descerem.

    ótima matéria..

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  5. Não quero ser repetitivo, porem tentarei ser objetivo.
    Quando Cristo Foi crucificado, na cruz do lado dele, não estava nenhum grande lider Religioso, Nenhum Grande Ativista, porem estava do lado dele sim dois pecadores.
    Quando cristo diz que ele não veio para o são e sim para os pecadores, ele estava correto, e prova disso foi que as ultimas lembranças dele vivo, ou que pelo menos esta contido na biblia, era a presença de Duas pessoas que realmente precisava redimir dos seus pecados.
    Todos sabem o que Cristo disse, para os dois, aqueles que se arrependerem dos seus pecados, logo mais estara comigo a destra do pai.
    Não importa o que voce fez da sua vida, se voce andou nos caminhos da luz ou das trevas, o que importa e que voce precisa criar uma consciencia e se redimir dos seus pecados.
    Somente se redimindo dos seus pecados e procurando andar de uma forma correta, você recebera o perdão não dos grandes lideres religiosos e também dos grandes ativistas e sim do unico que tem poder pra salvar e transformar a sua vida, o nosso cristo que vive.
    Porem entendo que o quanto antes que agente conseguir criar uma consciencia que precisamos andar em outros caminhos, as benção de Deus, chegara na sua vida, aonde a infermidade não haverá mais, aonde a destruição em algumas área da sua vida, havera restauração.
    Porem pra que isso possa ocorrer você tem que viver em obediencia a palavra de cristo e somente a palavra dele.

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  6. se investe mais em templos grandes com televisões de plasma do que em missões, isso é fato.
    falta humildade aos pastores, cada um se considera melhor do que o outro.

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  7. Acredito que texto é plenamente pertinente. Sendo o foco Jesus Cristo, deve ser feito o evengelismo de qualquer maneira ???

    O prório Senhor Jesus fez suas ações baseado em momentos e não em planos ???

    Esse papo de "trazer do mundo" forma para dentro da igreja é chavão de todo crente que acha que tudo do mundo não presta e está "contaminado" pelo pecado.

    Aqueles que acham que a igreja não precisa de "estruturas inteligentes", recomendo que leiam o livro sobre o exercito de salavção.

    Algumas perguntas são básicas para tudo na vida e são :
    A) O que ?

    B) Para quem ?

    C) Como ?

    D) Quando ?

    Se transferir tudo para o evengelho não será do mesmo modo ?

    Se Cristo veio para salvar o homem, como este homem será alcançado ? Todos os homens são culturalmente e intelectualmente iguais ? Estão todos no mesmo lugar ? Entenderão a mensagem dita de qualquer forma ?

    Ora faça-me o favor ! Inteligência sempre !

    E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada.
    Tiago 1:5

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  8. Só posso pensar, ao ler essas verdadeiras "pérolas", que tenho razão: com a queda do capitalismo, a crentalha cairá junto! Sim, impossível separar protestantismo de capitalismo, o que fica evidente pelo artigo!
    Como católico, só posso esperar que o capitalismo caia, e minha Igreja, que já resistiu ao império Romano, feudalismo, comunismos.... continuará, pois tem a promessa de Cristo "as forças do inferno não prevalecerão contra ela". E com relação a esses que até apontam datas para a suposta potência mundial, orem muito para que Mamon mantenha o capitalismo vivo, caso contrário vocês ruirão com ele!

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  9. Que expressão sem sentido: "igreja brasileira" ou " a igreja evangélica brasileira". Isso não existe, uma vez que falta unidade e uniformidade, principalmente nas igrejas pentecostais e neopentecostais. Sejamos mais realistas, ou os problemas não serão resolvidos.

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  10. OH Johnny, para com isso. Vc pode ser pesquisador, mas defender que todos nos evang. somos uma mesma coisas. Sua críticas são as provas de que há algo de muito errado. Tentar salvar alguma coisa de tudo??!! Estamos sim diante de um novo evangelho. O que vc quer a igrj. católica já faz( e nada sem maria). Caio Fábio já fez e tomou chumbo do PT...
    Na paz.
    H.

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  11. A potencia que Deus quer que sua Igreja se transforme é tornar os homens semelhantes a Jesus.Qualquer coisa diferente disso é politica rasteira de satanás.

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